O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a rebaixar a previsão de desempenho econômico para o Brasil e alerta que as perspectivas para o país estão sujeitas a "grandes incertezas". A estimativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve encolher 3,8% em 2016, o pior desempenho entre os principais países do mundo, segundo o relatório Perspectiva Econômica Mundial divulgado nesta terça-feira. Em janeiro, o Fundo previa queda de 3,5% este ano para o Brasil. Para 2017, o FMI manteve a projeção de crescimento zero.
"Estas previsões estão sujeitas a grandes incertezas", advertem economistas da instituição no documento, que não cita explicitamente o cenário político brasileiro e traz recomendação para que o País tome medidas pelo lado dos impostos para melhorar as contas fiscais. Desde 2012, o Fundo vem rebaixando as previsões de PIB do Brasil a cada novo relatório divulgado e o relatório de hoje fala em recuperação "muito gradual" para o País.
O Fundo ressalta que caso a economia brasileira não se recupere como o previsto, o PIB fraco do país junto com o da Rússia, outro mercado em recessão, pode voltar a empurrar a expansão da economia mundial para baixo. Os dois países respondem por 6% do PIB do planeta e em janeiro, quando divulgou atualização das projeções, o FMI disse que um dos fatore que pesaram na redução da estimativa para o crescimento mundial foi a recessão no Brasil.
"A contração da economia brasileira vem sendo maior que a esperada, enquanto outros países da América Latina permanecem em linha com o previsto", afirma o FMI. Para os economistas do Fundo, a incerteza doméstica segue impedindo o governo de avançar com a reforma fiscal, ao mesmo tempo que a recessão afeta a renda e o emprego. "Com a expectativa de que muitos dos grandes choques de 2015 e 2016 se dissipem, e ajudado por uma moeda mais fraca, o crescimento no Brasil deve ficar positivo durante 2017, contudo, na média o PIB deve ficar estável", afirma o FMI.
A recomendação do FMI é que o Brasil persista com os esforços de consolidação fiscal. A melhora das contas públicas pode estimular uma reviravolta nos níveis de confiança dos consumidores e investidores, atualmente em níveis historicamente baixos. Com a "severa limitação" no corte de despesas discricionárias, que são gastos públicos vinculados, o FMI fala que medidas envolvendo impostos são necessárias no curto prazo, sem especificar quais seriam estas medidas. "Mas o desafio fiscal mais importante é resolver a rigidez dos gastos e a insustentável obrigatoriedade das despesas", afirma o FMI.
Inflação. Para a inflação, o FMI argumenta que a convergência dos índices de preços para a meta de 4,5% do Banco Central vai exigir uma "política monetária apertada". A projeção é que a inflação brasileira fique em 8,7% este ano e 6,1% em 2017, ambos em queda em relação a 2015, influenciada pela redução dos efeitos da depreciação do câmbio e do ajuste em preços administrados. A taxa de desemprego deve terminar o ano em 9,2% e subir ainda mais em 2017, atingindo 10,2%. O déficit em conta corrente deve ficar em 2% do PIB este ano e 1,5% em 2017.
Reformas estruturais para aumentar a produtividade e a competitividade são essenciais para revigorar o crescimento potencial do Brasil, conclui o relatório.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo