O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a crise atingiu principalmente os estados mais industrializados. Segundo estudo do Ipea, a crise internacional começou a prejudicar a atividade econômica em dezembro, sobretudo em estados da região Sudeste que apresentaram queda na produção industrial e foram responsável por mais de 55% das demissões em janeiro, sobretudo nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Já no Nordeste, o efeito da crise tem uma certa defasagem, porque a participação da indústria na economia é menor. Segundo a diretora de estudos regionais do Ipea, Liana Carleial, alguns estados mais industrializados da região, como Pernambuco e Ceará, já apresentam desaceleração na atividade econômica. Os dados são do 3 boletim mensal da instituição: "Crise Internacional: metamorfose de empresas transnacionais e impactos nas regiões do Brasil", divulgado ontem.
O Ipea aponta como solução para o problema a atuação do governo para impedir que a crise se espalhe para outros estados e se intensifique naqueles já prejudicados. Neste caso, a especialista do Ipea defende uma atuação coordenada entre União e Estados para que possam gastar mais na economia e evitar novas demissões. Segundo ela, para o Brasil crescer 5% este ano, mesmo patamar de 2008, seria necessário o governo injetar R$ 140 bilhões na economia. Essa cifra cairia na mesma proporção caso o País deixe de crescer 5% e avançasse apenas 0,5%, conforme a atual previsão do mercado.
Para garantir taxa de crescimento robusta, o Ipea sugere que o governo aplique na economia, pelo menos, R$ 101,4 bilhões em 2009, dos quais R$ 71,4 bilhões seriam recursos do superávit primário obtido no ano passado. A especialista explicou que os investimentos públicos aplicados na economia se multiplicariam, garantindo emprego e crescimento do PIB. E assim, seria possível o governo cobrir parte da perda de investimentos prevista pelo setor privado. O Tesouro Nacional não quis comentar os números do estudo do Ipea.
O Ipea mostra que em economias mais desenvolvidas, para cada dólar público aplicado no mercado gera-se um adicional de US$ 1,5 na produção agregada. No caso do Brasil, a estimativa é de que para cada Real público investido haveria impacto de R$ 1,43 na produção agregada.
No entanto, o Ipea identificou outro problema que é a queda da arrecadação tributária nos estados, principalmente a do ICMS. Para encontrar uma saída, segundo a especialista, o governo federal precisaria analisar a capacidade dos estados individualmente a fim de liberar recursos para investimentos. Hoje os estados têm restrição de investimento pela Lei de Responsabilidade Fiscal e grande parte das dividas estaduais ainda estão em fase de negociação com Tesouro Nacional. O Ipea sugere que o Tesouro Nacional renegocie dívida de estados endividados em dólar, já que a moeda americana está com cotação elevada, o que aumento o débito. É o caso de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que buscaram recursos do Banco Mundial para renegociar as dívidas com a União. "Em alguns casos essa renegociação é necessária. Mas cabe ao Tesouro Nacional avaliar em que medida isso é melhor", disse a diretora de estudos regionais do Ipea.
No mês passado, o boletim do Ipea mostrou que o pior da crise já havia passado, cujo ápice teria ocorrido no último mês de 2008, que foi chamado de "dezembro negro". Só que depois da drástica queda do PIB (-3,6%) no último trimestre de 2008, em relação ao período anterior, os técnicos do Ipea voltam atrás e agora dizem que o momento ainda é de incertezas. "Os efeitos da crise devem ser sentidos ainda por algum tempo", destaca o documento do órgão ligado ao Ministério do Planejamento.
Veículo: Gazeta Mercantil