A oferta em excesso de diversas mercadorias e a letargia da demanda mundial colaboram para aprofundar a recessão brasileira. No ano passado, o País conseguiu aumentar a produção de diversos produtos, mas recebeu menos por suas exportações.
"As economias do mundo estão em compasso de espera", diz Eduardo Mekitarian, professor de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), para justificar a diminuição do valor das exportações brasileiras.
Ainda que o volume das vendas feitas para o exterior tenha aumentado 10% em 2015, para 637 bilhões de quilos, a quantia recebida pelos embarques despencou 15% no mesmo período, a US$ 191 bilhões.
E a oferta brasileira não foi a única que cresceu no ano passado. "Todos os países que exportam commodities passam por essa situação", afirma Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). O especialista diz que Chile, Bolívia, Austrália e Venezuela, Arábia Saudita enfrentam problemas parecidos com os encontrados no Brasil.
"Quando um país ganha menos com um produto, surge a necessidade de vender em maior quantidade para compensar as perdas. Mas esses aumentos não têm sido o suficiente porque também temos visto uma diminuição na demanda mundial", explica Santos.
Entre as mercadorias que tiveram suas produções ampliadas e, mesmo assim, renderam menos para os brasileiros, se destacam a soja, o minério de ferro e o petróleo, principais itens da pauta exportadora do País.
"Fomos muito afetados, especialmente, pela queda do [preço] minério de ferro, que foi muito forte, somos um dos maiores produtores do mundo", destaca Mekitarian. O professor da Faap lembra que a retração da demanda chinesa pelo produto foi o principal motivo dessa desvalorização.
No ano passado, o volume exportado de commodities cresceu 11%, chegando a 535 bilhões de quilos, enquanto o valor das vendas diminuiu 20% no mesmo período, caindo a US$ 87 bilhões. A receita proveniente da venda do minério de ferro teve a maior retração (-45%) entre os principais produtos vendidos.
A diminuição dos preços, entretanto, não se resume aos produtos básicos. Em 2015, o Brasil ampliou em 5% o volume de vendas de manufaturados e em 8% o de semimanufaturados. A quantia obtida pelos embarques, por outro lado, diminuiu 9% nos dois grupos, de acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Para Santos, o problema dos industrializados está mais relacionado a uma fraqueza na demanda do que a problemas de oferta. "Temos um desaquecimento do consumo de vários países, principalmente dos europeus e também os Estados Unidos", comenta o professor.
Futuro
As principais apostas dos especialistas entrevistados pelo DCI para reverter a estagnação no comércio exterior estão na África e na Ásia.
"O grande mercado, que é o futuro da demanda mundial, é a África", crava Santos. "Com altas taxas de crescimento populacional e muito espaço para desenvolvimento, deve haver muito aumento do consumo, é por isso que a China está se aproximando do continente", complementa.
Para o curto prazo, Mekitarian acredita nos asiáticos. "Podemos ter uma reversão do cenário daqui a seis meses ou um ano, puxada por uma estabilização da China e por um aumento da demanda da Índia", afirma.
"Em substituição aos minérios, a China vai demandar maior consumo de proteínas, como carne bovina e frango, esse espaço pode ser aproveitado pelos empresários brasileiros", conclui Santos.
Mais petróleo
Os mercados de petróleo podem começar a se reequilibrar no ano que vem graças a uma queda na produção dos Estados Unidos, mas esse declínio vai durar pouco, já que ganhos de eficiência devem levar a produção norte-americana a novos recordes no início da próxima década, diz relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) divulgado ontem.
"Apenas em 2017 nós vamos finalmente ver a oferta e a demanda de petróleo alinhadas, mas os enormes estoques sendo acumulados vão atuar como um amortecedor sobre o ritmo de recuperação dos preços quando o mercado, tendo se rebalanceado, então começar a utilizar esses estoques", comunica a agência, em suas projeções realizadas para o médio prazo.
"As condições do mercado de petróleo hoje não sugerem que os preços possam se recuperar de maneira acentuada em um futuro imediato", adiciona a IEA.
Entre 2015 e 2021, a produção dos EUA deverá atingir um recorde de 14,2 milhões de barris por dia, após cair inicialmente neste ano e no próximo, complementa a agência.
Veículo: Jornal DCI