Dólar cai 10,09% e bolsa sobe 16,97% em março

Leia em 4min 30s

                                                                  Moeda americana terminou o último dia de março cotada a R$ 3,5913.

O dólar à vista terminou o último dia de março em baixa de 0,61%, cotado a R$ 3,5913. Com esse resultado, a moeda norte-americana acumulou queda de 10,09% frente ao real. Essa desvalorização no mês reflete essencialmente a repercussão de fatores políticos que enfraqueceram o governo Dilma Rousseff.

Os investidores reagiram de maneira otimista ao aumento das chances de uma troca de governo, por estarem convencidos de que um impeachment presidencial seria a solução para os impasses político e econômico. O ponto máximo até agora foi a saída do PMDB da base de apoio a Dilma, oficializada na última terça-feira. Desde então, a busca do governo por contraofensivas trouxe incertezas ao cenário e favoreceu as correções em baixa na Bovespa.

A negociação de cargos entre o Planalto e partidos pequenos para garantir votos contrários ao impeachment foi um dos fatores que geraram cautela nos investidores. Hoje, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) disse acreditar que a saída do PMDB foi "precipitada".

Além disso, os ministros do Supremo Tribunal (STF) decidiram, por 8 votos a 2, pela manutenção da liminar do ministro Teori Zavascki, que ordenou ao juiz Sergio Moro que remetesse à Corte o caso das interceptações telefônicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em vídeo enviado a manifestantes contrários ao impeachment, Lula disse que "a democracia custou luta, sacrifício e mártires".

O mercado de câmbio também foi influenciado por fatores específicos. A pressão dos investidores "vendidos" na formação da Ptax do último dia de março e a venda de apenas 17% da oferta do Banco Central de swaps cambiais reversos trouxeram forte pressão de baixa para o dólar. Tanto que a moeda americana chegou a cair mais de 2% durante a manhã. À tarde, passada a Ptax, houve certa correção nas cotações e o dólar ganhou força. As discussões no STF reforçaram esse movimento.

Bovespa

O mercado brasileiro de ações sucumbiu a uma forte onda de correções, que levou a Bovespa a fechar em queda de 2,33%, aos 50.055,27 pontos, nesta quinta-feira. Mesmo com esse resultado, o Índice Bovespa ainda terminou o mês de março com valorização de 16,97%, a maior alta mensal desde outubro de 2002. A queda das ações no pregão desta quinta-feira foi atribuída em parte a uma realização dos lucros recentes, mas também a dúvidas do cenário político.

Entre as 61 ações que fazem parte do Ibovespa, apenas três fecharam em alta: JBS ON (+3,11%), Qualicorp ON (+1,99%) e Rumo Logística ON (+1,21%). Já as maiores baixas do índice ficaram com Klabin Unit (-6,17%), Lojas Americanas PN (-5,22%) e Marfrig ON (-4,56%).

Taxas de juros

O último dia de março foi marcado por alta generalizada e significativa das taxas de juros negociadas no mercado futuro. A recomposição de prêmios respondeu basicamente a dois fatores: o tom mais cauteloso do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central e as dúvidas que começam a pairar em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Havia nesta quinta-feira grande expectativa entre os investidores em torno do RTI, principalmente porque alguns índices de inflação vinham apontando desaceleração importante nos últimos dias. Foi o caso do IGP-M, divulgado ontem, que passou de 1,29% em fevereiro para 0,51% em março, alimentando apostas em um corte de juros no curto prazo. Com o RTI, essas apostas praticamente desapareceram.

No documento, o BC afirma que o momento atual não permite "flexibilização monetária" e reconhece, pela primeira vez, o estouro da meta de inflação em 2016. A autoridade monetária ressaltou ainda que há aumento de incertezas associadas ao balanço de riscos. A previsão para o PIB de 2016 foi revisada de -1,9% para -3,5%. A estimativa do IPCA deste ano passou de 6,2% para 6,6% no cenário de referência e de 6,3% para 6,9% no cenário de mercado.

O tom "hawkish" (duro) do BC teve impacto principalmente na ponta curta da curva de juros, uma vez que o mercado corrigiu posições que admitiam um afrouxamento da política monetária.

As taxas dos vencimentos mais longos também avançaram, dando continuidade à realização de lucros iniciada na véspera. O cenário político contribuiu para incentivar a cautela e o aumento dos prêmios de risco. Depois de formalizada a saída do PMDB da base de apoio do governo, pesaram dúvidas quanto às contraofensivas do governo.

Um dos destaques do noticiário político foi a declaração do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à tarde. Ele afirmou ter considerado "precipitada" a reunião da Executiva Nacional do PMDB que determinou o rompimento formal do partido com o governo. "É evidente que isso (a decisão do rompimento) precipitou reações em todas as órbitas: no PMDB, no governo, nos partidos da sustentação, nos partidos da oposição, o que significa em outras palavras, em bom português, que não foi um bom movimento, um movimento inteligente", criticou.

Nos negócios na BM&FBovespa, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para liquidação em janeiro de 2017 chegou ao final dos negócios na etapa regular com taxa de 13,885%, ante 13,760% do ajuste de ontem. O DI para janeiro de 2018 projetou 13,72%, de 13,46% do ajuste anterior. O vencimento de janeiro de 2021 teve a taxa elevada de 13,62% para 13,91%.

 



Veículo: Jornal Correio do Povo - RS


Veja também

Banco Central muda discurso e prevê inflação no centro da meta só em 2018

No Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem, o Banco Central (BC) adotou tom mais co...

Veja mais
BC revisa previsão para PIB de 2016 de -1,9% para -3,5%

Em meio ao conturbado cenário político, o Banco Central piorou fortemente a previsão de retra&ccedi...

Veja mais
Barbosa espera estabilizar dívida em 2017

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, disse esperar que seja possível estabilizar a dívida pública...

Veja mais
Queda no custo da energia elétrica puxa leve queda da inflação em março

A principal contribuição para a desaceleração registrada no Índice de Preços a...

Veja mais
Expectativa de inflação dos consumidores recua a 11,1%

Após 13 meses consecutivos de alta, o indicador de Expectativa de Inflação dos Consumidores fechou ...

Veja mais
Mercado está mais otimista com alguns indicadores

                    ...

Veja mais
Inflação para 2016 cai de 7,43% para 7,31%, aponta Focus

As projeções para o IPCA deste ano engataram tendência de queda e recuaram pela terceira semana cons...

Veja mais
Após 13 meses de alta, expectativa de inflação dos consumidores recua

                    ...

Veja mais
Inflação dá trégua, mas cenário ainda preocupa especialistas

                    ...

Veja mais