Presidente do BC aponta 'progressos' no combate à inflação

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Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De Brasília



O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reforçou a sinalização de que não pretende reduzir a taxa básica de juros da economia tão cedo, hoje fixados em 11% ao ano, mas destacou "progressos" no combate à inflação e traçou um cenário de recuperação da atividade econômica no segundo semestre.

"Tem havido progressos, sim, na parte da inflação", disse ontem em depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. "Estamos longe do que seria, pelo menos do lado da inflação, do conceito de estagflação." Ele destacou que o Índice Geral de Preços (IGP) registrou deflação por três meses seguidos, o que, frisou, é um evento "muito raro", que aconteceu apenas quatro vezes nos últimos 20 anos (em 1998, 2005, 2009 e agora). "Isso diz algo sobre os preços ao consumidor. Não é por outra razão que o BC, digamos, neste momento, há quatro meses não subiu a taxa de juros."

No depoimento, a política econômica foi duramente criticada por senadores de oposição, sobretudo o baixo crescimento e a alta inflação. "O governo faz sistematicamente discursos otimistas", acusou o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), coordenador em seu Estado da campanha presidencial de Aécio Neves (PSDB).

O senador Cristovão Buarque (PDT-DF), que apoia a candidatura de Eduardo Campos (PSB), questionou Tombini sobre relatórios recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que dizem que a economia brasileira está vulnerável.

Tombini reafirmou que os fundamentos são sólidos e saiu em defesa à política do governo. "Certamente não podemos falar de crise aqui. Que crise é essa, com o menor nível de desemprego? Que crise é essa que estamos, com inflação sob controle?", disse. O senador Blairo Maggi (PR-MT), da base do governo Dilma Rousseff no Congresso, apoiou Tombini. "Andei por vários Estados brasileiros", disse. "Em todos os lugares, a atividade está - como diz a garotada - 'bombando' ".

Um adjetivo muito usado na comunicação do Banco Central nos últimos meses - "resistente" - foi removido no depoimento. No seu discurso de abertura, Tombini reproduziu trechos da mais recente ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, mas excluiu uma parte que dizia que o "cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres".

Tombini renovou a sinalização de que os juros serão mantidos no patamar atual: "Mantidas as condições monetárias - isto é, levando-se em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária -, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestre finais do horizonte de projeção do BC". Também reiterou que a política monetária se manterá vigilante para minimizar riscos à inflação.

Sobre a atividade econômica, Tombini disse que trabalha com um ambiente "próximo à estabilidade, no primeiro semestre, e recuperação ao longo do segundo semestre deste ano".

Do lado da demanda, ele citou fatores que, na sua visão, podem ajudar a sustentar o crescimento, incluindo aumento da "massa salarial, das concessões de crédito às famílias e da confiança do consumidor que, apesar do recuo observado em meses recentes, mas com alguma melhora na margem, permanece em patamares relativamente favoráveis". Ele reconheceu, porém, que o comportamento dos investimentos tende a ser menos favorável neste ano do que em 2013.

Entre os componentes da oferta, ele destacou que o setor de serviços vai manter expansão, mas com um ritmo mais moderado. A produção agrícola, disse, deve bater novo recorde. "A indústria, por sua vez, tem sido negativamente impactada por eventos localizados, de modo que não se pode descartar o cenário de recuo da produção industrial em 2014", disse.

Tombini disse que o Banco Central trabalha com um cenário externo "nem excessivamente otimista nem demasiadamente pessimista". Segundo ele, está se confirmando a hipótese de que a recuperação da economia mundial continuaria em curso, mas em ritmo menos intenso do que o inicialmente esperado por alguns organismos multilaterais.

"Apesar dessas revisões, não estamos na situação verificada em meados de 2011, quando desenvolvimentos na Europa indicavam agravamento da crise", disse Tombini. Naquele ano, o agravamento da crise mundial levou o BC a promover agressivos cortes na taxa básica de juros.

"Estamos num ambiente global que evolui em linha com nosso cenário base", afirmou Tombini. "Não antecipamos variações capazes de mudar significativamente a análise que temos dos desafios domésticos."

Questionado pela senadora Ana Amélia (PP-RS), Tombini evitou comentar entrevista do diretor de Assuntos Internacionais e Regulação do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, ao Valor, na qual ele diz que os juros subiram acima "de qualquer medida razoável de neutralidade" e permanecerão nesse patamar pelo tempo "adequado".

"Não posso falar sobre o que um diretor disse. Estou acompanhado de dois deles aqui, eles podem ter pensamentos diferentes", disse. Segundo ele, há independência de pensamento entre os diretores e, se não fosse assim, "não seria uma diretoria, apenas um presidente absoluto". Tombini se dispôs a encaminhar a questão da senadora para Awazu responder "bilateralmente".

Tombini também sustentou que as medidas recentes de alívio no crédito não têm "qualquer contradição" com as ações de política monetária.



Veículo: Valor Econômico


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