Brasil e EUA buscam acordos bilaterais

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O governo dos Estados Unidos quer encontrar "meios concretos" para ampliar a relação comercial e econômica com o Brasil, como um acordo de investimentos, disse ao Valor o assessor adjunto para Segurança Nacional dos Estados Unidos, Michael Froman, um dos integrantes do governo americano mais próximos do presidente Barack Obama. Froman e a secretária interina de Comércio dos EUA, Rebbeca Blank ouviram ontem do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, uma proposta para buscar acordos bilaterais que possam ser discutidos sem necessidade de aprovação dos membros do Mercosul, em temas como serviços, investimentos, transportes e tributos.

Os EUA, já dispostos a aprofundar as relações comerciais e de investimento com o Brasil, estão em conversas avançadas para cooperação no setor de energia, inclusive nuclear, disse Froman. O governo americano quer discutir com o Brasil novas tecnologias de exploração de gás de xisto voltadas à sustentabilidade ambiental, aproveitando a experiência do país com esse combustível que provocou uma "revolução" no setor de energia, barateando custos e promovendo o ressurgimento da indústria.

Froman é cotado para ser o representante comercial da Casa Branca (embora já tenha recusado um posto na área, por preferir suas funções na Casa Branca, com maior amplitude de ação e maior proximidade ao presidente). Mesmo mostrando forte interesse do governo americano, não deixou de criticar, em entrevista exclusiva ao Valor, as medidas tomadas recentemente pelo governo brasileiro em sua política industrial, como a elevação de tarifas para cem produtos e a criação de exigências de conteúdo local para investimentos no país.

"Respeitamos muito o desejo do Brasil de ter um setor industrial vibrante, nós também temos nosso setor industrial e uma política industrial dirigida a esse objetivo, mas há várias maneiras de promover a industrialização", disse o assessor de Obama. "Há uma boa discussão a ser feita se protecionismo e exigências de produção local encorajam ou desencorajam uma indústria globalmente competitiva." Froman defendeu o modelo adotado pela Embraer, com esforços tecnológicos que incluem apoio do MIT, um dos mais prestigiados institutos tecnológicos dos EUA e instalações fora do país, em cooperação com companhias americanas. "Esse modo de cooperação da Embraer, com o setor acadêmico, setor privado e abertura, me impressiona como um modelo muito bom."

Ele lamentou, como protecionistas, as medidas de elevação de tarifas e restrições a investimento, que, na sua avaliação, contrariam os compromissos assumidos pelos países com as economias mais influentes do mundo, reunidos no G-20. Durante conversa com a secretária Rebbeca Blank, Pimentel argumentou que o Brasil não busca um modelo de substituição de importações como nos anos 50, mas a produção local de bens de alto conteúdo tecnológico. O ministro do Desenvolvimento defendeu, porém, um esforço para "acelerar" negociações em torno de acordos de investimento, serviços, tributos e transportes.

A proposta de Pimentel reflete a crescente preocupação, no setor privado brasileiro e em algumas áreas de governo, com a exclusão do Brasil nas grandes negociações de comércio iniciadas recentemente, à margem da organização Mundial do Comércio (OMC). O ministro brasileiro afirmou aos americanos que o Brasil está disposto a encorajar os sócios no Mercosul a manter uma "negociação madura" de liberalização comercial com os EUA.

"Devemos explorar todas as possibilidades de avanços bilaterais enquanto nos preparamos", disse à secretária Blank. Após uma reunião, à tarde, Pimentel e Blank participaram de outro encontro de trabalho, no Palácio do Planalto, com Froman e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

A proposta de avançar em negociações bilaterais foi recebida com aprovação e cautela pelas autoridades americanas. Os EUA, lembrou o assessor de Obama, além de terem lançado negociações de livre comércio com a União Europeia e países do Pacífico ("que somarão 65% do Produto Interno Bruto e do comércio mundiais"), estão engajados em três grandes frentes de negociação: um acordo plurilateral de serviços, com 46 países, em Genebra, que representam 70% do mercado global de serviços; um acordo para estender o alcance do atual tratado de liberalização em tecnologia de informação; e um tratado multilateral para "facilitação de comércio" (remoção de obstáculos burocráticos ao trânsito de mercadorias).

O Brasil participa apenas da última delas e todas podem ser oportunidades de ampliar a relação bilateral, comentou Froman. "Estamos de mente aberta e à espera de sugestões do lado brasileiro sobre o que querem fazer", disse o conselheiro econômico de Obama. O tema acaba de ser incluído na agenda bilateral, comentou ele.



Veículo: Valor Econômico


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