Pé no freio, maior programação das compras, menos idas aos pontos de venda e preferência por adquirir produtos mais sofisticados, quando se decide gastar – principalmente nas classes D e E. A conclusão é do estudo Consumer Insights 2012, da Kantar Worldpanel, que aponta que esse comportamento do consumidor brasileiro no ano passado, que deve se repetir nos primeiros meses de 2013, foi o responsável por desacelerar os índices de consumo no País – os mesmos que vinham puxando o crescimento da economia desde 2009, e que fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) fechar o ano muito abaixo das expectativas.
Segundo o estudo, incentivos do governo para ampliar o consumo, como a redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em automóveis, materiais de construção e eletrodomésticos, além do corte das taxas de juros, resultaram em mais endividamento das famílias. Com isso, apesar de o valor investido na compra de bens de consumo não-duráveis (alimentos, bebidas, higiene e beleza) ter crescido 12%, em número de unidades foi registrada queda de 1%. "O consumidor passou a controlar mais suas compras a optar por embalagens maiores e mais econômicas para suprir a casa. Com isso, precisou ir menos ao ponto de venda, e obviamente comprou menos", diz a executiva de marketing da Kantar, Carolina Andrade.
Outro dado que mostra essa mudança de comportamento é a migração de formatos de varejo: à procura de preços melhores, o valor gasto em compras no atacado cresceu 26%, modelo que se tornou uma opção de compra para 12,4 milhões de brasileiros.
Nesse cenário, as classes D e E foram as que mais colaboraram para o crescimento tímido do consumo em 2012. Ambas mostraram maior fôlego para consumir, com alta de 3% no número de unidades, e 9% no valor dos produtos. Já as classes A, B e C puxaram para baixo o número de itens adquiridos (recuo de 4%), e gastaram de forma mais tímida: alta no valor de 5% e 4%, respectivamente.
Segundo Carolina, as classes D e E sustentaram o consumo e a renda pelo acesso ao cartão de crédito, usado em 1,3 milhão de lares para fazer compras – percentagem que aumentou 44% em 2012, ante 39% em 2011. "Esse brasileiro acabou se planejando mais para comprar, e incluiu produtos mais sofisticados que incorporaram maior valor à sua cesta, como detergente líquido para roupas ou bolos prontos. São consumidores que provocaram uma concorrência direto no bolso e que passaram a ser superdisputados pelo varejo."
Bolso – Ao contrário de anos anteriores, onde historicamente o consumo acelera no último trimestre devido às festas de fim de ano, em 2012 houve aumento da qualidade em detrimento da quantidade. De acordo com o estudo, o valor desembolsado cresceu 11% nas classes D e E no último trimestre do ano – o que mostra o interesse dos estratos mais populares em incluir produtos de maior valor agregado para o carrinho. "Foi uma compra mais qualificada. A expectativa é que essa desaceleração (da quantidade) se mantenha, pelo menos nos primeiros meses de 2013. Isso pode não ser bom para o varejo, mas o comportamento desse consumidor, mais consciente do seu bolso, deve continuar", diz Carolina.
Veículo: Diário do Comércio - SP