Desempenho morno do varejo no Natal indica consumo moderado em 2014

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O comércio no Natal deste ano teve desempenho morno. Os dados preliminares indicam que o crescimento das vendas na semana anterior ao dia 25 ficou em torno de 2,5%, praticamente a metade do avanço observado no ano anterior, quando as vendas aumentaram pouco mais de 4%.

Dependendo da fonte da informação, este foi o pior desempenho desde 2003. Apesar do fraco crescimento das vendas no período, o resultado não surpreendeu, de acordo com os economistas ouvidos pelo Valor, já que restrições na concessão de crédito, alta de juros e confiança menor do consumidor indicavam desaceleração da demanda neste ano. No entanto, o desempenho reforça a perspectiva de que o consumo continuará a passar por um período de moderação em 2014, com crescimento mais próximo ao observado neste ano e longe da alta de 8% vista em 2012.

De acordo com a Serasa Experian, as vendas do comércio em todo o país entre os dias 18 e 24 de dezembro subiram 2,7%, na comparação com o mesmo período do ano anterior - o resultado mais fraco para o período desde 2003, quando o levantamento começou a ser realizado. No ano passado, as vendas subiram 5,1% em relação ao Natal anterior. O crescimento mais baixo até então havia sido observado em 2011, com aumento de 2,8% sobre o ano anterior.

Para Luiz Rabi, economista da Serasa, a expectativa era de um resultado mais fraco, já que ao longo do ano o ritmo de evolução das compras vinha caindo. No Dia das Crianças, por exemplo, as vendas aumentaram 3,1% em relação ao ano anterior, o que o economista considera uma boa prévia do desempenho no Natal. Como as perspectivas não eram animadoras, Rabi não acredita que o varejo tenha acumulado estoques na reta final do ano, mas avalia que este pode ser um problema, porque tende a impactar as encomendas para a indústria, que já vem de um segundo semestre mais fraco.

O Natal também foi mais fraco nos shopping centers. Segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), as vendas tiveram o menor crescimento dos últimos cinco anos, com expansão nominal de 5%, bem abaixo dos 10% a 11% projetados no começo do ano. O crescimento foi impulsionado pela abertura, durante este ano, de 38 centros de compras. "Desconsiderando os novos shoppings praticamente não houve expansão", disse Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.

No mesmo sentido, o indicador da Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), mostrou alta de 2,5% das vendas na semana anterior ao Natal. O resultado ficou abaixo do aumento de 4,1% observado no mesmo período de 2012 e levemente inferior às expectativas dos lojistas, que apostavam em alta de 3%.

Para Flávio Calife, economista da Boa Vista, a demanda já mostrava arrefecimento por causa da queda da confiança do consumidor. O encarecimento do crédito também inibiu as compras, avalia Rabi, da Serasa, para quem os consumidores têm preferido pagar dívidas em vez de contrair novos empréstimos.

Sahyoun, da Alshop, diz que as vendas foram afetadas por uma combinação de fatores como maior endividamento das famílias, alta do dólar e aumento do IPI. Diante de tais percalços, o gasto médio por compra caiu 10% e os setores mais afetados foram vestuário e calçados com alta nas vendas de 2% e 3%, respectivamente.

Para Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas no fim de ano foram puxadas por tablets, linhas mais modernas de televisores e celulares, que roubaram espaço dos brinquedos. A associação estima que as vendas de Natal subiram cerca de 2,5%, um pouco abaixo dos 3% projetados para o período, com base nos números coletados até 24 de dezembro. "Estamos fechando o ano mais timidamente do que imaginávamos, talvez sinalizando que o ritmo de expansão do ano que vem vai ficar mais próximo de 2,5% do que de 3%", diz. Na mesma direção, Calife, da Serasa, projeta alta de 3,5% das vendas, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, mesmo aumento projetado para 2013.

Se as comemorações no varejo físico foram contidas, o mesmo não se pode dizer das compras pela internet. O comércio eletrônico faturou R$ 4,3 bilhões no Natal, uma expansão nominal de 41% em relação a 2012 e acima dos 25% previstos inicialmente, indica a E-bit, especializada em informações do comércio eletrônico. Os dados consideram vendas feitas entre 15 de novembro e 24 de dezembro.

Segundo a E-bit, a chamada "Black Friday", promoção do varejo feita em 29 de novembro, contribuiu com os bons números. Na ocasião, o varejo online movimentou R$ 770 milhões - recorde de faturamento para um único dia. A avaliação é que os consumidores anteciparam as compras.



Veículo: Valor Econômico


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