São Paulo - A saída do Reino Unido da União Europeia deve ter um impacto econômico significativo sobre o país e o bloco, mas suas repercussões vão muito além.
Ninguém deve passar incólume pelo "risco político mais significativo para o mundo desde a crise dos mísseis em Cuba", de acordo com Ian Bremmer, presidente da Eurasia.
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Mas o que acontece com o Brasil especificamente? No curto prazo, volatilidade: nessa sexta-feira, o dólar disparava mais de 2,5% e voltava acima dos 3,40 reais.
"A Brexit faz os mercados financeiros se afastarem do risco. E ao fazer isso, vão focar em sair e se rebalancear dos mercados maiores e mais líquidos. Isso significa primeiro e inicialmente o México, que tem um mercado líquido e de 24 horas, mas também significa Brasil", diz Barry Eichengreen, professor de Economia e Ciência Política na Universidade de California em Berkeley.
Um dólar mais alto atrapalha a inflação e a consequente queda dos juros, mas ajuda no ajuste das contas externas e na recuperação econômica através das exportações.
Mas analistas apontam que apesar das turbulências de curto prazo, o mercado cambial brasileiro vai continuar sendo dominado por questões domésticas e políticas como impeachment, teto de gastos e reforma da previdência.
Em nível mundial, a dúvida é sobre as consequências mais amplas da decisão. Outros países vão tentar sair da União Europeia? Ou as regras podem mudar para desencorajar esse tipo de reação? Como os bancos centrais vão reagir?
Uma grande dúvida é se a Brexit pode ser o sinal mais visível de uma reação mais generalizada contra a globalização em nível mundial.
O discurso de Donald Trump, candidato republicano nos Estados Unidos, ecoa vários aspectos da campanha pela Brexit, algo que ele próprio destacou hoje.
"Existe uma reação contra o comércio e a globalização mas eu acho que é muito mais focada no movimento de pessoas do que de bens. O efeito no Brasil é incerto: se há sinais de que o mundo está se distanciando do comércio livre, é ruim para todos, mas é cedo demais para dizer se é esse o caso", diz Russ Roberts, pesquisador em Stanford e anfitrião do podcast EconTalk.
No Brasil, os sinais são de que uma nova abordagem de comércio exterior será tentada após anos de fechamento e aposta em um multilateralismo que parou de dar frutos.
A economia brasileira é a mais fechada do G-20, segundo estudo recente da Câmara de Comércio Mundial. As exportações são apenas cerca de 12% do nosso PIB, contra 24% na Índia e 32% na Espanha.
Nosso último tratado de livre-comércio foi com Israel, em 2010. Não estamos há tanto tempo sem um novo desde o início do Mercosul em 1992 e uma das perspectivas mais sólidas é justamente de um acordo com a União Europeia.
"O impacto para nós no longo prazo pode ser positivo se seguirmos a trajetória de reformas que se começou agora. Em um mundo cada vez mais fechado e nacionalista ganhará quem conseguir seguir o caminho inverso e o Brasil é candidato a isso. Por isso, talvez o maior impacto do Brexit é reforçar a decisão de seguir com as reformas na economia", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Veículo: Exame