Alta das importações era esperada, mas queda de 4,2% nas vendas para o exterior surpreendeu
Segundo técnicos que acompanham os dados de comércio exterior, o saldo positivo para este ano está 'em xeque'
Com o resultado negativo recorde da balança comercial em abril, especialistas já consideram a possibilidade de deficit no ano. Seria a primeira vez, desde o ano 2000, que as importações superariam, em valor, as exportações.
Dentro do próprio governo, o superavit é considerado incerto, apurou a Folha. Segundo técnicos que acompanham os dados de comércio exterior, o saldo positivo está "em xeque".
No mês passado, a conta ficou no vermelho em US$ 1 bilhão, levando o país a acumular um deficit recorde também para o quadrimestre, de US$ 6,2 bilhões. A série histórica do Ministério do Desenvolvimento, que divulgou os dados ontem, começa em 1993.
Desde 2001, o país não registrava resultados negativos no primeiro quadrimestre.
Parte do resultado negativo era prevista pelo governo, que considerava desde janeiro a possibilidade de deficit nos primeiros meses de 2013.
Isso porque o país começou o ano com estoque de US$ 4,5 bilhões em importações feitas pela Petrobras em 2012 e cujo valor só começou a ser registrado em 2013.
Sabia-se que as importações iriam subir. Mas não estava nos cálculos uma queda de 4,2% nas exportações.
Com queda da demanda global e produção menos robusta da Petrobras, a venda de petróleo caiu 54%, derrubando o desempenho dos produtos básicos, que garantem o saldo comercial.
Do lado dos industrializados, em que o Brasil sofre problemas de competitividade, houve queda significativa nas vendas de óleos combustíveis (-39%) e de aviões (-35%).
Os números acenderam o sinal amarelo de analistas.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil afirma que terá de revisar para baixo suas estimativas para o ano e que não descarta a possbilidade de deficit. A previsão atual é de saldo de US$ 14,5 bilhões, o que já representaria queda de 25% ante os US$ 19,4 bilhões de 2013.
A estimativa da Confederação Nacional da Indústria, de US$ 11,3 bilhões, também passará por revisão.
PREOCUPAÇÃO
A deterioração da balança preocupa por seu efeito nas contas externas. Em fevereiro, o Banco Central elevou a projeção de deficit externo do país, para US$ 67 bilhões, pela expectativa de ganhos menores com o saldo comercial.
O aumento do deficit nas transações com o exterior (que, além do comércio, inclui serviços, como viagens e lucros) torna o país mais dependente de investimentos e empréstimos estrangeiros e, portanto, mais vulnerável a turbulências externas.
Veículo: Folha de S.Paulo