O desempenho fraco da produção industrial no primeiro bimestre reforça as projeções de uma variação próxima de zero do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros três meses de 2009 em relação ao trimestre anterior. Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, o Brasil já pode ter entrado em uma recessão técnica - que é constatada após dois trimestres consecutivos de retração da atividade econômica.
Em fevereiro, a indústria produziu apenas 1,8% a mais que em janeiro, quando a produção cresceu 2,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. As duas taxas ficaram abaixo do previsto por analistas. Para fevereiro as projeções estavam entre 2,2% e 5,7%. Na comparação com fevereiro de 2008 a indústria teve uma redução de 17%, menor que a taxa vista um mês antes
(-17,4%). "Esse resultado abaixo do esperado sinaliza que, neste primeiro trimestre, a variação dessazonalizada do PIB brasileiro deve estar correndo mais próxima do piso do que do teto de nossa estimativa, que está num intervalo entre queda de 0,5% e alta de 0,5%", disse Borges, que aposta que a economia vai crescer 1% em 2009.
Já Cristiano Souza, do Santander, espera um PIB estagnado no primeiro trimestre na comparação com os últimos três meses do ano passado. Para o economista, mesmo que não se confirme um cenário de recessão técnica, será um resultado muito fraco, após a forte retração registrada no final do passado. "Estamos vendo um pouco mais de produção, mas não há indícios de uma tendência de crescimento no nível de atividade", comenta Souza, que também prevê variação nula para o PIB brasileiro neste ano.
Viés de baixa
A Rosenberg & Associados não fechou uma projeção para o desempenho do PIB no primeiro trimestre do ano. "Mas, mesmo se for positivo, será muito baixo", comenta Thaís Marzola Zara. Para o ano de 2009, previsão é de um crescimento de 0,8%, com viés de baixa.
Na avaliação da economista, a indústria ainda está distante de uma recuperação a patamares mais elevados de produção. O crescimento de 4% no primeiro bimestre em relação aos dois meses anteriores ocorreu após uma queda de 20,1% no quarto trimestre de 2008. "Com esse avanço tão pequeno frente à magnitude da retração anterior, a produção industrial voltou aos níveis observados em junho de 2004", diz.
Inflexão rápida
Os economistas esperam uma queda entre 3,5% e 4% na atividade industrial neste ano. No acumulado de 12 meses até fevereiro, a produção teve redução de 1%, a primeira queda desde setembro de 2002, quando caiu 0,4%. "A inflexão vista nos últimos meses é a mais rápida em todo o histórico da série, passando de 6,87% (em julho) para -1% em apenas 8 meses", destaca José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Embora os resultados de janeiro e fevereiro tenham se mostrado abaixo das estimativas, segundo Borges, da LCA, parece ser bastante provável que parte da alta que não "apareceu" nos números do primeiro bimestre possa surgir nos dados de março.
"Corrobora essa perspectiva o fato de que a sondagem industrial da Fundação Getúlio Vargas (FGV) ter apurado uma diferença de 10 pontos percentuais entre a proporção de indústrias que pretendem expandir a produção no trimestre março/maio, sobre o trimestre imediatamente anterior, e a fração que pretende reduzi-la - o que correspondeu à primeira leitura positiva desde novembro e a maior desde outubro", explica o economista da LCA.
Veículo: Gazeta Mercantil