Apoiada principalmente no segmento de bens de capital, a indústria de transformação confirmou perspectivas de recuperação na abertura do ano e deve ter crescido entre 0,8% e 1% sobre o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, mas os primeiros dados do setor referentes a abril indicam que essa reação segue lenta e irá perder força no segundo trimestre. A avaliação é de Aloisio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV). Após queda de 1,5% entre fevereiro e março, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) calculado pela fundação cedeu 0,8% em abril, para 104,2 pontos, ficando abaixo da média histórica recente de 104,4 pontos pela primeira vez desde agosto passado.
Apesar de a retração ter sido mais fraca do que a observada no mês passado, Campelo destacou que a piora foi mais espalhada em abril, já que dez dos 14 gêneros industriais pesquisados - 70% do total - ficaram menos confiantes, enquanto um registrou estabilidade e os outros três elevaram seu otimismo. "O resultado de abril é bem claro, mas na prática sinaliza uma desaceleração, e não uma queda", disse.
Segundo o economista, a percepção geral do empresariado segue próxima de um nível neutro, embora haja divergências entre os setores, com aumento expressivo na percepção de situação de negócios entre os produtores de bens de capital, perspectivas mais modestas do setor de bens duráveis após a forte antecipação de consumo provocada pelo IPI reduzido e fraqueza dos bens intermediários, com baixo nível de confiança e pouco uso da capacidade produtiva.
Na passagem mensal, o recuo geral na confiança foi puxado tanto por avaliações mais fracas em relação à conjuntura atual como por uma piora das expectativas em um horizonte mais longo, que se mantêm em terreno positivo, mas menos otimista. O Índice de Situação Atual (ISA) diminuiu 0,7%, para 103,5 pontos, puxado principalmente por recuo de 5,5% no nível de demanda externa. O percentual de empresas que considera o consumo global fraco subiu de 10,8% em março para 17,7% em abril, maior nível desde abril de 2011.
Para Campelo, a economia internacional ainda está "indo devagar", com forte desaceleração dos EUA no primeiro semestre, "sérios problemas" na Europa e perda de fôlego também na China e América Latina, importantes mercados para os manufaturados brasileiros.
A avaliação dos empresários sobre o ritmo doméstico de consumo também arrefeceu. O indicador referente à demanda interna recuou 1,1% entre março e abril, para 102,9 pontos, com alta de 9,1% para 12,8% na fatia de empresas que classificam esse quesito como fraco. Na opinião do superintendente, há uma insatisfação com o ritmo de atividade interno, que poderia estar mais forte e assim sustentar vendas maiores, mas as empresas consultadas também apontam margens de lucro apertadas devido principalmente aos custos com mão de obra.
O campo das expectativas, por sua vez, segue revelando otimismo das empresas quanto sua situação nos próximos meses, mas esses dados já foram mais favoráveis, ressaltou Campelo. De março para abril, o Índice de Expectativas (IE) diminuiu 0,9%, para 104,9 pontos, mas ainda permaneceu mais de um ponto acima da média histórica dos últimos cinco anos. "Ainda temos um estoque de otimismo no médio prazo. Estamos falando de 53% de empresas que acreditam que a situação deve melhorar nos próximos seis meses", observou o economista da FGV.
Entre os três componentes do índice de expectativas, o de produção prevista para os próximos três meses foi o único que subiu na passagem mensal, de 128,4 para 129,3 pontos. Campelo ponderou, no entanto, que esse indicador sinaliza um trimestre um pouco mais fraco que o anterior em termos de produção, já que a média dos primeiros três meses do ano estava girando acima de 130 pontos.
Veículo: Valor Econômico