São Paulo - Estoques ajustados, expectativa de demanda firme por carne bovina no mercado externo e perspectiva de incremento das vendas internas devem proporcionar um ano favorável para a indústria de carnes em 2018, projetam especialistas. Para a cotação da arroba, a estimativa é de estabilidade.
"Há uma grande aposta na retomada da demanda do mercado interno, com um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) estimado em até 2% para o ano que vem, o que seria um cenário positivo para o setor", avalia o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), Daniel Latorraca Ferreira.
O cenário foi debatido no Encontro de Analistas da Scot Consultoria, em São Paulo, na sexta-feira (17).
Segundo Ferreira, esse aumento de demanda poderá manter a arroba estabilizada em relação aos patamares atuais, mesmo considerando a perspectiva de uma oferta maior de animais para abate no ano que vem. "Em Mato Grosso, por exemplo, temos mais plantas abatendo bovinos e a expectativa é de que outras unidades reabram, o que deve manter a cotação firme", projeta Ferreira.
Para o proprietário da Scot Consultoria, Alcides Torres, o fato de 2018 ser um ano eleitoral favorece o aumento do consumo em geral - o que inclui carnes - perspectiva compartilhada pelo analista Leandro Bovo. "Tradicionalmente, ano de eleição tem demanda 25% maior de carne, em média."
No entanto, o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Sérgio De Zen, alerta que, ao contrário de anos anteriores, o atual presidente não está envolvido na corrida eleitoral. "[Michel Temer] é impopular e não deve lançar candidato, então a gente não deve esperar esse choque de demanda no Brasil. Vamos depender mais do mercado externo para que as perspectivas de um ano positivo se concretizem", avalia o pesquisador do Cepea. "Mas se houver alguma crise de confiança lá fora em relação à carne brasileira, nós vamos para o buraco", destacou De Zen.
Para o analista Ivan Wedekin, o cenário para a pecuária no próximo ano dependerá mais da oferta de animais para abate do que mudanças no ritmo da demanda. "O retorno ao consumo de carnes não deve ser a prioridade do brasileiro, embora eu acredite que as vendas no mercado interno deverão avançar", observa.
Nesse sentido, a expectativa do analista da Scot Consultoria, Alex Lopes, é de uma maior oferta de bezerros e de um maior abate de fêmeas no ano que vem, especialmente no primeiro trimestre, com o descarte de fêmeas e a entrada dos animais de confinamento.
Ainda assim, conforme o sócio-consultor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, a perspectiva é otimista para o setor em 2018. "A gente já detecta um cenário macroeconômico mais positivo neste fim de ano em relação ao mesmo período do ano passado e ao começo de 2017", pondera. "A intensidade da recuperação da carne vermelha pode ser mais lenta que de outros tipos, mas ela virá", assegurou.
Para De Zen, o pecuarista deve ter cautela e evitar correr riscos em 2018. "É fundamental que o produtor não tome decisões precipitadas."
Qualidade
Na avaliação de De Zen, o mercado de carne bovina passa por uma transformação no Brasil. "O consumo da carne commodity caiu, mas a de maior qualidade não", argumenta o analista.
O CEO do Frigol, Luciano Pascon, concorda. "Essa mudança é notória. No ano passado, 90% da nossa produção era de carne commodity. Hoje, esse produto representa 65% do total", afirmou.
Para ele, o avanço da produção de carne de maior qualidade impulsionará o consumo. "A partir do momento em que se oferece um produto melhor ao consumidor, ele tende a consumir mais, mesmo com preço mais elevado."
A companhia anunciou na semana passada o arrendamento de unidade de abate em Cachoeira Alta, Goiás, que pertence ao Rodopa, ampliando a capacidade de abate para 60 mil cabeças por mês e o faturamento para algo próximo de R$ 2 bilhões no ano que vem. "Nós avaliamos e buscamos outras oportunidades para 2018", destacou o CEO.
Fonte DCI São Paulo