Os empresários preparam um forte ajuste para adaptar suas operações ao quadro de desaceleração econômica e enfrentam um processo de revisão de modelo de negócios. De acordo com pesquisa realizada pela Ernst & Young, o corte de custos está nos planos de 87% dos líderes empresariais ouvidos pela consultoria, 53% pretendem reduzir investimentos e 47% preveem diminuir o número de vagas nos próximos 12 meses.
A compressão da estrutura das operações a um patamar mais baixo revela uma contradição em relação às projeções relativas ao desempenho das vendas e faturamento. A sondagem, realizada com 15 empresas com faturamento anual de até R$ 1,5 bilhão, mostra que 53% confiam que serão capazes de manter ou melhorar os resultados neste ano. "As contradições demonstram que ainda há dúvidas e os empresários não sabem exatamente qual o contorno da crise e seu impacto", afirma Carlos Miranda, sócio da Ernst & Young.
A dificuldade de delinear o alcance e de saber a exata extensão da turbulência econômica são componentes que atuam na formação das expectativas. "Esses são componentes que podem mexer com a confiança do empresário e nos planos de ação", assinala. A medida que a crise se define, as empresas começam a dimensionar os cortes.
A pesquisa mostrou que as medidas para reduzir o ritmo e o peso da folha de pagamentos convivem com a perspectiva de sustentar parte da força de trabalho que será útil para a empresa quando ocorrer uma retomada. A adoção alternativas para evitar as demissões estão entre as prioridades de 100% dos líderes empresariais. A concessão de férias antecipadas, programas de treinamento e revisão dos níveis de estoque integram a lista de recursos adotados pelas companhias. O congelamento de vagas, gerenciamento da reposição de pessoal, adiamento de projetos e aumento da força de vendas completam o conjunto de medidas apontadas pelos empresários para reduzir o volume de cortes de mão-de-obra.
"O empreendedor tem metas agressivas, defende as pessoas que trabalham com ele, mas sabe que há uma pressão externa", comenta Miranda. A decisão de cortar pessoas e custos está relacionada ao tempo que durar a crise. Segundo ele, os empresários, mesmo que não cresçam, planejam mudar o mix de produtos e começam a promover um rearranjo interno e a olhar outros mercados. "Há uma revisão no modelo de negócio."
A abertura de capital está fora dos planos de 53% dos entrevistados. Uma parcela das empresas (13%) diz ter abandonado os planos de abrir o capital com a crise.
Se existe dificuldade para se saber o tamanho da crise, há uma forte convergência em relação a sua duração. Para 73% dos executivos, a desaceleração econômica deve se manter pelo prazo de um a dois anos. "Essa é a média mais comum e confortável", avalia. Uma parcela de 13% da amostra se mostra mais otimista e espera uma reação em menos de um ano.
Os empresários não subestimam os efeitos da crise internacional e 60% esperaram um impacto severo na economia brasileira e 33% acreditam que os danos serão baixos para a atividade do País.
A redução das taxas de juros básicos, adoção de políticas de crédito, cortes de gastos governamentais e expansão dos investimentos em infraestrutura são pontos de convergência entre os empresários. "No Brasil, há um aspecto efetivo e psicológico da crise. Muitos acreditam que o papel do empresariado e do governo pode ajudar a mudar um pouco a visão pessimista", diz.
Estas ações deveriam ser incrementadas por incentivo ao consumo interno, desoneração fiscal, gerenciamento da crise e flexibilização dos contratos de mão de obra. A redução do tamanho do Estado na economia, por meio de privatizações, e do custo Brasil foram considerados fatores importantes para ampliar o nível de atividade.
Para Miranda, se o governo " sinalizar que está fazendo seu dever de casa" o humor dos empresários pode começar a mudar. As publicações dos balanços e o comportamento da Bolsa de Valores terão efeito também nas expectativas.
Do ponto de vista de gestão, a criatividade, estímulo ao diálogo interno, objetividade, simplicidade e capacidade de reter talentos aparecem como características principais. A transparência e a ética foram citadas também como elementos importantes em um período de turbulência.
Veículo: Gazeta Mercantil