Alimentos batem à porta da inflação

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Mais uma vez, no final do ano, consumidor pode enfrentar escalada de preços com elevação do dólar e alta de custos no atacado

Nem bem os consumidores sentiram no bolso  a descompressão dos preços de alimentos, já devem se preparar para um novo ciclo de alta. Desde o final de 2012, quando uma quebra de safra nos Estados Unidos elevou as cotações de commodities agrícolas, o brasileiro tem se acostumado a pagar mais por leite, carnes e também pelo pãozinho. A redução desses preços não veio — como anunciou o governo durante todo o ano —, e agora, com a alta do dólar e novos problemas na safra norte americana, encher o carrinho do supermercado pode sair mais caro.

A inflação parecia dar uma trégua quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontou uma queda de preços de alimentos e bebidas de 0,33% em julho, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No entanto, 15 dias depois, no IPCA-15, a deflação desses itens já havia recuado para 0,09%. Em 12 meses, a alta acumulada está em 11,4%, acima da observada em janeiro deste ano, de 11,1%, durante o pico do efeito das commodities.

A soja, uma das principais matérias primas para a ração usada na criação de gado, já dá sinais de que está pressionada. No Paraná, informa a consultoria Safras e Mercados, esmagadoras já pagam R$65 por saca de soja, enquanto que em maio, pagavam R$ 57.

Isso porque previsões de que pode haver uma estiagem prolongada nos Estados Unidos mexeram com as cotações no mercado internacional.

O departamento de agricultura norte-americano impulsionou os preços ao cortar a projeção de safra em 4,5 milhões de toneladas
no último mês.

“Isso pressiona o preço do óleo, do farelo, da ração animal. A seca ainda não é uma realidade, mas já está elevando os preços aqui”, avalia Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras e Mercados.

Com a recente alta do dólar, produtores devem aumentar cada vez mais os preços de seus produtos. Com a demanda alta, muitos estão experimentando preços para saber até onde o mercado pode chegar.

 O efeito é semelhante ao que o varejo tem praticado contra os consumidores finais. Mesmo com a queda das commodities entre janeiro e junho, a redução não foi repassada, justamente, pelo alto patamar de consumo, explica Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio. “Como a variação na demanda por alimentos é muito pequena, o mercado demorou para repassar a redução de custos. Esse repasse só continuaria se as commotidies caíssem mais, mas agora há uma expectativa contrária”, diz.

O trigo, que no atacado está com uma inflação de 30%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), já impacta no preço do pãozinho. Isso porque, no último mês, o preço o trigo disparou 7%. Segundo o IPCA, a inflação do pão francês acumula 14% em 12 meses. No entanto, ela deve acelerar nos próximos meses, segundo a própria Associação Brasileira da Indústria da Panificação e Confeitaria (Abip). O dólar em alta, problemas nas exportações argentinas e geadas no Paraná elevarão o custo de padarias.

“Ajustes de preço do pão serão eventualmente feitos por cada padaria de acordo com sua planilha de custo. Entretanto, estão empenhadas em absorver e postergar os necessários ajustes de preços, por entender que a elevação de preços resulta em correspondente queda do consumo e provoca aumento da inflação”, afirma por meio de nota. Ela pede também a desoneração dos pães como forma de reduzir os preços.

Dúlio Mota, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria do Município do Rio de Janeiro (SIPC), diz que as padarias não devem repassar todo o aumento de custo que estão tendo. “Como os empresários têm pouca margem de negociação, se subirem muito o preço, perdem clientes”, argumenta.

O leite, por outro lado, deve dar um pouco de fôlego, avalia Rafael Ribeiro de Lima Filho, da Scot Consultoria. Segundo ele, a entressafra da produção está ficando para trás. “Já há perspectivas de virada no mercado para o próximo mês. Para setembro já prevemos uma estabilidade. Já na segunda quinzena de setembro e outubro o preço ao consumidor deve melhorar. Estamos no limite de preço.”

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) captou um aumento da produção já em julho, mas que ainda não se refletiu nos preços. Desde o início do ano, no mercado primário, o produto valorizou 18%. Segundo o IPCA, o consumidor está pagando 20% mais caro agora do que no final do ano de 2012.

A redução de preços, no entanto, só virá com a retração da demanda, que continua forte.

“Segundo relatos de atacadistas, o consumo segue firme mesmo com os valores mais elevados. Esses agentes alegam, no entanto, que não há mais espaço para grandes aumentos nos preços, visto que isso limitaria a demanda do consumidor final”, comenta o Cepea.



Veículo: Brasil Econômico


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