Em fase de transição à espera do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para concluir a venda da Seara Brasil para JBS, a Marfrig amargou um prejuízo líquido de R$ 419,9 milhões no segundo trimestre, ante o lucro de R$ 15,4 milhões do mesmo intervalo do ano passado. O resultado é um reflexo direto da valorização do dólar sobre as dívidas em moeda estrangeira da companhia, o que "contamina" o balanço da empresa ainda que não tenha efeito sobre o caixa.
No segundo trimestre, a variação cambial não caixa teve um peso negativo de R$ 427,5 milhões sobre o resultado da Marfrig. Na prática, a empresa não desembolsa esses recursos, que só seriam pagos nos vencimentos de cada dívida.
A maior parte desse efeito, no entanto, está relacionado à Seara Brasil, unidade de aves, suínos e alimentos processados que será transferida para JBS após a aprovação Cade. Caso a unidade já fosse controlada pela concorrente, o prejuízo líquido da Marfrig teria sido de R$ 159,9 milhões.
No balanço divulgado ontem, a Marfrig já desconsiderou as operações da Seara Brasil e da uruguaia Zenda, vendidas para a JBS. Pelas regras contábeis, esses ativos aparecem no item "operações descontinuadas". A expectativa da Marfrig é que o Cade aprove a venda da Seara em setembro. A Zenda já foi transferida para a JBS.
No segundo trimestre, a Marfrig sem a Seara Brasil, ou seja, as chamadas "operações continuadas", teve receita líquida de R$ 4,455 bilhões, crescimento de 9,4% ante os R$ 4,071 bilhões apurados no segundo trimestre de 2012. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da Marfrig no trimestre foi de R$ 739,7 milhões, alta de 3,5% sobre os R$ 714 milhões registrados no mesmo intervalo do ano passado.
A melhor estrutura de capital oriunda da venda da Seara e da Zenda já apareceu no balanço da Marfrig. Como "forma de sinal", a JBS já incorporou cerca de R$ 2,8 bilhões do total de R$ 5,85 bilhões que concordou em assumir em dívidas para fechar a aquisição, explicou o principal executivo e futuro CEO da Marfrig, Sergio Rial.
Com isso, a Marfrig conseguiu reduzir sua dívida líquida dos R$ 9,8 bilhões do fim do primeiro trimestre para R$ 8,7 bilhões em 30 de junho, cumprindo parte da promessa que Rial fez na última divulgação de resultados, de reduzir em R$ 2 bilhões o endividamento líquido em 2013.
Além da redução do passivo, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da empresa também caiu, passando de 4,4 vezes em 31 de março para 3,8 vezes no fim do segundo trimestre. Com a transferência dos R$ 3 bilhões restantes em dívidas para a JBS, a previsão dos executivos da Marfrig é que o índice caia para cerca de 3 vezes.
Em entrevista sobre os resultados da empresa ontem, Rial descartou a possibilidade de a BRF atrapalhar a venda da Seara Brasil, que detém os ativos - dez fábricas, oito centros de distribuição e uma série de marcas - que a Marfrig havia comprado da BRF em 2012.
Segundo ele, o acordo firmado com a BRF não traz limitações legais para a venda. A única limitação prevista no contrato seria a venda de uma marca isoladamente, disse ele. "Não poderíamos vender uma marca como a Doriana para qualquer um. Mas não estamos vendendo uma marca. Vendemos a empresa toda", acrescentou.
De forma incisiva, o executivo ressaltou que a BRF não precisava ser "consultada" sobre a operação de venda para a JBS. "Nós compramos e pagamos por esses ativos", disse. "Quando você compra um apartamento, pode vender para alguém que o vizinho não gosta", ironizou.
Operacionalmente, Rial disse que a queda da margem bruta da divisão de bovinos, de 21,6% para 15,1%, decorre de dificuldades enfrentadas na Argentina, onde a empresa fechou duas unidades, e no Uruguai, onde os preços do boi subiram.
Veículo: Valor Econômico