A retomada da economia ganhou ritmo no primeiro trimestre deste ano, afirmam economistas, mas os sinais são de que essa velocidade de crescimento não se sustentará no segundo trimestre. Além disso, as variações mensais dos principais indicadores econômicos também seguem sob forte oscilação. Após queda de 0,5% entre janeiro e fevereiro, feito o ajuste sazonal, a média de 12 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta para alta de 1,0% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) na medição seguinte. As estimativas para o indicador, que procura reproduzir o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e será divulgado hoje pela autoridade monetária, variam entre alta de 0,4% a avanço de 1,6% no período.
José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, avalia que o resultado do comércio em março indica variação um pouco mais forte da atividade econômica no período. Lima Gonçalves projetava queda de 0,7% das vendas no varejo restrito (que não considera o desempenho do comércio de veículos e material de construção) entre fevereiro e março, recuo mais acentuado do que a retração de 0,1% divulgada ontem. Em função desse resultado, Lima Gonçalves elevou ligeiramente sua estimativa de alta do IBC-Br para o período, de 1,2% para 1,3%.
As vendas no varejo também surpreenderam positivamente o Itaú, que estimava crescimento de 2,3% do comércio no conceito ampliado (que inclui automóveis e material de construção), na comparação com março do ano passado. O aumento, no entanto, foi de 3%. Ainda assim, afirmou em nota o economista Aurélio Bicalho, o banco preferiu manter inalterada a projeção de crescimento de 1% do índice calculado pelo BC entre fevereiro e março. "Estes dados estão em linha com a nossa expectativa de crescimento mais elevado da economia no primeiro trimestre, de alta de 1,0% para o PIB, acelerando em relação ao aumento de 0,6% no quarto trimestre".
Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, manteve projeção de alta de 1,5% para o IBC-Br entre fevereiro e março, mas não se mostra muito animada com o prognóstico para a atividade. A consultoria já projetava estabilidade das vendas no varejo na passagem mensal e a indústria, embora em recuperação, continua avançando lentamente. Após queda de 2,6% em fevereiro, a produção do setor aumentou 0,7% em março, sempre em relação ao mês imediatamente anterior, o que frustrou economistas, que antecipavam alta maior no período.
Em função desse resultado, Alessandra já havia revisado sua estimativa de crescimento da economia. Ela projeta alta de 0,8% do PIB no primeiro trimestre, resultado que, se confirmado, pode levá-la a diminuir a expectativa de expansão de 3% do país neste ano. Alessandra espera boa performance para os investimentos no período, que devem saltar 5,9% no primeiro trimestre, bastante incentivados por questões pontuais, como a recuperação da produção de caminhões. O setor externo, no entanto, "roubou" um importante pedaço do crescimento entre janeiro e março, por causa do aumento das importações e da queda das exportações, e impediu que o PIB avançasse mais forte, avalia.
A média dos 11 economistas consultados pelo Valor Data é de avanço de 0,9% do PIB entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro deste ano, com ajuste.
Já Lima Gonçalves, do Fator, afirma que o país pode ter crescido em torno de 1,2% entre janeiro e março, em relação aos últimos três meses do ano anterior, feitos os ajustes sazonais. É um número mais forte do que o esperado após a divulgação da produção industrial, mas o economista ressalva que o setor de serviços ainda é um ponto de dúvida, porque os indicadores disponíveis, como criação de emprego e confiança do setor, sugerem que o segmento perdeu força nos últimos meses. No entanto, Lima Gonçalves não acredita que este ritmo de crescimento se sustentará. "Amanhã podemos ficar mais felizes, mas daqui a dois meses é provável que a percepção seja outra", afirma.
Igor Velecico, economista do Bradesco, faz avaliação semelhante em relação ao segundo trimestre. "As sondagens de confiança todas estão para baixo e a produção de automóveis e caminhões sobe mais do que as vendas, o que significa que haverá algum ajuste pra baixo em breve da produção". Velecico projeta avanço de 1% do produto doméstico no primeiro trimestre e de 0,7% entre abril e junho.
Para o economista, ainda que se materialize essa alta da economia no primeiro trimestre, é possível que o resultado reacenda o debate em torno do potencial de crescimento do país. Velecico explica que o mercado precificou que, sob fortes estímulos monetários e fiscais, por exemplo, a economia conseguiria crescer em torno de 1,5%. "O que estará se revelando como verdade, caso o PIB seja de 1,0%, será de que a velocidade máxima é de 1,0%". O problema é que a partir dessa premissa tende-se a repensar qual é a capacidade de expansão do país em "velocidade de cruzeiro". Antes, pensava-se que esse ritmo estaria em torno de 0,8% por trimestre. "Mas há chance relevante de os analistas discutirem 0,6% de PIB como velocidade 'normal'. A diferença para 0,8% parece pouca, mas anualizada é a distância entre PIB de 2,5% e 3,2%".
Veículo: Valor Econômico