Economia dá sinais de desequilíbrio

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Da balança comercial às contas públicas, da produção industrial à inflação e o crescimento econômico, os números divulgados nos últimos dias indicam que economia brasileira deve crescer pouco este ano

Os números divulgados nos últimos dias mostram que há algo de errado na economia brasileira. Apareceram sinais de desequilíbrio em indicadores distintos, da balança comercial às contas públicas, da produção industrial à inflação e o crescimento econômico.

O quadro revelado pelos índices oficiais indica que a economia crescerá pouco este ano. Bancos e consultorias já falam em avanço menor que os 3% esperados até pouco tempo atrás. A inflação gira acima do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5% ao ano. E há um rombo recorde nas contas externas, com um déficit de US$ 24,9 bilhões no trimestre, com avanço de importações e fraco desempenho das exportações.

Para os críticos do governo, os desequilíbrios indicam que a economia brasileira está numa trajetória delicada. O problema principal seria a combinação de aquecimento do consumo, forte alta dos salários e dos custos das indústrias e perda de competitividade da economia. É necessário, dizem eles, um forte ajuste para evitar que a inflação, importações e déficit externo continuem subindo. A brecada tem data: viria logo depois das eleições presidenciais de 2014.

Em Brasília, o discurso é diferente. Autoridades dizem que ao baixar os juros e desvalorizar o câmbio, em 2012, foi criada uma nova "matriz econômica". Com os cortes de impostos sobre a folha de pagamentos e a redução na conta de luz, as medidas trarão maior competitividade, reduzindo o déficit externo, elevando investimentos e contendo a inflação. É só uma questão de tempo, dizem eles.

O debate sobre a necessidade de mudanças está ficando mais forte. "Grande parte do problema da inflação é que o mercado de trabalho está apertado e caro. A deterioração da balança comercial e a conta corrente é resultado da falta de competitividade", diz Tony Volpon, diretor da Nomura Securities.

Levantamento da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) mostrou que a fatia dos importados no consumo de produtos industriais atingiu 23,5% em 2012. Foi a maior participação da série histórica, iniciada em 2003, quando era de 12,5%. Do jeito que está a economia, dizem os críticos, se o Brasil crescer mais rápido, o rombo externo e a inflação disparam.
Salário Dinheiro Câmbio (Foto: Reprodução)Salário Dinheiro Câmbio (Foto: Reprodução)

Câmbio

Do lado desenvolvimentista, a solução apontada para resolver os desequilíbrios da economia é baixar o custo da produção por meio de uma desvalorização do real. "Se de um lado você tem pleno emprego, do outro lado a indústria vai mal. E as vendas do varejo no mercado interno deixaram de crescer com a força que cresciam antes", afirma Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor da FGV e ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. "Estamos num quadro difícil, especialmente porque a solução mais importante é a do câmbio, mas ela não é de curto prazo."

Para os ortodoxos, não será possível baixar a inflação e melhorar a competitividade das empresas e da economia sem esfriar o mercado de trabalho. Os críticos do governo também acham que Brasília deve moderar os gastos públicos, para evitar excesso de demanda.

Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria, diz que as medidas expansionistas para reanimar a economia, com o consequente afrouxamento do controle das contas públicas, acabam prejudicando a entrada de investimento estrangeiro. "Essas medidas acabam gerando maior incerteza, afastando recursos do País. E criam um problema de financiamento nas contas externas."

Os investimentos diretos já não são suficientes para cobrir o déficit das contas externas. O Brasil terá de se financiar cada vez mais com dinheiro mais arisco, que entra e sai rápido do País. Para os críticos, o principal problema está na estratégia adotada pelo governo, de privilegiar mais o lado da demanda (consumo) do que o da oferta e da produção.

"O governo não tem tomado medidas que atendam o lado da oferta e expandam a capacidade produtiva", afirma Salto. "Não se investe de maneira eficiente em educação e em infraestrutura. Isso explica o fato de o Brasil estar crescendo pouco com uma inflação bem acima do centro da meta." Na visão dele, um país com os preços pressionados e que cresce pouco está reduzindo as possibilidades de crescimento potencial.

O fato é que os desequilíbrios mostram que o governo tem de fazer ajustes. Os caminhos apontados pelos economistas consultados pelo Estado vão desde a desvalorização cambial, melhoria do investimento e até a necessidade de provocar uma folga no mercado de trabalho. Eles questionam é quando os ajustes serão adotadas por causa da eleição de 2014.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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