Tom mais enfático de Alexandre Tombini e ampliação de gastos do governo indicam alta mais forte da Selic
Negócios no mercado de juros futuros ontem já apontavam para elevação da taxa para 8% na semana que vem
As apostas de que o Banco Central poderá acelerar o ritmo de aumento de juros cresceram nos últimos dias.
Sinais de que o governo está mais preocupado com a inflação têm levado o mercado a aumentar as fichas na aposta de que a Selic subirá 0,5 ponto percentual, para 8%.
Até poucos dias atrás, prevalecia a expectativa de que o Copom (Comitê de Política Monetária) elevaria a taxa básica em 0,25 ponto percentual na semana que vem, repetindo o ajuste feito em abril.
Ontem, o nível da taxa de juros refletido em contratos negociados no mercado futuro indicava mais de 80% de chance de um aumento da Selic de 0,5 ponto percentual.
O Itaú Unibanco revisou a projeção de alta da Selic de 0,25 para 0,5 ponto percentual. "Temos notado uma vontade maior do Banco Central de combater a inflação, uma preocupação maior", diz Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco.
A corretora Votorantim também elevou sua projeção de aumento da Selic, de 0,25 para 0,50 ponto percentual.
A mudança foi motivada pelo discurso duro do presidente do BC, Alexandre Tombini, na semana passada.
"Tombini foi enfático ao dizer que o BC agiria tempestivamente [para fazer a inflação recuar]. E, observando o cenário, faz sentido que haja essa mudança [na dosagem de alta dos juros]", diz Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim.
Segundo ele, está cada vez mais claro que a política fiscal (gastos do governo para incentivar a economia) vai continuar em expansão, exigindo mais aperto da política monetária do BC.
Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo, observa que existe a perspectiva de uma retomada mais favorável da economia dos EUA, o que provoca o fortalecimento do dólar e o fim do excesso de estímulos.
Com isso, a alta dos juros no Brasil é também estratégica para a atração de recursos.
No Brasil, as estimativas sobre o crescimento são mistas. Analistas ouvidos pela pesquisa semanal Focus já esperam um crescimento abaixo de 3% neste ano.
A projeção de expansão do (Produto Interno Bruto) recuou levemente na última semana, de 3% para 2,98%.
O movimento, resposta ao resultado abaixo do esperado na prévia do PIB feita pelo BC, na semana passada, contrasta com perspectivas de retorno do investimento neste início de ano.
Para Goldfajn, do Itaú Unibanco, o crescimento neste ano deverá ser de 2,8%. Segundo ele, a dúvida é saber se o movimento positivo dos investimentos neste início de ano continuará, apesar da confiança ainda baixa dos empresários.
Veículo: Folha de S.Paulo