O IPCA-15 de fevereiro superou todas as previsões e fechou com alta de 1,42% sobre o índice de janeiro, bem acima da variação de 0,92% do período anterior e elevando o acumulado em 12 meses para 10,84%. Mas, salvo acontecimentos fora do radar – hipótese menos improvável nestes tempos de Lava Jato e dominância política –, e a julgar pelas projeções atualizadas depois do resultado desta terça-feira, 23, a inflação acaba de bater no teto e deve iniciar um ciclo de perda de fôlego, embora continue rodando acima de 6,5%, limite fixado para o intervalo da meta.
Três grupos de preços com grande peso no índice – Alimentos e Bebidas, Habitação e Transportes –, responsáveis principais pelas altas dos últimos meses, na visão dos analistas, começam a se acomodar. Isso seria particularmente verdadeiro no caso das tarifas de energia, que integram o grupo Habitação, e de transportes públicos. As estimativas para o IPCA cheio de fevereiro, por isso mesmo, estão na vizinhança de 1%, menor do que a variação observada no IPCA-15.
Depois de fevereiro, o IPCA deverá mostrar variação mais controlada, abaixo de 0,5% mensal, na maior parte dos meses deste ano. No acumulado em 12 meses, as projeções indicam trajetória de queda, dos quase 11% atuais para 7,5% a 8% no final de 2016. Essas mesmas previsões indicam que o IPCA retornará ao intervalo da meta por volta do primeiro trimestre de 2017, devendo fechar 2017 no entorno de 5,5%.
A expectativa agora é de que todas as categorias de produtos incluídas no IPCA fechem 2016 com variações de preços abaixo das registradas em 2015.O grande destaque, nesse sentido, deve vir dos preços administrados, que subiram 18% em 2015 e devem avançar por volta de 7% em 2016.
Também a taxa de câmbio – um preço até certo ponto administrado –, com sua ampla e disseminada influência sobre os demais preços, está sendo vista como fator de menor pressão em 2016. Se, no ano passado, a cotação do dólar variou mais de 50%, este ano, apesar das incertezas presentes, promete avançar menos de 15%.
Pode-se, em resumo, contar com uma tendência de relativa acomodação dos preços neste ano. Mas não se deve esquecer as pressões negativas e os riscos para o controle da inflação oriundos dos desarranjos da economia, sobretudo no campo fiscal, cujo ajuste não indica que venha a ser rápido. A trajetória de aceleração da dívida pública, por exemplo, tem potencial para estimular a aplicação de instrumentos de defesa que costumam pressionar a cotação do dólar e reforçar mecanismos de indexação, com a consequente produção de resistências inflacionárias.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo