Faturamento e horas trabalhadas do setor industrial caem no 1º semestre

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Por Lucas Marchesini e Flavia Lima | De Brasília e São Paulo


A indústria registrou queda no faturamento e nas horas trabalhadas no primeiro semestre de 2014 na comparação com o mesmo período de 2013. Por outro lado, o desempenho positivo do setor nos primeiros meses do ano possibilitou uma alta nos indicadores de emprego, massa salarial real e rendimento médio real no semestre, segundo a pesquisa Indicadores Industriais, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

As piores notícias para a indústria se concentraram mesmo entre abril e junho, com um descompasso grande entre o primeiro e o segundo trimestres. O faturamento da indústria, por exemplo, subiu 2,64% no primeiro trimestre de 2014 em relação a igual período do ano passado, para depois despencar 4,3% no segundo trimestre, na mesma base de comparação. Outro indicador importante, o rendimento médio real do setor, subiu apenas 0,7% de abril a junho, após aceleração bem mais forte, de 4,96%, de janeiro a março ante igual período de 2013.

Para alguns analistas, a base de comparação não é boa, pois o segundo trimestre de 2013 teve desempenho além do esperado. O faturamento real da indústria, por exemplo, avançou 7,4% entre abril e junho de 2013 frente a igual período do ano anterior. No geral, a avaliação é que a indústria deve registrar alguma recuperação em relação ao mês de junho, que foi muito ruim, mas o ritmo mais baixo deve se manter por algum tempo, seguindo o consumo doméstico mais contido e as exportações afetadas pela crise na Argentina.

Em junho, com exceção do rendimento médio real, todos os indicadores caíram ante maio. Apesar de ser "muito difícil" separar a tendência de retração na produção industrial do efeito da Copa do Mundo, o gerente-executivo de política econômica, Flávio Castelo Branco, avaliou que a queda no mês de junho foi mais intensa do que já vinha sendo. O faturamento real da indústria caiu 5,7% em junho ante maio (com ajuste sazonal) e as horas trabalhadas caíram 3% em igual base de comparação.

"Além disso, um fato que já vinha sendo detectado se tornou mais nítido: a indústria perdeu postos de trabalho em junho e isso se refletiu no mercado de trabalho como um todo", disse Castelo Branco, ao se referir à queda de 0,5% do indicador de emprego em junho frente a maio, na série com ajuste - a quarta queda consecutiva no indicador. O recuo no emprego se refletiu na massa salarial real, que caiu 0,8% em junho ante maio, na série com ajuste.

Sobre o único indicador positivo em junho - o rendimento médio real que subiu 0,1% - Fabio Guerra, economista da CNI, sugeriu que, com os primeiros desligamentos, saem aqueles com salário mais baixo, o que aumenta a média do salário na indústria. Ele disse, porém, que é necessário esperar os resultados dos próximos meses para confirmar a hipótese.

Para os próximos seis meses, Castelo Branco não espera a repetição dos resultados negativos de junho. "Alguns fatores podem amenizar esse ritmo. Não chega a uma reversão, mas uma estabilização", disse, referindo-se, por exemplo, à manutenção da taxa Selic.

Para Thais Zara, da Rosenberg & Associados , a comparação do segundo trimestre deste ano com o do ano passado não ajuda, mas a quantidade de feriados em junho bem como as férias coletivas em diversos setores pesaram bastante nos indicadores do segundo trimestre. "Na margem, o comportamento também não foi bom, confirmando que o segundo trimestre de 2014 foi, mesmo, muito ruim".

Daqui em diante, diz ela, a produção deve ficar um pouco acima do que foi junho, mas, em razão das indicações recentes, se manterá abaixo do que foi registrado no primeiro trimestre de 2014. Para a economista, o ajuste do setor a um patamar mais baixo deve se manter por algum tempo, em razão de perspectivas de mercado trabalho piores e restrições cada vez maiores de crédito. Além da piora das exportações à Argentina, importante parceiro comercial.

Guerra, da CNI, diz que a comparação semestral mais benigna demora mais para refletir os resultados mais recentes. E, se não houver reversão desse quadro em breve, mesmo a comparação de 2014 com 2013 pode ser negativa.



Veículo: Valor Econômico


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