Combinação entre inflação alta e perda de dinamismo do mercado de trabalho - com renda crescendo menos - são explicações apontadas por economistas para a estagnação das vendas do comércio varejista em maio. Em junho, o resultado ainda deve ser ruim, piorado pelas manifestações, que esvaziaram as compras e fizeram muitos lojistas baixar as portas. Mas uma inflação menos pressionada promete resultados um pouco melhores para o varejo a partir do segundo semestre.
Segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do varejo em maio ficou estável em relação a abril. Uma queda só não ocorreu por causa do desempenho do setor de super e hipermercados, que registrou aumento de 1,9% e puxou o total para cima, depois de três meses de preços em alta e vendas em queda. O varejo ampliado, que inclui a cadeia automotiva e de materiais de construção, caiu 0,8% na passagem de abril para maio, com ajuste sazonal.
"Há setores que já começam a mostrar um alívio depois de uma inflação mais alta", disse Thaís Zara, economista-chefe da consultoria Rosenberg & Associados. "A inadimplência também está caindo, o que pode ajudar o crédito e, com um isso, o segundo semestre pode trazer alguma melhora para o comércio." Para se ter uma ideia, a inflação mensal, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), passou de 0,55% em abril para 0,37% em maio, com os alimentos desacelerando de 0,96% para 0,31%. A melhora se refletiu imediatamente nas vendas.
"Antes, a inflação estava alta, mas o impacto era amortecido pelo mercado de trabalho, que respondia melhor com a renda crescendo mais e a taxa de desocupação caindo com mais intensidade", disse Aleciana Gusmão, técnica da coordenação de serviços e comércio do IBGE. "Agora a alta dos preços está internalizada nas famílias, que apresentam mudança no hábito de consumo para minimizarem o impacto dos preços mais altos", afirmou a especialista.
Mariana Oliveira, economista da Tendências Consultoria, concorda que o segundo semestre deve trazer taxas um pouco mais positivas, com "alguma melhora na confiança do consumidor, do mercado de trabalho e, principalmente, da inflação." Ainda assim, a projeção da consultoria para o ano é relativamente baixa, de crescimento de 3,1% no volume de vendas, "o mais fraco desde 2003, quando houve queda", lembra.
Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, destaca a base de apoio que o PIB perde com um comércio mais fraco. "A produção industrial está fraca, o mercado de trabalho parado e, neste quadro, o comércio e os serviços, que são quase 60% do PIB, mostram que não devem mais ajudar tanto", disse. A previsão do ABC Brasil para o PIB deste ano é de 2,5%, "mas com viés de baixa".
Mais pessimista que os demais, Mariana enxerga uma trajetória clara de desaceleração e não vê muitos fatores que apontem para uma reversão: "No início do ano, se imaginava que o comércio cresceria e puxaria a indústria, mas não foi o que aconteceu. O comércio sofreu com uma freada no consumo e agora parece parado, depois de uma série de anos superpositivos."
Veículo: Valor Econômico