Em trajetória de desaceleração nos três primeiros meses do ano, o comércio varejista já sente o fraco desempenho da economia. Dados da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as vendas do setor em março amargaram queda de 0,5% sobre os resultados de fevereiro.
Na comparação com o mesmo período do ano passado, a retração é ainda mais evidente. Em baixa de 1,1%, o varejo registrou o segundo pior março desde o início da série histórica em 2002. Apesar da queda nas vendas, a receita nominal do varejo cresceu 0,5% em março ante fevereiro e 4,7% na comparação anual - um sinal do aumento nos preços no período.
"Na medida em que as variáveis econômicas e as políticas governamentais vão se comportando diferente e um pouco aquém do que aconteceu em 2013, é natural que o comércio reflita isso", avalia a pesquisadora Aleciana Gusmão, uma das responsáveis pelo levantamento. "Houve arrefecimento da atividade (econômica). Quando a economia não se comporta de uma forma tão boa, isso tem reflexo no consumo".
O ciclo de alta nos juros, iniciada em abril de 2013, dificulta o acesso ao crédito e restringe o consumo, na avaliação dos pesquisadores. O segmento interfere diretamente sobre a série do Varejo Ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, que teve queda de 5,7% em relação ao último ano.
"A queda de confiança do consumidor e a inflação vão colaborar para que as vendas do comércio ampliado fiquem pouco abaixo de 3% em 2014", prevê Guilherme Maia, economista da Votorantim Corretora. No último ano, o indicador fechou em alta de 3,6%. "Além disso, há acomodação do mercado de trabalho, com redução do vigor da alta da renda das famílias", destacou.
Os segmentos que puxaram o indicador para baixo estão associados à piora no cenário econômico. Tecidos e vestuário teve queda de 7,3% na comparação anual. Os setores de equipamentos e materiais de escritório (-4,9%), e o de livros, jornais e papelaria (-8,2%), foram influenciadas por alta dos preços.
Calendário - Além do contexto desfavorável, o órgão cita também o efeito do calendário sobre os resultados, em função de menos dias úteis com o Carnaval. No último ano, a festa aconteceu em fevereiro e em março comemorou-se a Páscoa, período de aumento nas vendas para o comércio de alimentos e hipermercados. "Março foi o segundo melhor mês em 2013 para o comércio, ficando atrás somente de dezembro", afirmou Nilo Lopes, também um dos responsáveis pela pesquisa.
A alta base de comparação e o menor número de dias úteis prejudicou, especificamente, o setor de hipermercados, que registrou queda de 2,8% em março, na comparação anual. Como a inflação de alimentos em domicílio ficou abaixo da média geral - 5,6% ante 6,2%, de acordo com o próprio IBGE - o fator não influenciou tanto no item.
Veículo: Diário do Comércio - MG