O mercado interno, sustentado pelos gastos do setor privado, que inclui o consumo das famílias, e do governo, deve amortecer a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre na avaliação do economista Leandro Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apesar do consumo aquecido, Carvalho estima que o PIB do trimestre deve ter crescimento em torno de zero e ficar entre menos 0,5% ou crescer 0,5% na comparação com o trimestre anterior (o quarto de 2008).
Na comparação com igual período no ano passado, a queda deve ficar entre zero e 1%. Por essa razão, a chamada recessão técnica não está descartada para o trimestre. Ela acontece quando há queda do PIB em dois trimestres consecutivos. No último trimestre de 2008, o PIB registrou retração de 3,6% sobre o trimestre anterior.
Para o ano, porém, a economia deve apresentar uma ligeira recuperação e crescer entre 1,5% a 2,5%, de acordo com as estimativas do instituto, vinculado ao Ministério do Planejamento. A projeção está alinhada com as previsões do governo federal, de alta de 2%. São apostas otimistas, se considerar as do Fundo Monetário Internacional (FMI) que espera retração de 1,3% para economia brasileira este ano. "Dados os esforços do governo em relação às políticas monetária e fiscal a economia deverá crescer nesses intervalos (1,5% e 2,5%)", analisou Carvalho.
Na avaliação do economista do IPEA, o consumo continua aquecido. Dessa forma, deve compensar, em parte, as perdas com gastos em Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - investimentos produtivos na economia - e da produção industrial no PIB do trimestre. A redução das exportações também deve contribuir para o desaquecimento do PIB no trimestre. Segundo o boletim "Radar", divulgado pelo órgão nesta semana, a produção industrial deve ter caído 3,4% entre janeiro e março, sobre igual etapa do ano anterior. Apenas em março, o economista do IPEA acredita que a produção industrial deve recuar 8,6% sobre março do ano anterior.
Os investimentos na economia, que representam 20% do PIB, mantiveram a tendência de queda no primeiro trimestre. O economista do IPEA informou que esses investimentos caíram 18,4% no primeiro bimestre deste ano, sobre igual etapa de 2008, se levado em conta o consumo "aparente" de máquinas e equipamentos no primeiro bimestre. Para elaborar este cálculo é levada em conta a produção interna de bens de capital e a importação deste setor, descontadas as exportações. Em janeiro, a queda foi de 13,4% sobre janeiro de 2008, enquanto que em fevereiro, o recuo foi de 23,5%. A previsão é de recuo menor em março (- 8,6%) em relação a igual mês do ano anterior - porém, insuficiente para "salvar o trimestre".
Os resultados ruins dos investimentos no terceiro trimestre, Carvalho colocam o foco sobre as importações de bens de capital, que devem ficar negativas entre janeiro e março. Dados do Ministério, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), mostram que as compras externas de bens de capital que no primeiro bimestre de 2008 somaram US$ 5,242 bilhões, recuaram 15,07% para US$ 4,452 bilhões em igual etapa deste ano. As importações de máquinas industriais, as maiores dentro do segmento bens de capital, se retraíram 6,93% para US$ 1,593 bilhão entre janeiro e fevereiro.
Carvalho avalia, entretanto, que o consumo interno deve compensar em parte a retração dos investimentos no PIB no trimestre. O consumo interno responde por 60% e os investimentos por 20% na composição do PIB. "Tudo vai depender de como se comportará o consumo interno dentro do PIB", analisou o economista.
Otimista, Carvalho acredita que o consumo interno deve crescer em março pelo terceiro mês consecutivo, a despeito da crise internacional. Tal aumento deve ser beneficiado pelas vendas do varejo, puxadas, dentre outras medidas, pelo reajuste do salário mínimo e desonerações do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para bens não duráveis. Tais como o setor automotivo, cujos estoques em março já demonstram que voltaram aos patamares normais para o período, depois de uma trajetória de queda motivada pela crise internacional.
Como exemplo, o economista do IPEA destacou o resultado da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do IBGE - termômetro que mede o desempenho do consumo interno --que no bimestre acumula alta de 2%, em média. Em janeiro subiu 1,8% sobre dezembro e 6% sobre janeiro de 2008. Em fevereiro, ficou 1,5% maior que o mês anterior e 3,8% superior a fevereiro de 2008. "Em março essa tendência não deve ser invertida. Para março, esperamos aumento", avalia.
Carvalho prevê recuperação de alguns setores internos. É o caso da indústria automobilística, cujos estoques dobraram para 300 mil unidades depois do agravamento da crise, mas já caíram para 180 mil. "O que mostra que os estoques voltaram para os níveis normais".
Ainda assim, pelo tombo de 31% da produção industrial nacional registrado entre outubro de 2008 e fevereiro deste ano, a indústria deve levar tempo para se recuperar. "Para não apresentar queda este ano a produção industrial deve crescer 3% por mês, em média até o fim do ano", declarou.
Veículo: Gazeta Mercantil