Copom eleva taxa de juros pela 4ª vez

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Em decisão unânime, Banco Central aumenta em 0,5 ponto a Selic, que chega a 9% ao ano. Medida era esperada pelo mercado e com ela rendimento da poupança volta a ser integral


Em mais um passo na cruzada para trazer a inflação para baixo, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) decidiu elevar ontem a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,5 ponto percentual. A partir de hoje, todos os empréstimos bancários e demais operações financeiras terão como parâmetro juros de 9% ao ano. Na prática, cada elevação da taxa significa o encarecimento do crédito para o consumidor, uma vez que, ao pagar mais caro para levantar o dinheiro no mercado, os bancos tendem a cobrar um prêmio maior para emprestar esses recursos aos clientes.

Além de encarecer o crédito, a elevação da taxa tem como objetivo esfriar a atividade econômica e, com isso, colocar freio à disparada do custo de vida. Nos últimos três anos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o parâmetro oficial para a inflação no Brasil, fechou sempre acima do centro da meta perseguida pelo governo, de 4,5% ao ano. Em 2013, não houve sequer um mês em que os preços tenham ficado abaixo de 6% ao ano, no acumulado dos últimos 12 meses.

Em meio à disparada dos preços, o BC alertou que a alta de juros anunciada ontem “contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”, disse a instituição, em comunicado divulgado instantes após ter anunciado a elevação da Selic de 8,5% para 9% ao ano. Com a alta dos juros, retorna também a rentabilidade antiga da caderneta de poupança. A partir de hoje, os depósitos feitos na caderneta deverão render pelo menos 0,5% ao mês (leia abaixo).

Esta foi a quarta elevação consecutiva da Selic no ano. Desde abril, a taxa já subiu de 7,25% ao ano, o menor patamar histórico, para 9%. Até o fim do ano novos aumentos são esperados. A aposta dos investidores é que o BC faça mais duas elevações na taxa, de 0,5 ponto cada, em outubro e novembro, nas duas últimas reuniões do ano do Copom. Com isso, a Selic iria a 10% ao ano. Os detalhes sobre o que levou o colegiado a tomar a decisão, amplamente esperada por analistas do mercado financeiro, serão explicados na quinta-feira da semana que vem, quando a ata da reunião será divulgada. A maior curiosidade dos agentes é em relação aos prognósticos do BC para a inflação e o dólar, que, desde o último Copom subiu 3,3% e fechou nesta quarta a R$ 2,346.

No bolso Segundo simulações da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac), o efeito da elevação de 0,5 ponto percentual (p.p) vai ser percebido principalmente nas operações com valores elevados (veja quadro). No caso da aquisição de um veículo novo por meio de CDC, por exemplo, o custo final pode subir em quase R$ 400.

Na avaliação do diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira Oliveira, a elevação da Selic terá pouco impacto nas taxas de juros das operações de crédito. A justificativa pode ser um deslocamento grande entre a taxa Selic e os juros cobrados dos consumidores, que, na média, chegam a 90,59% ao ano.

Ainda na avaliação de Oliveira, por conta da maior competição no sistema financeiro, depois de os bancos públicos reduzirem mais fortemente suas taxas de juros, bem como a expectativa de redução dos índices de inadimplência, é possível que algumas instituições financeiras mantenham suas taxas de juros como já ocorreu no mês passado.

Crédito caro Para o comércio mineiro, a inflação, a alta do dólar e o desaquecimento da economia despontam como ameaças às decisões do Banco Central e justificam a alta. Gabriel de Andrade Ivo, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), lembra que este semestre a tendência é de novo aumento na taxa, em torno de 0,5 ponto percentual, ou mais. “Apesar do cenário de baixo crescimento, são crescentes as chances de novos aumentos da Selic para controle inflacionário”, afirma.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Bruno Falci, lembra a importância da taxa como instrumento de controle da inflação, mas ressalta impactos como aumento do custo de crédito e uma maior dificuldade para consegui-lo, que reflete no comércio. “Para o setor de comércio e serviços ficará mais caro financiar aumentos de estoque, efetuar contratações temporárias e realizar investimentos”, garante.

O problema, de acordo com Falci, é ainda mais grave levando em consideração a proximidade do Natal, melhor data em vendas para o setor. “Para o consumidor, a elevação dos juros implica maior cautela. Ele, que estava se acostumando com uma oferta de crédito mais facilitada, terá que se organizar melhor para que possa manter seu padrão de consumo sem se endividar com os juros dos financiamentos”, lembra.

Nas fábricas Já a indústria mineira demonstra preocupação com os efeitos da medida para o setor. Para Olavo Machado Junior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a alteração na taxa acentua as dificuldades em expandir as vendas do setor internamente. “A economia brasileira tem acumulado uma série de fracassos, e o desempenho recente da indústria é um grande exemplo”, considera. “Enquanto continuarmos a promover políticas que desestimulem o crescimento, veremos nosso país minguar e perder espaço no mundo, como já está acontecendo”, reforça.



Veículo: Estado de Minas


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