Prévia do IPCA sobe, puxada por alimentos, preveem analistas

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Após quatro meses seguidos em queda, economistas avaliam que o repasse de aumentos observados no atacado e alguma transmissão da depreciação cambial devem elevar novamente os preços de alimentos no domicílio, movimento que, ao lado de pressões no grupo vestuário, vai acelerar a inflação na primeira quinzena de outubro. A média de 20 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) vai subir de 0,27% em setembro para 0,42% neste mês.

As projeções para o indicador, a ser divulgado hoje pelo IBGE, vão de 0,37% a 0,46%. Se confirmadas as expectativas, a inflação continuará perdendo fôlego em 12 meses, ao recuar de 5,93% na prévia de setembro para 5,69% em igual período de outubro. Um reajuste da gasolina a ser concedido ainda este ano, no entanto, deve colocar o IPCA anualizado de novo em rota de ascensão, segundo analistas.

No teto das estimativas, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, projeta que o IPCA-15 vai aumentar 0,46% em outubro, com aceleração de 0,04% para 0,56% na parte de alimentação e bebidas. Segundo Leal, os produtos in natura já mostram deflação menor em alguns itens e altas nas frutas, mas a principal influência positiva deve partir das carnes, que, em suas projeções, vão subir de 0,15% em setembro para 2%, em linha com a tendência já registrada nos índices ao produtor. "Os alimentos não vão trazer boas notícias para a inflação até o fim do ano", afirmou.

Com previsão de 0,40% para o IPCA-15, Elson Teles, do Itaú Unibanco, avalia que é difícil separar os impactos da desvalorização do câmbio e da sazonalidade sobre os preços dos alimentos, mas é fato que, por conta desses dois fatores, a parte de alimentação e bebidas deve aumentar por volta de 0,50% na prévia de outubro e chegar a patamares mais próximos de 1% no fechamento do mês. Para ele, esse grupo mostra comportamento um pouco mais desfavorável do que o padrão da época, devido à desvalorização do real.

Teles observa que, com o dólar mais caro, os frigoríficos passaram a destinar uma fatia maior da produção às exportações, o que pressiona os preços de carnes bovinas e aves no mercado doméstico. A depreciação cambial ocorrida ao longo do ano, de acordo com o economista, também vai continuar afetando os preços dos derivados de trigo, como panificados e massas. No IPCA fechado de setembro, os panificados saltaram 2,27%.

Segundo Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, os artigos de residência são outro grupo que deve refletir a alta do dólar com mais contundência daqui até o fim do ano. Entre o IPCA-15 de setembro e o de outubro, ela projeta que esses itens vão aumentar de 0,52% para 0,69%, com influência dos eletrodomésticos, cujos preços estão respondendo à recomposição parcial do Imposto para Produtos Industrializados (IPI) e, também, ao aquecimento da demanda provocado pelo Minha Casa Melhor, que financia móveis e eletrodomésticos a juros baixos para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida.

"Sem este programa, teríamos uma demanda um pouco mais contida para esses artigos, o que poderia limitar o repasse da alta do IPI e da depreciação cambial", diz Adriana. Ela também destaca a aceleração esperada para o grupo vestuário, que, em seus cálculos, vai passar de 0,37% para 0,82% entre a prévia anterior da inflação e a atual, com o fim das liquidações de inverno e a entrada das coleções de verão. No último trimestre, esse setor terá margem maior para seguir incorporando a desvalorização do real em seus preços, já que o aquecimento da demanda típico da época favorece reajustes.

Leal, do ABC, afirma que o avanço de R$ 2,20 para R$ 2,30 do dólar, já repassado aos preços do atacado, chegará ao varejo nos três meses finais do ano, mas a disparada para R$ 2,40 observada em agosto não representa risco adicional aos preços ao consumidor, dado que a moeda americana não permaneceu nesse nível. Em sua opinião, a revalorização recente do real diminuiu a defasagem entre os preços internos e externos dos combustíveis e, portanto, as chances de uma correção dos preços da gasolina nas refinarias. Sua projeção de alta de 5,7% do IPCA este ano não conta com correção dos combustíveis.

Para Teles, do Itaú, faz mais sentido o governo autorizar um reajuste da gasolina este ano, dado que a variação mais comportada dos alimentos no terceiro trimestre abriu espaço para que o IPCA acomode alta do combustível sem subir muito em relação aos 5,84% observados em 2012. Ele calcula que um reajuste de 6% nas refinarias irá adicionar 0,15 ponto percentual à inflação oficial deste ano, para a qual projeta avanço de 5,9%.



Veículo: Valor Econômico


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