Para a Metalplan, indústria de bens de capital, a desoneração de folha de pagamento, uma das medidas do governo federal para reduzir custo de produção, foi mais do que bem-vinda. Com a troca do pagamento da contribuição previdenciária de 20% sobre folha pelo pagamento de 1,5% do faturamento, a empresa reduziu pelo menos 3% de seu custo industrial.
O incentivo para aquisição de máquinas com financiamento mais barato e facilitado via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), outra medida do governo, também beneficiou a empresa. No ano passado a Metalplan dobrou o valor de venda por meio do cartão BNDES. Atualmente, informa, cerca de 30% do faturamento vem por meio de vendas efetivadas com o cartão ou o Finame, linha de crédito do banco específica para compra de máquinas.
As medidas adotadas pelo governo nos últimos meses não favoreceram apenas as indústrias. A desoneração de folha, por exemplo, também beneficiou o setor de serviços, entre eles o hoteleiro. Alberto Grau, diretor de hotelaria da GJP Hotels e Resorts conta que a desoneração da folha trouxe redução de 50% do valor devido de contribuição previdenciária, levando em consideração o período de agosto de 2012, quando o benefício passou a valer, até março de 2013, em relação a igual período do ano anterior.
A redução da tarifa de energia elétrica, que passou a vigorar em fevereiro, também deve contribuir para reduzir custos, mas a rede ainda não fez os cálculos. Grau informa, porém, que a despesa estava em expansão. A média histórica desse custo é de 6% a 7% da receita, diz o executivo, e no ano passado já havia atingido os 10%.
Apesar do alívio resultante das medidas adotadas pelo governo, a pressão de custos sobre as empresas persiste. O caminho para condições de competitividade mais isonômicas e que permitam colher ganhos de produtividade mais expressivos, dizem, ainda é longo e depende de mudanças mais estruturais.
A Metalplan, por exemplo, fechou 2012 com faturamento nominal menor que o do ano anterior, uma situação que só havia sido registrada antes em 1992, diz Edgard Dutra, diretor da empresa. A queda de 5% nominais, porém, teria sido maior sem as medidas do governo, avalia. "A empresa conseguiu manter os preços sem reajuste, apesar da pressão de custos, como de salários".
Com a contenção no preço, a empresa manteve a capacidade de concorrer no mercado. Com mais fôlego e animado com o desempenho dos primeiros meses de 2013, Dutra planeja fechar este ano com ganho de 20% de faturamento em relação a 2012. O horizonte num prazo mais distante, diz, parece promissor, mas depende do aumento de competitividade.
Os resultados das medidas do governo federal não se restringiram à Metalplan. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que a política de redução da taxa de juros evitou que os custos das indústrias crescessem com maior intensidade. Na média anual, houve queda de 24,8% no custo de capital de giro de 2011 para o ano passado. O custo tributário, um dos grandes problemas estruturais apontados pelas empresas para a competitividade, ainda subiu 5,6% em relação ao ano anterior, apesar de ter apresentado queda no quarto trimestre do ano passado.
Mesmo com as medidas do governo, porém, o custo industrial calculado pela CNI indica alta de 6,3% de 2011 para 2012, elevação maior que os 5,8% registrados no ano anterior. Os preços praticados pela indústria subiram menos, com alta de 4,9%. Segundo o economista Renato da Fonseca, da CNI, isso significa que a indústria não conseguiu repassar o aumento de custo para o preço e apertou a margem de lucro.
As empresas tiveram que encolher os ganhos mesmo com o efeito favorável do câmbio no decorrer de 2012. Fonseca explica que o real mais valorizado elevava, em dólar, a despesa com mão de obra e energia elétrica, por exemplo, o que tirava a competitividade do produto brasileiro na concorrência com o importado ou no mercado internacional. A desvalorização do real durante o ano passado, entretanto, diz Fonseca, deu à produção doméstica maior competitividade. Os preços em reais dos manufaturados importados tiveram elevação de 16,9%, variação que supera em 10 pontos percentuais o aumento de 6,3% dos custos industriais no Brasil.
As taxas de desemprego, porém, mantiveram a pressão sobre o custo da mão de obra em alguns segmentos. Entre 2006 e o ano passado, a taxa de desemprego passou de 10% para 5,5%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na rede de hotéis GJP, os custos de pessoal ainda são altos e continuam em elevação. O valor da folha de pessoal, incluindo salários, encargos e benefícios, cresceu 32,9% entre 2011 e 2012, levando em consideração a rede já existente em 2011. O crescimento deve-se à elevação do quadro de pessoal e ao aumento dos benefícios.
O baixo nível de desemprego, diz Grau, gerou aumento de rotatividade em algumas unidades e pressão sobre os salários. Paralelamente, o setor enfrenta cada vez mais o problema da qualificação da mão de obra. A melhora da educação, explica, reduziria os gastos de qualificação e treinamento de pessoal e aumentaria a produtividade.
A melhoria da educação é uma das mudanças estruturais consideradas essenciais pelas empresas. Há uma percepção de que as medidas do governo para reduzir custos foram positivas, mas é preciso adotar simultaneamente políticas que também façam diferença num prazo mais longo.
Além da melhoria da educação e, consequentemente, da qualificação da mão de obra, Dutra, da Metalplan, aponta a necessidade de inovação como forma de elevar a competitividade brasileira. Segundo ele, os mecanismos atuais são burocráticos e desestimulam as empresas menores a investir. "O financiamento para inovação no Brasil demanda pagamento em dois ou quatro anos". O investimento em inovação, argumenta, precisa de mais tempo porque muitas vezes a nova tecnologia, além do tempo e de recursos para ser desenvolvida, ainda precisa formar um mercado. Para ele são necessários dez ou vinte anos.
O aparente esgotamento de alguns mecanismos emergenciais que deram fôlego para as empresas no ano passado também faz as empresas olharem para um período mais longo à frente. A desvalorização do real, que ajudou no ganho de competitividade das empresas, diz Fonseca, da CNI, "já acabou". Para ele, é preciso intensificar ações que reduzam custos de produção da indústria e custos sistêmicos da economia brasileira.
O economista exemplifica alguns, como carga tributária, infraestrutura logística, regulação ambiental, qualificação de mão de obra e melhora do resultado fiscal do governo por meio da redução de gastos. A melhora da infraestrutura, avalia Fonseca, depende, porém, além de uma taxa de juros baixa, da retomada de confiança na demanda doméstica e na existência de regras claras para dar segurança ao investidor.
Fonseca lembra que, apesar da desvalorização da moeda nacional em 2012, o real ainda está valorizado frente ao dólar. A melhora dos demais fatores de competitividade, porém, dará importância relativa e mais marginal ao câmbio.
Veículo: Valor Econômico