Banco Central muda discurso e prevê inflação no centro da meta só em 2018

Leia em 3min 40s

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem, o Banco Central (BC) adotou tom mais conservador sobre o futuro da inflação: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve chegar ao centro da meta só em 2018.

"Não é um movimento comum", cravou o economista Roberto Luis Troster sobre a nova previsão do BC, mais pessimista que as estimativas de parte do mercado e de especialistas do setor, como o próprio Troster.

"Acredito que a inflação deve voltar à meta ainda antes de 2018. Já contamos com vários fatores que forçam os preços para baixo com velocidade: a valorização do real e a desvalorização do dólar, a recessão da economia e a volta de tarifas que, antes, estavam desalinhadas", considerou o economista.

Mauro Rochlin, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), também destacou a mudança de trajetória dos preços administrados, que agora devem favorecer o arrefecimento da inflação. "Energia elétrica e gás natural, por exemplo, devem ajudar e diminuir a pressão", afirmou o professor.

Para Rochlin, se o câmbio for mantido entre R$ 3,50 e R$ 3,70, a recessão econômica continuar e não houver problemas climáticos, a inflação deve ficar 'em torno dos 7%" neste ano e chegar ao centro da meta em 2018.

Já Adriano Gomes, analista da Méthode Consultoria, destaca que a mudança de postura do BC mostra que o banco "está se antecipando aos fatos e admitindo que o cenário é pior do que o que vinha sendo apresentado".

Em posição oposta à dos demais entrevistados, Gomes acredita que a inflação ficará "bem acima" do teto da meta (6,5%) em 2016 e "deve demorar" para voltar aos 4,5%.

No RTI, o BC estimou que o IPCA deve atingir os 6,6% em 2016, recuar a 4,9% em 2017 e então chegar ao centro da meta (4,5%) em 2018. O cenário considerado pelo banco prevê ainda câmbio a R$ 3,70 e manutenção da taxa Selic nos atuais 14,25% ao ano.

"Esse discurso mais duro, considerando que os juros não serão reduzidos, também aparece como uma surpresa", disse Rochlin. "Com a recessão na economia e a inflação em queda, não faz sentido manter a Selic no patamar atual", criticou o especialista.

O BC também aumentou a previsão de decrescimento para a economia do País neste ano. Agora, é esperada queda de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Antes, a retração esboçada era de 1,9%.

Omissão

Adotado pelo BC em setembro de 2013, o cálculo do superávit estrutural deixou de ser explicitado pela primeira vez desde então no RTI. Isso ocorre justamente no momento em que a frustração de receitas do governo leva a uma piora do indicador. Desde que começou a ser utilizado pela autoridade, o conceito é acompanhado de uma definição de expansão, neutralidade ou contração dentro do horizonte relevante para a política monetária.

Apesar de não constar no documento, o diretor de Política Econômica do banco, Altamir Lopes, surpreendeu os jornalistas ao citar, no meio de sua entrevista, que o cálculo estrutural hoje se encontrava no terreno expansionista. Até então, se falava em neutralidade no Banco Central, com possibilidade de contração.

Nos RTIs de 2013, quando o BC passou a adotar esse conceito, a descrição era de que o indicador fiscal utilizado nas projeções de inflação tenderia a manter certa estabilidade, portanto, com impulsos fiscais de magnitude desprezível, e indicavam que havia possibilidade de deslocamento para a zona de neutralidade no horizonte relevante para a política monetária. Em 2014, esse tom permaneceu nas quatro edições do ano e, em 2015, prevaleceu a análise de que o impulso fiscal era estável com possibilidade de se deslocar para a zona de contenção.

Por isso, o "cavalo de pau" observado na comunicação do diretor em relação à política fiscal chamou atenção. Questionado sobre a mudança, Altamir explicou que houve uma alteração em relação às receitas extraordinárias. Depois, mencionou que as receitas também caíram e, por fim, falou dos gastos do governo.

O diretor disse que as alterações na política fiscal não afetam a inflação no curto prazo, mas que terão impacto em 2017. "A política fiscal tem seus lags, mas afeta em termos de expectativas. Se você explicita suas metas, mesmo que sejam ruins, isso reduz muito a volatilidade e o que ficam são os resultados efetivos", afirmou.

 



Veículo: Jornal DCI


Veja também

BC revisa previsão para PIB de 2016 de -1,9% para -3,5%

Em meio ao conturbado cenário político, o Banco Central piorou fortemente a previsão de retra&ccedi...

Veja mais
Barbosa espera estabilizar dívida em 2017

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse esperar que seja possível estabilizar a dívida pública...

Veja mais
Queda no custo da energia elétrica puxa leve queda da inflação em março

A principal contribuição para a desaceleração registrada no Índice de Preços a...

Veja mais
Expectativa de inflação dos consumidores recua a 11,1%

Após 13 meses consecutivos de alta, o indicador de Expectativa de Inflação dos Consumidores fechou ...

Veja mais
Mercado está mais otimista com alguns indicadores

                    ...

Veja mais
Inflação para 2016 cai de 7,43% para 7,31%, aponta Focus

As projeções para o IPCA deste ano engataram tendência de queda e recuaram pela terceira semana cons...

Veja mais
Após 13 meses de alta, expectativa de inflação dos consumidores recua

                    ...

Veja mais
Inflação dá trégua, mas cenário ainda preocupa especialistas

                    ...

Veja mais
Mercado fica mais pessimista e sobe para -3,66% projeção de queda do PIB

As projeções do mercado financeiro para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro continuam a piorar no Rel...

Veja mais