Emprego em alta pressiona a inflação

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Para corrente de analistas, mesmo que economia cresça muito pouco ou nada, pressão inflacionária do mercado de trabalho será mantida



Para uma importante corrente de analistas, a economia brasileira teria de crescer muito pouco, ou mesmo ficar parada, em 2013 para atenuar as pressões inflacionárias derivadas do mercado de trabalho aquecido.

Segundo projeção de Fernando de Holanda Barbosa Filho e Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, no Rio (FGV-Rio), se o PIB brasileiro crescer apenas 1% em 2013, a taxa de desemprego permanecerá na baixa recorde de 5,5% (média mensal de 2012 da desocupação nas principais regiões metropolitanas, livre de variações sazonais).

Para o economista José Márcio Camargo, da gestora de recursos Opus, a atual situação do emprego é "altamente inflacionária", porque leva a um crescimento de 8% a 10% dos salários ao ano, acima da inflação. "Sem aumentar a taxa de desemprego, será difícil manter a inflação sob controle num prazo mais longo - a inflação vai se acelerar lentamente", ele diz.

Camargo acrescenta que "qualquer crescimento (do PIB) acima de 1% vai manter o mercado de trabalho aquecido, e, para provocar um aumento na taxa de desemprego, a economia terá de ter crescimento próximo de zero ou negativo". Ele nota que a população economicamente ativa está crescendo pouco, a produtividade não está crescendo e a economia está se expandindo com base no setor de serviços, que emprega mais mão de obra.

Segundo seus cálculos, se forem eliminadas todas as desonerações tributárias e outras medidas para controlar preços, como a defasagem dos combustíveis e a redução das contas de luz, a inflação anual estaria por volta de 7,4%, bem acima do teto do limite de tolerância do sistema de metas, de 6,5%. Para muitos economistas, aquelas medidas sobre preços reduzem o índice de inflação apenas momentaneamente, mas não atacam as pressões inflacionárias de fundo.

Hoje, uma boa parte dos analistas prevê que o Banco Central (BC) elevará a Selic, a taxa básica de juros, em algo como 1 a 1,5 ponto porcentual este ano (ela está em 7,25%). Mas, para conter a inflação derivada do mercado de trabalho aquecido (que afeta principalmente o setor de serviços, protegido da competição internacional), vários economistas acham que a alta da Selic teria de ser muito maior.

Camargo, por exemplo, acha que a Selic teria de subir de 3 a 3,5 pontos porcentuais para que um moderado aumento do desemprego amenizasse a pressão inflacionária. O economista e consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, considera que a Selic teria de ir a 11% ou 12% (aumento de 3,75% a 4,75%) para que a inflação convergisse para o centro da meta, de 4,5%.

Essas grandes altas dos juros, porém, são descartadas unanimemente, já que seriam o equivalente a uma forte freada na economia e no emprego que provavelmente se faria sentir principalmente em 2014, ano de eleição presidencial.

Diversos analistas, como Camargo e Schwartsman, já vêm alertando há um bom tempo que a estranha combinação brasileira de baixo crescimento e inflação em alta se deve a "problemas de oferta". O BC só adotou esse diagnóstico em dezembro do ano passado. Basicamente, aqueles entraves consistem num mercado de trabalho em que caiu muito a oferta de novos trabalhadores, por questões demográficas, o que faz com que eles sejam em número inferior ao das vagas criadas, mesmo com a economia rodando a ritmo lento.

O economista Naercio Menezes, do Insper, em São Paulo, fez há alguns anos um estudo sobre a oferta e a demanda de trabalho no Brasil, com projeções para o período de 2006 a 2015. O estudo foi baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e no PIB dos Estados.

Segundo as projeções de Menezes (com o coautor Luiz Guilherme Scorzafave, da USP), mesmo que a economia brasileira cresça apenas uma média de 2,5% no período, a demanda por trabalhadores será de 134 milhões em 2015. Já a oferta, por questões demográficas, fica em apenas 105,7 milhões na mesma data. Essas projeções não levam em consideração que os salários subirão para acomodar a oferta à demanda, que é exatamente o que está acontecendo hoje. Sem a alta de salários, o crescimento de 2,5% levaria a desemprego zero já em 2014.


No Caged, há sinais de possível arrefecimento


Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú, acha que um crescimento de 3% já é suficiente para absorver a mão de obra disponível na economia - acima disso, a pressão inflacionária aumentaria. "Mas, se crescer só 1%, o desemprego começa a cair", diz.

O fato de que a economia brasileira tenha crescido só 0,9% em 2012 e a taxa de desemprego (nas principais regiões metropolitanas) tenha caído para a baixa recorde de 5,5% é apontado por analistas como uma das indicações de que, mesmo com o PIB em marcha lenta, o mercado de trabalho brasileiro permanecerá aquecido.

Goldfajn, porém, faz duas qualificações a essa análise. Em primeiro lugar, ele nota que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que registra empregos formais em todo o País e costuma antecipar a tendência da taxa de desemprego, mostrou clara desaceleração em 2012. Com 1,3 milhão de empregos líquidos criados, foi o pior resultado desde 2008, com exceção de 2009, ano da crise global, quando o total foi apenas ligeiramente menor que 2012.

O outro fator é a chamada "retenção de trabalhadores": as empresas, apostando numa retomada, evitam demissões mesmo com a economia lenta.

Goldfajn acha que o governo devia combinar a alta da Selic com medidas restritivas como não depreciar o câmbio, conter o crédito público e evitar estímulos ao consumo, para refrear o mercado de trabalho.

Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, "a resistência inflacionária brasileira tem sua origem básica em custos salariais incomprimíveis que não foram acompanhados integralmente por aumento da produtividade".

Ele considera que os governos recentes "foram vítimas do próprio sucesso", com enormes aumentos salariais, que ajudam o consumo e os negócios, mas correspondem a uma "brutal mudança de padrão que veio para ficar por um longo ciclo".

Barros considera "ingenuidade achar que só se combaterá a inflação quando o mercado de trabalho se deteriorar, o que só teria sentido se o aquecimento tivesse a ver com os fatores clássicos ligados à atividade, e não, como na realidade, com a demografia". Ele vê chances de alguma melhora na inflação de serviços e de alimentos.

O economista acrescenta que, em média, a oferta de mão de obra cresce 1,52% ao ano desde 2004, e a demanda se expande a uma taxa de 2,34%. / F.D.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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