Apesar da queda do IPCA-15, recessão continua.
Após gerar grande impacto na economia brasileira em 2015 e início deste ano, a inflação começa a dar sinais de uma trégua à população brasileira. Na última quarta-feira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), uma prévia do IPCA, apontou uma forte desaceleração na passagem de fevereiro para março, ao fechar com variação de 0,43%, abaixo da taxa de 1,42% registrada no mês anterior. A notícia por si só seria motivo de comemoração se não escondesse por trás uma triste realidade: a da recessão. A falta de demanda pelo consumo, causada pela alta taxa de juros e o elevado índice de desemprego, é apontada como uma das principais responsáveis pela queda da inflação.
Ao contrário do registrado nas economias de muitos países, o fenômeno da inflação vivido pelo Brasil, em 2015, não ocorreu pelo consumo elevado, mas sim, de acordo com economistas, como resultado de um conjunto de políticas equivocadas adotadas ainda no primeiro governo da presidente Dilma Rousseff. A avalanche de reajustes nos preços administrados – como energia elétrica e do transporte -, após um período de congelamento, por exemplo, contribuiu para que o índice atingisse patamares históricos de alta. E quem sofreu as consequências foi a população, que agora vê a desaceleração da inflação vinculada ao seu menor poder de compra.
“É fato que a recessão agora começa a ter efeitos sobre a inflação. Com a falta de demanda, as empresas estão reduzindo os preços, tudo está caindo, e a inflação deverá cair mais nos próximos meses. Acredito que daqui para frente a inflação vai ficar no máximo em 0,5% ao mês”, analisa o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas Antônio Carlos Porto Gonçalves.
Gonçalves, assim como outros especialistas em economia entrevistados pela reportagem, explica ainda que, neste ano, os preços administrados não deverão ter aumentos nas mesmas proporções que tiveram em 2015, o que também vai contribuir para segurar a inflação, confirmando as previsões do ano passado. Os reajustes, aliás, foram para a economista Rita Mundim os principais responsáveis pelo alto crescimento do IPCA em 2015, que fechou em 10,67%.
“Este ano não terá mais as correções que tiveram de ser feitas em função dos erros cometidos no primeiro governo da presidente Dilma Rousseff. Além disso, agora ninguém está consumindo e não está havendo mais altas”, analisa a economista.
Rita Mundim ressalta que a desaceleração poderia ter começado antes, ainda no segundo semestre do ano passado. A perda do grau de investimento do Brasil, em função da dificuldade do governo de implantar o ajuste fiscal, porém, acabou impedindo a queda, segundo a economista. Agora, Rita acredita que os rumos da inflação em 2016 vão depender da decisão sobre o impeachment.
“Quanto mais rápido a inflação cair, melhor para o Brasil. Agora, isso só vai acontecer se houver o impeachment da presidente. Se a Dilma continuar, a situação vai se complicar. Sem o impedimento, tudo volta a ficar como estava antes. Os preços retomarão os patamares anteriores e a inflação vai parar de cair”, afirma Mundim.
Diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storffer afirma que já existe uma pequena tendência de queda da inflação, mas que o índice deve oscilar em 2016. “Existe um processo de acomodação. A gente acredita que a inflação, no composto geral do ano, fique em torno de 7,5%, acima do teto, mas menor que no ano passado. Alguns períodos devem apresentar variação maior ou menor, dependendo da sazonalidade, mas deve fechar nesse patamar”, explica.
Para os três economistas, a decisão do Banco Central em manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25%, em janeiro, contrariando as expectativas por uma elevação para conter a inflação, acabou se mostrando acertada. Rita Mundim avalia que o BC foi muito responsável quando tomou a decisão e acredita que, futuramente, dependendo do clima político, o banco pode até promover uma queda na Selic. Andrew Storffer também considerou a medida justa para o momento. “A decisão de manter a taxa foi correta, já que aumentar não era a melhor saída e diminuir seria um risco também porque poderia sinalizar que o governo estaria afrouxando o controle da inflação, incentivando o consumo”.
O teto do intervalo da meta de inflação estipulada pelo Banco Central para 2016 é de 6,5%. Para os economistas, o índice será menor que o de 2015, em torno de 7,5%, mas dificilmente o governo conseguirá atingir a meta. “O governo não vai chegar a esse índice em 2016. E no ano que vem também não acredito”, conclui Storffer.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG