Apesar de não haver consenso sobre o tamanho do aumento, economistas esperam que ciclo de aperto se interrompa em junho. Porém, tudo dependerá da trajetória do câmbio ao longo de 2015
Segundo especialistas, não há uma sinalização concreta do Banco Central (BC) sobre o quanto deverá ser o aumento da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em abril. No entanto, devido à expectativa de inflação em patamar elevado ao longo de todo o ano de 2015, economistas apostam em uma alta entre 0,25 ou 0,50 ponto percentual. A própria ata da última reunião do Comitê, que decidiu aumentar a Selic a 12,75% ao ano, alterou o seu tom em relação à trajetória dos preços da economia.
Enquanto na ata anterior, a estimativa era de que a inflação entraria em movimento de declínio neste ano, no documento atual, a avaliação é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) só começa a declinar em 2016. O professor de economia do MBA em finanças do Instituto Insper, Otto Nogami, avalia que é mais provável que o ciclo de alta dos juros se encerre em abril, pois a demanda interna já apresenta sinais de queda.
"O aumento dos juros como instrumento para arrefecer a demanda e reduzir os preços da economia já está se esgotando", diz Nogami. "O consumo das famílias está caindo, o mercado varejista está com indicadores recessivos. Nesse cenário, o papel da taxa de juros já não tem tanta importância na contenção dos preços", acrescenta. A ata do Comitê, inclusive, alterou a sua avaliação sobre a trajetória da demanda no País. No último documento, afirmou que o consumo das famílias devem se estabilizar e que a expansão da demanda agregada tende a ser moderada, ao longo desse ano.
Por esses motivos, o professor do Insper aposta em apenas mais uma alta da Selic em 0,25 ponto em abril. E, após esse período, espera que os juros se mantenham em 13% ao ano, durante todo 2015. Contudo, ele ressalta que, a depender da trajetória do câmbio e do tamanho do ajuste fiscal, todo esse cenário possa mudar. Para ele, se os conflitos entre os poderes executivo e legislativo, em torno da contenção dos gastos públicos, não forem resolvidos rapidamente, o País poderá sofrer com a saída de recursos estrangeiros. "Se começar a haver evasão de capital, o dólar será ainda mais pressionado", ressalta.
A economista da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, também leva em conta o câmbio para traçar as suas projeções para a trajetória dos juros. Para ela, o BC deve aumentar a Selic em mais 0,50 ponto, a 13,25%. Essa projeção, diz ela, também considera as expectativas do mercado que "está descrente que a inflação entre em trajetória de queda em 2016", afirma Ribeiro.
Na ata, o Banco Central passou a considerar, em suas simulações, uma cotação de R$ 2,85, quase 8% mais depreciada do que os R$ 2,65 adotados em janeiro pela autoridade monetária, como afirma a LCA Consultores, em documento.
Pressão sobre a inflação
Fora o câmbio, as tarifas de preços administrados também contribuíram para que o BC elevasse as suas projeções de inflação para esse ano em sua última ata. Já para 2016, as expectativas diminuíram.
Para o conjunto de preços controlados pelo governo, espera-se variação de 10,7% em 2015, ante 9,3% considerados na reunião do Copom de janeiro. Entre outros fatores, essa projeção considera hipótese de variação de 8% no preço da gasolina, em grande parte, reflexo de incidência da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e do PIS/Cofins. Além disso, leva-se em conta também alta de 3,2% no preço do gás de bujão, de queda de 4,1% nas tarifas de telefonia fixa, e de aumento de 38,3% nos preços da energia elétrica. Na ata anterior, a expectativa para a energia era de alta de 27,6%.
Para a Tendências, os preços das tarifas de energia podem subir 68% no ano, enquanto o IPCA deve fechar em 7,9%.
O documento da LCA dá uma noção do peso dos administrados sobre a inflação do País. Simulações feitas pela consultoria mostram que os efeitos das altas dos monitorados respondem por, aproximadamente 2,5 pontos percentuais da alta de 8,1% que a LCA projeta para o IPCA de 2015. "Com efeito, não fossem esses choques, o IPCA estaria correndo hoje na faixa de 5% a 5,5%. E não fosse a depreciação cambial adicional observada desde o final de 2014 - com o R$/US$ passando de cerca de 2,50 para acima de 3,00 -, o IPCA estaria possivelmente correndo próximo de 5%, talvez um pouco abaixo disso", diz o documento.
Para a LCA, a Selic deverá chegar a 13,25% em 2015. "O timing dessa alta adicional é
bastante incerto, na medida em que o BC deu poucas pistas sobre isso na ata divulgada hoje. Parece ser mais provável, no quadro atual, uma nova alta de 50 pontos-base", afirma.
Para o BC, a expectativa é que o superávit primário de 2015 seja de 1,2% do PIB, e de 2% do PIB em 2016. Além disso, destaca na ata que as exportações devem ser beneficiadas pelo cenário de "maior crescimento de importantes parceiros comerciais e pela depreciação do real".
A autoridade monetária avalia também que, em prazos mais longos, emergem perspectivas mais favoráveis à competitividade da indústria, e também da agropecuária.
Veículo: DCI