A produção industrial cresceu 2,3% em janeiro frente a dezembro de 2008, na série com ajuste sazonal, interrompendo uma sequência de três resultados negativos, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira. Apesar disso, em relação a janeiro de 2008 houve uma queda de 17,2% na atividade, a maior retração da série histórica iniciada em janeiro de 1991.
Esse resultado evidencia o aprofundamento do ritmo de queda, que neste mês atingiu as 27 atividades investigadas, à exceção de outros equipamentos de transporte (39,2%). Outro indicador confirma uma maior dispersão de resultados negativos: o índice de difusão assinalou queda em 75% dos 755 produtos investigados, também o menor nível da série histórica desse indicador.
O aumento da produção em janeiro foi sustentado pela expansão em 15 dos 27 ramos investigados e atingiu três das quatro categorias de uso. O desempenho mais importante para o resultado global foi o de veículos automotores, cuja expansão de 40,8% refletiu o retorno parcial das férias coletivas concedidas pelo setor nos meses anteriores. Também merecem destaque os resultados de material eletrônico e equipamentos de comunicação (28,4%), borracha e plástico (13,6%), têxtil ( 10,3%) e alimentos (1,6%). Todos esses cinco ramos registraram forte recuo em dezembro: -40,8%, -39,0%, -20,3%, -11,9% e -4,3%, respectivamente. Entre as indústrias que reduziram a produção, na passagem de dezembro para janeiro, destacam-se: máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-9,5%), refino de petróleo e produção de álcool (-3,6%) e metalurgia básica (-4,7%).
Ainda na comparação com o mês anterior, no corte por categorias de uso, os índices foram positivos em bens de consumo duráveis (38,6%), bens de capital (8,4%) e em bens intermediários (0,8%), enquanto a produção de bens de consumo semi e não duráveis (-0,6%) registrou recuo pelo quarto mês consecutivo. A expansão observada na fabricação de bens de consumo duráveis vem após queda acumulada de 49,2% entre setembro e dezembro. O mesmo foi verificado em bens de capital, que cresceu após acumular perda de 26,5% em três meses. Em bens intermediários o avanço observado interrompeu seqüência de cinco resultados negativos, que significaram uma perda de 20,8% na comparação de dezembro de 2008 a julho de 2008.
A taxa anualizada, medida pelo indicador acumulado nos últimos doze meses, recuou na passagem de dezembro (3,1%) para janeiro (1,0%). Frente ao início do processo de perda abrupta de ritmo, em outubro passado, esse indicador perdeu 5,8 pontos percentuais. Nesse mesmo intervalo de tempo as categorias de uso tiveram o seguinte desempenho: bens de consumo duráveis (de 12,8% para 0,2%), bens de capital (de 20,0% para 12,0%), bens intermediários (de 5,6% para -0,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (de 2,8% para 0,2%).
Revisão das previsões
O desempenho da indústria brasileira em janeiro decepcionou a maior parte dos especialistas, que projetava uma expansão pelo menos três vezes maior que os 2,3% de aumento apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em relação a dezembro. Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a atividade industrial sinaliza para uma revisão das previsões de crescimento da economia brasileira. "A produção industrial foi muito pior do que o esperado, o que pede uma revisão para baixo das projeções do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano", acredita.
Os economistas da LCA Consultores consideram que ainda é cedo para projetar um PIB menor. Em relatório, os profissionais explicam que ainda é necessário conhecer os dados referentes a fevereiro e março. "Aguardamos mais informações sobre a evolução da economia neste mês, na medida em que algumas sinalizações sugerem que será um mês forte para a indústria", explicam.
Expansão de 1,5% do PIB
O mercado financeiro estima um crescimento do PIB em torno 1,5% neste ano, de acordo com sondagem realizada na semana pelo Banco Central (BC). Segundo Gonçalves, a frustração com relação ao início deste ano se deve à hipótese de que a contração de dezembro teria ocorrido apenas por um ajuste de estoque. Isso seria válido apenas para o setor de automóveis, que recebeu vários incentivos governamentais. Os efeitos da medida não se espalharam para o resto da indústria, que ainda sofre com um cenário recessivo. "O nível da produção industrial dessazonalizada ainda está no patamar de meados de 2004", avalia.
Diante desse cenário, os analistas da LCA acreditam que a principal implicação seja uma redução das projeções para a taxa básica de juros (Selic), especialmente a partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de abril.
Veículo: Gazeta Mercantil