Com queda de 0,12% em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPA) reflete a intensificação na redução dos preços de diversos grãos e alimentos no atacado e foi a principal influência para um IGP-M abaixo das expectativas no mês (0,15%). "O IPA antecipa coisas que o consumidor verá em breve. Temos produtos importantes que vinham em queda e, neste mês, tiveram recuo ainda mais forte", disse André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para Braz, os preços ao consumidor devem arrefecer nas próximas leituras dos IGPs, mas ao longo do ano outras pressões devem substituir os alimentos - como as passagens de ônibus -, fazendo com que o indicador se mantenha na faixa de 6% em 12 meses.
Entre os destaques dos preços no atacado, estão o milho e a soja, que caíram, respectivamente, 10,21% e 5,49% em abril. Principais componentes para diversas rações, o milho e a soja também colaboram para uma redução nos preços das aves, que foram de queda de 1,18% em março para recuo de 8,84%. Esses movimentos ajudaram a compensar elevações importantes, como a do minério de ferro, que passou de alta de 5,88% para 8,33%, e fizeram com que o grupo de matérias-primas brutas acentuasse a queda de 0,78%, em março, para 1,20% em abril.
Outra influência forte para a desaceleração do IPA e do IGP-M como um todo foram os bens finais, que incluem alimentos in natura e, na média, passaram de alta de 1% para 0,86%. Braz ressalta que essa desaceleração não é generalizada, mas sim o resultado de preços em queda em itens de peso, ao lado de outros com influência menor, mas que estão em alta.
São os alimentos também, liderados pelos in natura, os principais vilões nos preços do varejo, verificados pelo IPC, o índice de preços ao consumidor que compõe o IGP-M. O IPC-M passou de variação de 0,72% em março para 0,60% em abril, com os preços de alimentos também desacelerando, mas ainda em patamar alto - de 1,37% para 1,26%.
"O que está puxando a alta agora são, principalmente, os produtos in natura, o que de certa forma é uma boa notícia, porque eles tendem a devolver esses ganhos depois", disse Braz. A previsão é de menos pressão em produtos domésticos, como tomate e batata, tanto no atacado quanto no varejo, a partir do próximo mês.
A redução da pressão de um lado, no entanto, não significa um IGP-M muito mais baixo nos próximos meses. Braz acredita que a tendência é que o índice ande de lado. "Há itens que indicam que irão desacelerar, enquanto há outros que indicam que irão subir. É como uma dança das cadeiras."
Em junho, por exemplo, quando a produção in natura tende a aumentar e os preços caem, devem pressionar a inflação para cima os reajustes nas tarifas de ônibus em algumas cidades, como São Paulo, que foram adiados no começo do ano a pedido do governo federal, para não puxar os índices de preços para cima.
Para o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que participou ontem de evento na BM&F Bovespa, em São Paulo, a entrada da safra agrícola, e a não ocorrência de choques, deve levar a inflação para baixo neste segundo trimestre e durante o resto do ano. Segundo ele, IPCA encerrará 2013 com alta entre 5% e 5,5%.
O secretário acredita que os choques que elevaram o índice oficial de inflação desde meados do ano passado começam a ser revertidos. A partir do segundo semestre, a desaceleração do IPCA deve ficar mais clara, disse.
"Trabalhamos para que a inflação convirja para o centro da meta num prazo adequado", disse Barbosa. "A inflação é uma variável importante, que nos preocupa".
Quanto ao cenário atual, de baixo crescimento e aumento da inflação, o secretário-executivo da Fazenda disse que a previsão do governo é de um avanço da economia, de cerca de 3,5% neste ano, com desaceleração dos preços.
"Não há contradição entre acelerar crescimento e prever inflação para baixo em 2013", afirmou.
Veículo: Valor Econômico