Dados não oficiais, divulgados entre a semana passada e ontem, vêm confirmando que a queda no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no ano passado pode ter alcançado patamar de até 4%.
O Monitor do PIB, calculado pelo Instituto de Economia Brasileiro da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), anunciado nesta segunda-feira, indica que a retração na economia foi de 3,8% no período.
As contas da FGV vão ao encontro do Indicador Serasa Experian de Atividade Econômica que também aponta decréscimo de 3,8% no PIB. Já o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é considerado uma prévia do dado oficial, estima que a economia caiu 4,08% em 2015.
Independentemente de a queda vir em 3,8% ou em 4,0%, os indicadores sinalizam que o ano passado deve registrar a maior baixa na economia desde 1990, quando o PIB foi negativo em 4,35%. O resultado oficial será divulgado no dia 3 de março, em uma quarta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Monitor do PIB da FGV, que tem a mesma metodologia do IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos) se destacou como principal impacto negativo no desempenho da economia brasileira, registrando queda de 14,7% em 2015 ante o ano de 2014. A retração na produção de máquinas e equipamentos puxou o resultado com recuo de 26,1% no mesmo período.
A série histórica evidencia que a taxa de investimento em 12 meses começou a desacelerar a partir de abril de 2014 e entrou em processo recessivo a partir de agosto do mesmo ano, período marcado pelo final do primeiro mandato da presidente da República, Dilma Rousseff. Claudio Considera, economista do Ibre-FGV, avalia que a falta de confiança dos empresários, estimulada pelos escândalos de corrupção e indefinição da política econômica, foi o principal motivo de recuo nas decisões de investir. "O governo de Dilma está marcado por incertezas institucionais que desestimulam as empresas a investirem", comenta ele.
"No início do seu primeiro mandato, as taxas de investimento ainda registravam patamares positivos, pois, naquele período, o País ainda se beneficiava do ambiente internacional favorável", acrescenta.
Juros e inflação
Patrícia Krause, economista-chefe da seguradora de crédito Coface, observa que, em meio à falta de credibilidade, o governo teve que fazer "ajustes econômicos necessários" que encareceram os investimentos, como a correção dos preços administrados e o consequente aumento na taxa básica de juros (Selic) a partir do final de 2014. Fatores esses que também enfraqueceram o consumo, conforme Patrícia.
Dados do Ibre mostram que o consumo das famílias registrou queda de 3,5% no ano passado, em relação a 2014, outro fator de impacto negativo no PIB pelo lado da demanda. Os serviços, principal componente do índice, caíram 0,9% no período. Já os bens não duráveis recuaram 2,3% e os semiduráveis registraram taxa negativa de 6,9%. Os bens duráveis, por sua vez, encerraram o ano com queda de 15,3%, comparado a 2014.
O economista do Ibre chama a atenção para esse dado, ressaltando que a desaceleração do consumo de bens duráveis começou a partir 2010 e despencou em 2014. "A política de crédito do Lula [antecessor à Dilma] antecipou o consumo de bens duráveis. Após comprar um eletrodoméstico ou um carro, as famílias demoram para adquirir esses mesmo produtos", avalia.
Os dados do Ibre detalham ainda que o consumo das famílias entrou em trajetória de desaceleração a partir de março de 2014 e começou a registrar desempenho negativo em abril de 2015, oito meses após a retração dos investimentos.
Para Patrícia, isso ocorreu porque as empresas ainda seguraram as vagas de emprego durante 2014. Já para o economista do Ibre, os indicadores de taxa de investimento antecipam as tendências de ciclos econômicos e, por isso, registram números negativos antes dos outros indicadores.
Outro fator de baixa do PIB pelo lado da demanda veio das importações, cujas taxas acumuladas em 12 meses costumavam ser elevadas, mas começaram a desacelerar a partir de janeiro de 2014, encerrando 2015 com queda de 14,5%.
A importação de produtos industrializados caiu 14,8% em 2015, ante 2014. Os destaques nessa categoria são os bens de consumo duráveis (-24,5%), bens de capital (-17,9%) e os bens intermediários (-15,5%).
Já as exportações tiveram contribuição positiva. Em 2015, as vendas externas cresceram 5,7% ante 2014. Três aspectos chamam a atenção segundo o Ibre: a reversão da tendência declinante da taxa acumulada em 12 meses dos produtos industrializados, a partir de março de 2015, encerrando o ano com crescimento de 4,6%; o ótimo desempenho dos produtos agropecuários (17,5%) e da extrativa mineral (18,7%).
Projeções 2016
Tanto o economista do Ibre como a especialista da Coface avaliam que ainda não há nenhum indicador no PIB que aponte recuperação para este ano. Dados do relatório Focus, divulgadas ontem pelo BC, estimam queda de 3,4% em 2016. A expectativa anterior do mercado era de retração de 3,33%. Para 2017, a estimativa passou de +0,59% para +0,50%.
Veículo: Jornal DCI