Depois do tombo de 2,5% entre janeiro e fevereiro, economistas calculam que a indústria voltou a crescer em março, mas afirmam que a variação positiva ainda não deve marcar o início de uma trajetória de recuperação mais consistente do setor. Segundo a média de 15 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, a produção industrial avançou 1,3% na passagem mensal, feito o ajuste sazonal.
O intervalo de estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) referente ao terceiro mês do ano, a ser divulgada hoje pelo IBGE, vai de 0,5% a 1,9%. Os analistas apontam, no entanto, que a alta mensal, mais uma vez, parece não ter sido disseminada e, olhando para frente, dados de abril seriam um primeiro sinal de que o crescimento não se sustentou.
Alessandra Ribeiro, da Tendências, observa que os principais indicadores usados para estimar o desempenho industrial subiram em março, com destaque para o setor automotivo. Entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, a produção de veículos medida pela Anfavea (entidade que reúne as montadoras) saltou 39,2% ante fevereiro, dado que, dessazonalizado pela consultoria, resultou em alta de 3,3%. Também cresceram o fluxo pedagiado de veículos pesados (0,5%), a expedição de papelão ondulado (1,1%) e o consumo de energia (1%), sempre com o ajuste sazonal feito por Alessandra.
Se confirmada sua expectativa de avanço de 1,6% da indústria no terceiro mês do ano, a economista calcula que o setor terá crescido 1% no primeiro trimestre sobre o período imediatamente anterior. Ela ressalta, porém, que boa parte dessa reação foi concentrada nos bens de capital, enquanto outras categorias importantes, como a de intermediários, continuam "apanhando". "De um lado, os condicionantes do consumo estão mais fracos e a demanda está desacelerando. De outro, temos dados de investimento. É difícil fazer uma análise", afirmou.
Para Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, o principal determinante da alta de 1,3% esperada para a indústria em março foi o setor de veículos, que segue com números voláteis de produção e vendas como reflexo das "intervenções do governo". Zerada até dezembro, a alíquota do IPI para carros populares subiu para 2% em janeiro e iria voltar a 7% depois de junho, mas será mantida no nível atual até o fim de 2013, assim como o imposto menor, de 7% a 8%, para automóveis acima de mil a 2 mil cilindradas.
Na opinião da economista do ABC, esse tipo de incentivo surte efeito somente sobre o consumo e, por isso, não foi suficiente para que a indústria entrasse em uma trajetória mais sustentável de recuperação, espalhada por outros setores. "Não houve nenhuma mudança estrutural que incentivasse de forma saudável o lado da oferta. A indústria tem capacidade de aumentar a produção nesses setores específicos reagindo à demanda, mas é algo muito localizado", diz.
Mariana ainda aponta que os investimentos em capital fixo estão reagindo como reflexo das reduções dos juros de linhas de financiamento do BNDES, mas, em sua avaliação, o setor privado não tirou muitos projetos da gaveta e a indústria ainda não sente necessidade de elevar sua capacidade produtiva. Assim, diz, não é possível prever uma rota mais consolidada de crescimento para a atividade industrial nos próximos meses.
Em abril, de acordo com os analistas consultados, os poucos antecedentes já conhecidos referentes ao período apontam que a indústria colocou o pé no freio. Medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), a confiança dos empresários recuou 0,8% sobre março, com avaliações piores sobre a situação atual e perspectivas menos otimistas para os próximos meses. Com base nesse indicador, a expectativa preliminar para abril é de uma produção industrial "zerada", diz Alessandra, da Tendências.
Divulgado ontem pelo HSBC, o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria brasileira cedeu de 51,8 pontos em março para 50,8 pontos no mês passado.
Veículo: Valor Econômico