Os governos do Brasil e da China assinaram ontem um memorando de entendimento entre os dois países. Segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o documento tem como objetivo estreitar ainda mais os laços entre as nações, na área financeira, econômica, comercial e mesmo aduaneira. O acordo foi firmado durante a reunião de ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na cidade de Durban, África do Sul.
Dentro deste memorando está o acordo bilateral de swap cambial entre o Banco Central do Brasil e Banco Popular da China no valor correspondente a US$ 30 bilhões, sendo R$ 60 bilhões e 190 bilhões de iuanes, válido por três anos e com possibilidade de prorrogação mediante acordo.
Segundo o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, "o objetivo da assinatura desse acordo é facilitar o comércio entre os dois países, independentemente de quais sejam as condições financeiras do ambiente internacional. A linha de trocas de moedas nacionais permitirá que o comércio entre os dois países se mantenha e se expanda ao longo dos próximos anos", disse.
Para o ministro da Fazenda, o acordo é um mecanismo de garantia que deve ser usado caso haja algum agravamento das condições financeiras internacionais. Mantega estimou ainda que essa linha "hoje representa oito meses de exportação do Brasil para a China, e dez meses de importação do Brasil da China. Uma linha suficientemente grande para fazer com que nossas operações comerciais funcionem de maneira normal, independentemente das condições prevalecentes no mercado internacional", colocou.
Para Charles Tang, presidente da Câmara Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), o acordo deve facilitar e baratear as trocas comerciais entre os países já que não será mais necessária a troca de dólares para as moedas locais. "A troca de moedas entre a China e diversos outros países é um esforço de internacionalizar sua moeda", completou.
O especialista em países asiáticos, Alexandre Uehara, diretor acadêmico das Faculdades Rio Branco, acredita que os dois países sairão beneficiados com esse acordo. "Mas pelo tamanho do comércio que o Brasil tem com a China, nós teremos mais ganhos", diz. Para ele, as operações comerciais serão facilitadas entre ambos, já que "quando há muita troca de moeda, grande parte se perde nessa transação para a instituição que participa desse processo [convergência do real para dólar, ou da moeda norte-americana para iuane]", disse.
"Esse acordo deve trazer mais conforto para os importadores e exportadores chineses ou brasileiros principalmente em momentos de crise internacional, pois, desde 2008, muitos operadores do comércio exterior sofrem com a falta de acesso a crédito para seus negócios", avalia, ao acrescentar, porém, que o comércio exterior entre Brasil e China não deve ser ampliado com este acordo.
O ministro da fazenda deixou claro que o estreitamento de relações vai além dessa linha de moedas para o comércio exterior. "Para nós tem havido uma aproximação com a China em várias frentes de trabalho, nós temos trabalhado junto com os BRICS e individualmente com a China, hoje a China é o maior parceiro comercial que o Brasil tem e nós podemos expandir essa parceria para outras áreas, por exemplo, na área de infraestrutura na qual nós agora vamos dedicar nossos esforços e ampliar nossos investimentos, estaremos abertos para que os chineses possam participar também desses investimentos em infraestrutura, energia, também na área de petróleo e gás enfim são vários setores onde pode ser encontrada uma sinergia de complementaridade entre os setores que podemos explorar", completou Mantega.
Taxa de câmbio
Sobre a desvalorização do iuane o presidente da CCIBC disse que a moeda não é "tão desvalorizada assim, a China pratica uma política cambial que é benéfica para a China assim como nós deveríamos aplicar isso", disse.
"A China não quer pagar as contas dos erros dos americanos, que manipulam uma moeda imprimindo sem lastro para poder estimular suas exportações e gerar empregos e para pagar suas dívidas gigantescas com moeda desvalorizada, a China para se proteger tenta acompanhar um pouco o dólar", disse.
Uehara coloca que esse acordo não deve ajudar a resolver o problema cambial da China que deve manter sua política de fixação da moeda. "O problema maior é nosso, que ainda contamos com um real, que por ser atrelado ao dólar, mostra mais volatilidade."
Veículo: DCI