Governo corre para evitar o estouro da meta anual de 6,5% de alta no IPCA e prepara um novo pacote de corte do PIS/Cofins do óleo diesel
O governo já conseguiu cortar pelo menos 0,40 ponto porcentual da inflação deste ano, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Economistas criticam a adoção de medidas apenas pontuais, mas a equipe econômica corre contra o tempo para evitar o estouro do teto da meta de inflação, de 6,5%. Na taxa acumulada em 12 meses, o estouro pode ocorrer já neste mês.
Os cálculos do Ibre/FGV levam em consideração apenas as medidas cujos efeitos serão sentidos ainda no primeiro semestre: a volta gradual do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os bens duráveis, o aumento nos combustíveis aquém do necessário para a recomposição do caixa da Petrobrás, o corte na tarifa de energia elétrica e a desoneração de itens da cesta básica.
Mas o arsenal ainda não se esgotou. Outro 0,20 ponto porcentual poderia ser evitado caso os prefeitos de São Paulo e Rio de Janeiro não concedessem aumento nas passagens de transportes coletivos. Como antecipou o Estado na sexta-feira, o governo estuda um novo pacote para conter o avanço de preços, como desonerar o PIS/Cofins sobre o óleo diesel, que reduziria os custos das empresas de transportes.
Nesse cenário, a economia total de 0,60 ponto porcentual no IPCA de 2013 já equivaleria, por exemplo, ao aumento de preços verificado no País durante todo o mês de fevereiro, quando a taxa registrada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,60%.
"O governo está atuando só nas consequências, mas não está atacando as causas da pressão da inflação", afirma Álvaro Bandeira, sócio da corretora Órama. "Estão só calibrando o IPCA para que não ultrapasse a meta".
Em São Paulo, as medidas tomadas até agora já conseguiram cortar boa parte da inflação, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) deve chegar a dezembro em 5%, mas, se não fosse a redução da energia e a desoneração da cesta básica, o indicador seria de 6,1% no fechamento de 2013.
"Essas medidas pontuais, no fundo, só têm efeitos duradouros nos setores relacionados a elas", analisa o professor de Economia da USP e coordenador da Fipe, Rafael Coutinho Costa e Lima. "As empresas elétricas tiveram suas receitas reduzidas e terão de conviver com a nova realidade. E a redução da cesta básica atingirá, de fato, a realidade das famílias mais pobres"
Safra maior e crise financeira explicam queda no atacado
As boas perspectivas para safra agrícola de grandes regiões produtoras e a persistência da crise internacional explicam a deflação internacional nos preços dos alimentos observada nos últimos meses. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), entre os alimentos que mais caíram de preço estão os cereais e o açúcar.
Desde outubro, o índice global de alimentos cai mês a mês e registra deflação de 2,6% no acumulado até fevereiro. Além da perspectiva positiva para a safra, outro fator que explica a queda global dos preços é a crise financeira, que desacelera o consumo nos principais mercados.
Veículo: O Estado de S.Paulo