A economia do Brasil irá recuar 0,3% em 2009, segundo expectativa da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgada em Paris. A pesar da desaceleração intensa, a previsão é de que o País pode retomar o crescimento em 2009 e em 2010, por conta da queda nas taxas de juros e do aumento nas concessões de crédito. Entre os países do Bric, apenas a Rússia terá um desempenho pior, enquanto China e Índia devem manter a evolução, apesar da crise. Segundo o estudo, o Produto Interno Bruto (PIB) dos países-membros da organização cairá 4,35% em média em 2009 e 0,1% em 2010.
"O baque da economia brasileira tem sido agudo, mas já há sinais de que uma retomada é possível ainda este ano", afirma Luiz de Mello, economista que acompanha o Brasil no Departamento Econômico da OCDE.
O resultado é contrário ao estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que prevêem crescimento entre 1,5% e 2,5% para os emergentes em 2009. Em conjunto estão as projeções do Banco Mundial que espera uma alta de 0,5% ao ano e o Boletim Focus, elaborado pelo Banco Central, que prevê estagnação da economia brasileira.
Para o professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, Antônio Colangelo Luz, a previsão mais factível é de que o crescimento do Brasil estará estagnado ou crescerá 0,3% em 2009.
Recessão global
Depois do crescimento médio de 8% nos últimos anos, o comércio mundial entrou em colapso no último trimestre de 2008 e afetou todas as regiões, mas a OCDE insistiu que a crise atual não tem comparação com a Grande Depressão iniciada em 1929.
O economista-chefe da OCDE, Klaus Schmidt-Hebbel, destacou que "nenhum dos países-membros do organismo escapará da recessão em 2009".
A projeção para o comércio mundial da OCDE é de maior queda, com 13,2% para 2009, perante contração de 9% estimada pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e o recuo de 0,5% a 1% para o PIB mundial previsto pelo FMI.
Colangelo ainda afirma que o crescimento mundial terá uma retração, que deve apresentar quedas por volta dos 3% ou 4%, "o que já seria uma queda extremamente significativa".
"O crescimento do PIB mundial em termos reais deverá se desacelerar em 2,75% neste ano, antes de ganhar 1,25% em 2010", afirma Klaus. Conforme as estimativas, a economia dos Estados Unidos apresentará uma recessão de 4% em 2009, valor muito próximo do desempenho da zona euro, que será negativo em 4,1%. No Japão, a queda será ainda maior, 6,6% em seu PIB até o final de 2009 e de 0,5% no ano seguinte.
Em 2010, a entidade relata uma expectativa de que esses mercados permanecerão, via de regra, estagnados.
"O comércio internacional continuará em queda no primeiro semestre, mas poderá frear essa situação até o fim do ano e registrar uma recuperação em 2010 graças ao crescimento do Bric", segundo a OCDE.
Para este ano e para 2010, a OCDE prevê que o conjunto destes planos representará 0,5% do PIB de seus países-membros.
O Banco Mundial também reviu suas previsões para a economia de diversos países e espera que a economia global recue 1,7% neste ano.
Bric
A OCDE também analisou os quatro principais emergentes, mostrando que a situação do Brasil ainda não é tão ruim quanto a da Rússia, por exemplo. Com a economia em colapso e o país torrando suas reservas internacionais, a Rússia sofrerá mais, com uma queda estimada em 5,6% do PIB comparado à estimativa positiva de 2,3% em dezembro do ano passado.
China e Índia, embora em menor ritmo, manterão o crescimento positivo em 2009. A China crescerá 6,3%, ao invés dos 8% previstos , e a Índia avançará 4,3% e não 7,3% esperados. Sendo estes os valores mínimos necessários para geração de empregos.
"As grandes economias que não fazem parte da zona OCDE não são poupadas de uma brusca desaceleração do crescimento ou uma recessão pura e simples", afirma Schmidt-Hebbel.
Acompanhando a corrente, o Banco Mundial prevê que o crescimento nas economias emergentes deve desacelerar em 2,1% até o final de 2009.
O governo brasileiro, com seu otimismo e sua performance razoável, também será atingido em 2009. Segundo a OCDE, o Brasil registrará recuo de 0,3%, ante a previsão de crescimento de 3% do relatório anterior, por conta do estrago que seus parceiros vem sofrendo com a crise. Em 2010, a perspectiva melhora e passa para 3,8% positivo. "As atividades comerciais perderam muito de seu impulso durante o último trimestre de 2008, puxadas pela queda da produção industrial", informa a entidade.
A instituição prevê ainda que o País viverá uma retomada vigorosa em 2010, graças em especial ao dinamismo das exportações e importações de países não membros da OCDE. "O crescimento deve se acelerar sensivelmente no Brasil, China e Índia, sob o efeito das medidas de estímulo chinês." A Rússia, porém, não deve desfrutar do cenário positivo.
Desemprego
A desaceleração mundial terá repercussão direta no mercado de trabalho. O desemprego deverá aumentar em todos os países OCDE, com ápice em 2010 e no início de 2011, quando o índice passará de 10%, pela primeira vez desde 1990. "O desemprego quase dobrará em relação ao seu nível de 2007 nos países do G-7, os quais somarão cerca de 36 milhões de desempregados no fim de 2010", afirma o economista da entidade.
Segundo Klaus, a OCDE espera que a taxa média de desemprego em seus países passe de 6% em 2008 para 8,4% neste ano e 9,9% no próximo.
"O desemprego está alto, esperamos que isso entre em ritmo menor. Mundialmente o índice passará dos 13%. No Brasil, o desemprego está mais localizado em alguns setores, e mesmo assim, teremos uma taxa de 18%", argumenta Colangelo.
A OCDE também estima que a crise provocará "uma subutilização excepcional dos recursos", o que terá como consequência, níveis de inflação "próximos a zero em vários países da OCDE".
Para frear a "hemorragia econômica" é necessária uma ação decisiva sobre os ativos dos bancos e o problema de solvência do setor. Medidas suplementares de aspecto macroeconômico são consideradas cruciais.
Protecionismo
Em seu relatório a OCDE, recomenda aos países resistirem, à tentação de estabelecer medidas protecionistas.
"O protecionismo frente ao investimento continua sendo uma ameaça, mas, até agora, os governos majoritariamente resistiram à imposição de barreiras", afirmou o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría.
Veículo: DCI