A crise econômica deixou uma marca inegável sobre o mercado de crédito em janeiro: a alta da inadimplência, tanto no segmento de pessoas físicas como no de pessoas jurídicas. No crédito para as famílias, os atrasos de pagamentos superiores a 90 dias atingiram o índice de 8,3% da carteira, frente 8% em dezembro. Na carteira de crédito direcionada a empresas, a inadimplência é bem mais baixa, de 2%, mas ainda assim maior que o percentual de 1,8% registrado em dezembro. Esses números foram divulgados ontem pelo chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes.
No segmento de pessoas físicas, a inadimplência atingiu 4,7% da carteira de aquisição de veículos (frente 4,5% em dezembro); 5,7% no crédito pessoal (contra 5,5% no mês anterior); e 10,3% no cheque especial (frente 10,6% em dezembro). No segmento de pessoas jurídicas, a mais elevada taxa de inadimplência foi registrada na carteira de aquisição de bens, com índice de 2,3% (frente 2%, em dezembro).
Destaca-se, entretanto, o aumento do volume de operações com atrasos de pagamentos entre 15 e 90 dias, situação que abrange 2,4% do crédito para empresas (frente 1,9% em dezembro) e 7,2% do crédito para as famílias (contra 6,7% no mês anterior). Segundo o economista Bruno Rocha, da Tendências Consultoria, esse atraso de pagamento "de curto prazo" - que ainda não engorda os números da inadimplência, para a qual são considerados atrasos de mais de 90 dias - não representam "um indicador perfeito" sobre a deterioração da qualidade da carteira de crédito no futuro, mas funcionam como "um sinalizador".
O ritmo de concessões arrefeceu em janeiro, numa queda de 13,7%. A média diária de concessões para pessoas físicas e jurídicas foi de R$ 6,367 bilhões, frente R$ 7,379 bilhões diários em dezembro e R$ 6,615 bilhões, em janeiro do ano passado.
Altamir Lopes divulgou alguns dados parciais sobre o setor de crédito em fevereiro, considerando números acumulados até o dia oito. Na média geral, as taxas recuaram um pouco, sendo cobrado neste início de mês juro de 42% ao ano, frente os 42,4% anuais que vigoraram em janeiro. Para o segmento de Pessoas Físicas, o juro médio no início deste mês foi de 54% anual, frente 55,1% de janeiro. Mas o crédito para as empresas ficou mais caro, com taxa de 31,2%, frente os 31% do mês passado.
O saldo total de crédito atingiu R$ 1,229 trilhão, representando 41,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Até o final do ano, o estoque de crédito deverá corresponder a pelo menos 43% do PIB, disse Lopes.
Veículo: Gazeta Mercantil