Os resultados da produção industrial de março colocaram em dúvida o crescimento esperado pelos economistas para o Produto Interno bruto (PIB) do primeiro trimestre, ao mesmo tempo em que reforçaram a expectativa de um aumento na taxa de investimento nesse período.
Oscilante e pouco vigoroso, o desempenho da indústria no primeiro trimestre indica que a recuperação do setor será mais lenta do que o imaginado de início. É o que aponta Rodrigo Nishida, analista da LCA Consultores. "Em janeiro a produção subiu, em fevereiro caiu, agora em março voltou a subir um pouco. O resultado é um pouco frustrante e confirma que o cenário de recuperação é frágil e lento", disse Nishida.
Mesmo com essa decepção, o avanço de 0,8% da produção industrial no primeiro trimestre, em relação ao quarto trimestre de 2012 já descontados os efeitos sazonais, segundo Nishida, não é "pequeno". "Em termos anualizados, seria algo entre 3% e 3,5%", diz, em referência à projeção matemática que considera que o mesmo crescimento se repetiria nos próximos trimestres. O grande destaque ficou por conta do segmento de bens de capital, que teve forte crescimento e reforça as apostas de aumento dos investimentos neste ano. A produção de bens de capitais subiu 9,8% no trimestre, a única, ao lado de bens duráveis (1%), que teve variação positiva no período.
"A formação bruta de capital fixo é verificada pela produção de máquinas e equipamentos, pela produção de insumos na indústria e pelas importações e exportações de máquinas. Esse conjunto até aqui indica que o crescimento será entre 4% e 5% no trimestre", disse Fábio Ramos, analista da Quest Investimentos, em referência ao crescimento em relação ao último trimestre do ano passado. "É um número muito forte. O investimento representa cerca de 20% do PIB, então, crescendo 4%, só ele colaboraria com 0,8 ponto percentual."
Para Ramos, o resultado morno da indústria vai exigir uma revisão das perspectivas do mercado para o PIB tanto do trimestre quanto do ano. "Antes, era certo que o PIB poderia crescer em uma banda de 3% a 3,5% em 2013, e que cresceria facilmente acima de 1% no primeiro trimestre", disse o economista da Quest. "Agora, com o resultado da indústria, essa expectativa deve se corrigir um pouco. A previsão para o ano deverá ser mais próxima dos 3%, ou até abaixo, e para o trimestre é razoável falar de um crescimento de 0,7% a 1%", disse.
Após a divulgação da produção industrial de março, a Rosenberg & Associados, manteve, a expectativa de um crescimento de 0,8% do PIB no primeiro trimestre do ano com relação ao quarto trimestre de 2012, e vai aguardar os dados de comércio e o indicador de atividade econômica do Banco Central, para confirmar ou alterar essa projeção.
Para o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, o resultado leva a uma projeção de PIB mais fraca para o primeiro trimestre, o que, na previsão do banco, deverá girar em torno de 1%. "O resultado da produção industrial surpreendeu novamente de forma negativa em março, com recuo da produção de bens de consumo semi e não duráveis mais forte do que esperávamos", informou Octavio de Barros, diretor de pesquisas do Depec, em comunicado ao mercado. "Para frente, as sondagens e os indicadores já conhecidos para abril têm sugerido ritmo de crescimento mais moderado no início do segundo trimestre. Isso reforça nossa expectativa de leve desaceleração do PIB no período em relação ao primeiro trimestre", continuou.
A difícil retomada da economia já tinha de certa forma aparecido em alguns dados divulgados pelo governo ao longo da semana. De acordo com a Receita Federal, a arrecadação caiu 9,32% em março e 0,48% no ano em relação ao primeiro trimestre de 2012. Além disso, na segunda-feira, o Tesouro Nacional mostrou que o governo central (Tesouro, Previdência e BC) teve o menor superávit para meses de março desde 2010 (R$ 285,7 milhões). Segundo o secretário Arno Augustin, o desempenho da receita em 2013 tem sido afetado por desonerações e pela fraca atividade econômica. A mesma avaliação foi feita pelo chefe do departamento econômico do Banco Central, Tulio Maciel, ao comentar a nota de política fiscal do BC do primeiro trimestre.
Nas entrevistas para explicar os dados do trimestre, tanto Augustin quanto Tulio Maciel declararam otimismo em relação aos resultados do governo a partir de abril. O segundo trimestre é um período em que as contas geralmente melhoram, mas ao menos do lado da atividade este não é um tiro certo. Os indicadores de confiança de abril divulgados pela Fundação Getulio Vargas vieram todos negativos: em serviços ela caiu 1,8%, enquanto no comércio, recuou 2,9%, e na indústria, 0,8%.
O HSBC informou que PMI industrial do Brasil caiu - pelo terceiro mês consecutivo - ficando em 50,8 pontos em abril, abaixo dos 51,8 em março, com menor demanda de exportação. Nesta semana, a Confederação Nacional do Comércio reduziu sua estimativa de crescimento do setor de 6,5% para 5,0% em 2013 por causa da queda no ritmo de expansão nas vendas.
Veículo: Valor Econômico