A nova equipe econômica anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está mais afinada e os nomes confirmados demonstram que o combate ao desarranjo fiscal será prioridade, avaliam especialistas.
Para eles, um maior alinhamento entre o Banco Central (BC) e a Fazenda tem potencial de restabelecer a confiança das empresas e dos consumidores na economia.
Indicado por Meirelles para liderar o BC, Ilan Goldfajn que, até ontem, era economista-chefe do Itaú Unibanco, ainda deve passar por uma sabatina no Senado Federal antes de assumir, o que pode levar cerca de um mês.
Já Carlos Hamilton, ex-diretor do BC, foi escolhido para comandar a Secretaria de Política Econômica da Fazenda, enquanto Mansueto Almeida ficou à frente da Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), órgão do mesmo ministério.
Meirelles anunciou ainda o economista Marcelo Caetano para a nova secretaria de Previdência Social e manteve Jorge Rachid como secretário da Receita Federal, bem como Otávio Ladeira na Secretária do Tesouro Nacional.
Para Ricardo Balistiero, especialista em economia do setor público do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), desde 2006 não havia afinidade entre os integrantes da equipe de política econômica do governo. "Quando o [Antonio] Palocci deixou a Fazenda e o [Guido] Mantega assumiu , a convergência de ideias entre a pasta e o BC se perdeu. Cada um desses órgãos passou a pensar de forma diferente", diz Balistiero, lembrando que Meirelles, naquela época, estava à frente do BC.
"Ter um objetivo em comum é importante para dar andamento nas medidas econômicas", acrescenta o especialista.
Foco no fiscal
Orlando Assunção Fernandes, professor de economia da ESPM, analisa que os integrantes da nova equipe do governo, por serem mais alinhados ao liberalismo econômico, terão como preocupação central a trajetória das contas públicas.
"A nova equipe será menos desenvolvimentista e mais fiscalista. A tradição liberal prioriza o ajuste das contas públicas, como medidas de limite para o gasto e formação de superávit primário para, depois, estabelecer políticas de estímulo ao crescimento econômico", explica.
Para ele, todos os nomes indicados por Meirelles apontam nessa direção. "Mansueto tem sido um severo crítico à trajetória fiscal que estava sendo verificada no governo Dilma [Rousseff]. Carlos Hamilton, quando estava no BC, sempre cuidou para que a política monetária não fosse frouxa e o Ilan, por sua vez, sempre mostrou preocupação com a política fiscal em seus relatórios divulgados pelo Itaú", comenta.
Balistiero concorda com Fernandes e reafirma que o perfil da nova equipe mostra que a condução da política econômica terá como prioridade colocar a inflação na meta (4,5%) e gerar superávit primário para estabilizar a relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB).
Fernandes pontua ainda que, no que diz respeito à composição do Ministério da Fazenda, a última vez em que se verificou uma equipe mais afinada foi durante a gestão de Pedro Malan, no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). "Naquela época, a equipe foi composta por economistas mais liberais, diferentemente da época do Palocci, onde havia mais mescla de linhas de pensamento na Fazenda", considera o professor.
Repercussão
Ontem, entidades de classe também se posicionaram sobre as indicações de Meirelles. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), por exemplo, afirmou que os novos integrantes da equipe econômica reforçam a sinalização de que o governo interino de Michel Temer buscará maior coordenação entre as políticas monetária e fiscal. "Isto é imprescindível para a retomada de confiança dos agentes econômicos e a recuperação da economia", comentou.
A FecomercioSP também elogiou a afinidade da nova equipe econômica, característica que, para a associação, "é uma das notícias mais positivas até agora, já que ela deve facilitar a coordenação entre políticas fiscal e monetária, diminuindo assim os custos da estabilização dos preços".
Veículo: Jornal DCI