Bancos calculam deficit de até US$ 90 bilhões neste ano, ante projeção do BC de US$ 67 bilhões
BNP Paribas estima que, com a saída de divisas, cotação do dólar pode subir para R$ 2,30 em 2014
A queda acelerada do saldo comercial, mais intensa que o esperado, levou especialistas a elevarem suas projeções para o deficit do país em suas transações com o resto do mundo.
Como mais deficit significa menos moeda forte à disposição, já se fala também em elevação da cotação do dólar --o que pode pressionar a inflação e comprometer a incipiente recuperação do crescimento econômico.
Na ponta mais pessimista do mercado, o banco BNP Paribas divulgou relatório no qual estima perda de US$ 90 bilhões neste ano e de US$ 100 bilhões no próximo nas relações de comércio e serviços do Brasil com o exterior.
Decorrente de despesas com importações, viagens internacionais, gastos com cartão de crédito internacional, pagamento de juros e remessas de lucros, essa saída de divisas elevaria o dólar para R$ 2,30 até 2014, estima-se.
"Olhar para as contas externas do Brasil nos dá uma sensação de angústia", diz o documento do BNP Paribas.
Ainda que a maioria dos analistas seja menos pessimista, a projeção do Banco Central de um deficit de US$ 67 bilhões tem cada vez menos credibilidade.
O Bradesco elevou sua projeção de US$ 66 bilhões para US$ 73,5 bilhões; o Safra, de US$ 72 bilhões para US$ 77 bilhões; a consultoria Rosenberg & Associados, de US$ 65 bilhões para US$ 70 bilhões.
Pelas explicações de economistas como Felipe Salto, da Tendências Consultoria, Andréa Damico, do Bradesco, e Carlos Kawall, do Safra, o Brasil vive uma queda de suas exportações não reversível a curto prazo.
Tradicionalmente são as vendas de mercadorias para o exterior que seguram as contas externas do país, deficitárias nas demais modalidades. O saldo comercial, no entanto, está desabando.
"As quantidades exportadas vêm se reduzindo e a recuperação dos preços para os principais produtos da pauta [de exportação] não veio", diz Salto. Os motivos, diz Kawall, são as barreiras da Argentina a produtos brasileiros e a freada da economia global.
A expansão do deficit torna o país mais dependente de capital externo, ou seja, de empréstimos, aplicações financeiras ou investimentos de empresas multinacionais.
Como o BC tem cerca de US$ 400 bilhões em reservas, não há risco visível de insolvência, mas o dólar fica mais escasso. Salto diz que um câmbio de US$ 2,40 comprometeria o crescimento do país.
Veículo: Folha de S.Paulo