Parcerias podem reverter queda do mercado na AL

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A retração do fluxo do comercial do Brasil, reflexo da crise econômica mundial, gera um cenário ideal para o País acelerar suas parcerias com países vizinhos, apontam especialistas. "Há algumas pautas produtivas similares, mas é uma grande oportunidade", diz o diretor de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Maurício Borges. "Do ponto de vista da indústria, a região é importante para os manufaturados brasileiros", destaca Lúcia Maduro, analista da unidade de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "São mercados maduros, estáveis e com crescimento da demanda", diz Roberto Alvarez, gerente da área Internacional da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

 

A desvalorização do real frente o dólar em 32% no ano passado tornou os produtos brasileiros mais baratos no Exterior. E esse é apenas um dos fatores que ampliam as oportunidades de negócios na região. A proximidade física, a qualidade dos produtos e serviços brasileiros e a receptividade internacional também ajudam. No fortalecimento das relações comerciais, os especialistas dizem que é insalubre qualquer movimento protecionista entre o Brasil e seus mercados vizinhos.

 

No cenário atual, a meta do governo de estabelecer com outros países da região um mecanismo de compensação comercial em moeda local, nos moldes do mecanismo acertado com a Argentina no ano passado, é bem-vinda. Também é considerada positiva a intenção de deixar o Banco Central do Brasil emprestar dinheiro para os países vizinhos, assim como o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fez com o Brasil. "Isso reduz custos das transações", diz Alvarez

 

O executivo da ABDI destaca que a diversificação das trocas comerciais com outros mercados - fora da tradicional rota que envolve Estados Unidos , União Européia e Japão - é importante para diluir os riscos inerentes à exportações. Atualmente, os países ricos é que mais sentem os efeitos da crise financeira, pois foi de lá a origem da turbulência econômica. Por isso, os esses países compram menos. Quanto aos vizinhos latinos, Alvarez admite: "É evidente que ele tem renda baixa, mas são os mercados que mais crescem".

 

Borges diz que os produtos brasileiros têm amplo potencial para conquistar os mercados vizinhos, pela qualidade e preço de seus produtos e serviços, com diferencial tecnológico e geográfico. O executivo da Apex cita que há possibilidades de complementaridade em áreas como confecções, móveis e implementos agrícolas. A Apex estabeleceu sete países da América Latina como mercados prioritários para as ações em 2009 e 2010, são eles a Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Venezuela, Cuba e Panamá.

 

No caso do Peru, a Apex vai realizar missões de abertura de negociações. Segundo Borges, há uma série de similaridades entre os dois países, o que abre espaço para o Brasil oferecer soluções para problemas comuns, como nas áreas de software bancário e energia elétrica, entre outras. O executivo da Apex destaca tecnologias como as que são utilizadas em eletrodomésticos mais eficientes, desenvolvidos para gastar menos energia elétrica, ou seja, padrão que se adapta à realidade latina.

 

No caminho da promoção da complementaridade da atividade produtiva, a ABDI está realizando processo seletivo de empresas brasileiras para a implementação de projetos industriais na Venezuela. São projetos para estabelecer plantas industriais de áreas diversas como tubos e conexões de PVC, equipamentos de refrigeração industrial e equipamentos eletrônicos.

 

Lúcia Maduro, da CNI, diz que há uma tendência presente até mesmo antes da instalação da crise financeira internacional de redução da participação da América do Sul no total das exportações brasileiras. "A conclusão é que eventuais perdas serão para a indústria, pois a base das exportações para esses países é de produtos industrializados", diz. Ela destaca que mesmo antes dessa queda, a fatia de mercado do Brasil nas importações feitas por alguns países vizinhos já era baixa, citando 7,2% na Colômbia e menos de 2% no México. Do total das importações peruanas, 49% são supridas pelos Estados Unidos e somente 11% pelo Brasil, indicam dados da CNI.

 

Os dados da corrente de comércio entre o Brasil e seus vizinhos formam outro indicador de que há espaço para aumentar e equilibrar as trocas na região. No ano passado, o Brasil exportou US$ 11,7 bilhões para a Comunidade Andina das Nações e importou desse bloco US$ 5,2 bilhões. Para os parceiros do Mercosul, o Brasil exportou US$ 21,7 bilhões e importou US$ 14,9 bilhões. Já com os Estados Unidos, as exportações somaram US$ 27,6 bilhões e as importações chegaram a US$ 25,8 bilhões, uma situação de maior equilíbrio. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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