Queda nas vendas do varejo em maio acaba com a esperança de retomada

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Retração de 10,2% no volume de negócios do varejo ampliado no mês, sobre um ano antes, devolveu o tom negativo para as análises das entidades do setor, que antes previam uma melhora


 
São Paulo - A queda de 10,2% nas vendas do varejo em maio, na comparação interanual e divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve carimbar este como o pior ano para o comércio. Foi um balde de água fria para as expectativas mais otimistas de uma retomada do setor.
 
O quadro que surge com os resultados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) é tão grave que a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revisou para baixo a previsão para as vendas do ano, que passou de 4,8% para 5,6% de retração no varejo restrito; e de 9,4% para 10,6% no varejo ampliado (que considera o setor automotivo e material de construção). "Esses dados acabam com qualquer esperança de que haja uma recuperação do varejo ainda este ano", diz o economista da CNC, Fabio Bentes.
 
A gravidade dos resultados da PMC decorre também do fato de virem em um momento em que a expectativa era de melhora. "Foi uma surpresa negativa para nós. Esperávamos que a queda fosse se amenizar, mas o que aconteceu foi justamente o oposto: uma aceleração da retração", explica o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Guilherme Dietze.
 
Esse prognóstico mais otimista que vinha se formando no mercado nos últimos meses estava muito ligado a uma melhora nos indicadores de confiança do consumidor e do empresariado.
 
No entanto, os dois economistas ouvidos pelo DCI ressaltam que essa melhora no ânimo decorria muito mais de um excesso de otimismo com a mudança do quadro político do que de um progresso real da situação econômica do País. "A confiança tinha melhorado porque se estava dando um crédito para o novo governo. Mas os dados da PMC mostram que a situação segue grave", diz Dietze.
 
No varejo ampliado a queda de 10,2% nas vendas já representa o 24° mês consecutivo de retração, na comparação interanual. O dado revela ainda um movimento de piora mês a mês, já que em março esse recuo tinha sido de 7,9% e em abril de 9,2%. Além disso, outro aspecto que revela a atual fragilidade da conjuntura varejista é a fraca base comparativa, uma vez que em maio do ano passado o setor já havia registrado retração de 10,4%.
 
No varejo restrito a queda foi um pouco menor, de 9%, mas já representa a 14° queda consecutiva nessa análise. Em relação ao mês imediatamente anterior, a queda foi de 1%. Ambos os resultados são os piores da série para maio desde o seu início, em 2001. Com esses indicadores o varejo acumula recuo de 7,3% nos cinco primeiros meses do ano e de 6,5% nos últimos 12 meses.
 
Queda por segmento
 

Na análise dos diferentes segmentos do varejo, os economistas ressaltam que os que são mais dependentes do crédito foram os que tiveram os piores resultados no período. "Por 10 meses, desde agosto de 2015 até maio deste ano, tivemos alta dos juros ao consumidor. É natural que o setor de bens duráveis seja o mais afetado", afirma Bentes, da CNC, complementando que esse setor ainda está longe de chegar ao fundo do poço. Dietze concorda: "Os juros estão elevados e a oferta de crédito escassa. Tudo isso acaba desestimulando o consumo desses artigos".
 
Das oito categorias analisadas no varejo restrito, todas apresentaram resultados negativos na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Por ordem de contribuição negativa à taxa total (-9,0%), os resultados foram: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-5,6%); outros artigos de uso pessoal e doméstico (-15,5%); móveis e eletrodomésticos (-14,6%); combustíveis e lubrificantes (-10,9%); tecidos, vestuário e calçados (-13,5%); artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-2,6%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-14,4%); e livros, jornais, revistas e papelaria (-24,2%).
 
Os dois segmentos que são incluídos no varejo ampliado também tiveram forte queda, na mesma base comparativa, puxando ainda mais para baixo o resultado nessa análise. O setor de veículos e motos, partes e peças apresentou recuo de 13,3% e o de material de construção de 10,6%.
 
Retomada
 
Diante desse cenário, uma retomada do setor ainda deve estar longe de ocorrer. Ambos os economistas acreditam que uma recuperação do varejo só deva ser sentida em 2017, e isso caso "tudo ocorra da forma como está sendo desenhada. Com o ajuste fiscal, corte de despesas, aumento de receita", diz Dietze, da FecomercioSP.
 
Bentes, da CNC, concorda, mas possui uma visão ainda mais cautelosa. "Há uma chance de crescimento no ano que vem, mas o cenário ainda é muito nebuloso. Vai depender de muitas variáveis", diz.
 
Para que haja uma retomada forte do setor, explicam eles, é fundamental que haja primeiro uma recuperação nos dois principais fatores que influenciam o consumo: a renda e o emprego. Prova de que a situação para este ano é extremamente complicado é a previsão da CNC a respeito do emprego no varejo. Segundo a entidade do comércio, devem ser fechadas 278 mil vagas em 2016. "Com esse resultado de maio, acredito que devemos rever essa previsão. O valor deve ser ainda maior", diz Bentes.
 
Veículo: DCI


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