Proteção cambial deixa redes imunes à escalada do dólar

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A alta do dólar, que ontem fechou cotado a R$ 2,39, não impactará as importações do varejo neste segundo semestre. Empresários do setor estão ancorados em contratos de compra de dólar futuro (hedge), que protegem contra a alta do câmbio, e muitos fizeram a compra de produtos importados com antecipação de até um ano, negociando a moeda em patamares entre R$ 2,20 e R$ 2,25, bem inferiores ao atual.

Segundo o presidente da Rede Brasil Supermercados, Antonio José Monte - operação responsável pelo processo de importação de mais de 10 bandeiras do setor -, a elevação já era esperada . "A alta da moeda norte-americana já era esperada, inclusive demorou para acontecer", disse o executivo ao DCI.

Para não sofrer com a ruptura no ponto de venda (falta de produtos), a Rede Brasil faz a antecipação das compras e realiza uma operação de hedge, que o executivo chama de trava cambial. Com isso, os produtos importados que abasteceram todo o grupo foram comprados com o câmbio a R$ 2,25. "Fechamos o câmbio de forma antecipada. Após a trava cambial, estamos pagando à vista todas as importações feitas para o segundo semestre", explicou ele.

Com as essas medidas, Monte afirmou que não houve a necessidade de reduzir os estoques para as vendas de final de ano na comparação com 2012 e que o valor dos produtos não sofrerá reajustes. "Com a antecedência, conseguimos ter os produtos com o mesmo preço para o consumidor. Temos estoques suficientes para não faltar nada", argumentou Monte. Além disso, o principal termômetro ao setor é o comportamento do seu cliente. "Se esse consumidor entender que os produtos importados poderão ficar muito mais caros, alguns artigos, podem ser substituídos, outros não, como o azeite de oliva e o vinh, por exemplo, pois ele já está acostumado", explicou.

O executivo evidenciou também que, com o câmbio flutuante, não se pode dispensar a procura por novos fornecedores. "Se o dólar ultrapassar o patamar de R$ 2,70, com certeza o fornecedor local passará a ser mais atrativo. Mas há outros mercados externos que podemos utilizar", disse.

Quem também acredita que o impacto do câmbio virá de médio a longo prazo é o Grupo Muffato."Por enquanto nós não fomos afetados, pois ainda temos grande quantidade de produtos importados comprados antes dessa alta do dólar, o que garante a manutenção dos preços ao consumidor", afirmou o diretor do grupo, Everton Muffato.

Segundo o empresário, o planejamento feito em relação ao estoque de produtos importados contribui para um impacto menor pela alta do dólar. "Nosso setor de compras de importados trabalha com bastante antecedência, uma vez que há toda uma logística que envolve desde a negociação até a entrega", explicou ele. "Isso demanda tempo e por isso temos que nos adiantar. Para este ano, a maioria dos produtos importados já foi negociada antecipadamente."

No entanto, caso a atual situação cambial se prolongue por muito tempo ou mesmo piore, o setor deve buscar alternativas, conforme apontou Muffato. "Procuramos, na medida do possível, postergar ao máximo os reajustes. Para tanto, além de estoques abastecidos, buscamos alternativas para aqueles produtos no mercado nacional e no internacional. Contudo, é inegável que se a cotação do dólar continuar subindo, os reflexos serão sentidos em todo o varejo, que não conseguirá evitar o repasse por muito tempo."

Outros setores

Mesmo com a tendência de alta da moeda norte-americana, artigos importados compõem o faturamento de muitas redes de varejo. Juliano Ohta diretor de marketing e compras da Telhanorte, explicou anteriormente ao DCI, que a procura pelos produtos importados e de marca própria fizeram com que a rede ampliasse as importações. "Hoje representam de 4% a 5% do faturamento. O volume mais que dobrou do ano passado para cá", disse.

Ainda segundo Otha, as compras desses produtos ocorrem ao longo do ano, pois em sua grande maioria são artigos não sazonais, mas por vezes as negociações duram um ano. "Nesses casos fazemos uma operação de hedge para nos protegermos do câmbio".

Questionado sobre a continuidade da oscilação do dólar, o executivo afirmou que trocar a importação por uma indústria própria nacional seria a solução mais salutar. "O mais correto seria passar a usar os produtos nacionais." Para o diretor isso está sendo estruturado internamente na varejista, e não tem data certa para acontecer. "É cedo para dizer que faremos essa substituição para a produção daqui, mas se o dólar passar de R$ 4 vai ser necessário analisar mais essa hipótese".

Quem também pode vir a substituir seu fornecedor é a Riachuelo, conforme sinalizou anteriormente Flávio Rocha presidente da rede e do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). "Para a Riachuelo é válida a questão de optar por produtores nacionais. Elas conseguem promover mais agilidade na entrega".




Veículo: DCI


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