O ano de 2008 foi marcado pela explosão do uso do cartão de débito e da queda do uso do cheque para os brasileiros. No ano passado, a quantidade de transações com cartões de débito cresceu 27% na comparação com 2007, período em que o número de cheques emitidos caiu 5,2%. Os cartões de crédito também cresceram em 23,5%, fôlego que garantiu a vice-liderança no ranking da expansão dos meios de pagamentos.
Mesmo com maior acesso aos meios eletrônicos, os brasileiros não abrem mão de ter dinheiro vivo na carteira. A média de quantidade de papel-moeda per capita chegou a R$ 408,93 no ano passado, frente R$ 350,84 em 2007. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central e fazem parte do "Diagnóstico do Sistema de Pagamentos de Varejo no Brasil", estudo publicado anualmente desde maio de 2005. A versão divulgada ontem traz os dados referentes a 2008. Para o BC, a consolidação da pesquisa indica que há continuidade do aumento da utilização de papel-moeda e dos instrumentos eletrônicos de pagamento.
Nos últimos quatro anos, o pagamento eletrônico cresceu 17% por ano, enquanto que a quantidade de cheques emitidos caiu 9,3%. Em 2008, houve 1,373 bilhão de cheques que circularam com liquidação interbancária, frente 2,136 bilhões em 2003. Já a quantidade de transações com cartões de débito saltou de 662 milhões, em 2003, para 2,1 bilhões no ano passado.
De acordo com o estudo do BC, a substituição do cheque por meios eletrônicos ocorre nas transações de menor valor. O valor médio dos cheques, no ano passado, chegou a R$ 835,00, contra R$ 716,00 em 2007. No mesmo período, o valor médio por transação com cartão de débito manteve-se em R$ 49,00, enquanto que a operação média com cartão de crédito subiu de R$ 84,00 para R$ 86,00. Ou seja, o cheque mantém-se firme em um nicho específico das transações."Há espaço para criação de facilidades adicionais que possibilitem pagamentos de maior valor comandados eletronicamente a partir de pontos de venda", cita o relatório do Banco Central, referindo-se a operações unitárias de valor menor que R$ 5 mil. Acima desse limite, as operações devem ocorrer por meio de Transferência Eletrônica Disponível (TED), mecanismo lançado em 2002 quando foi criado o novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
O potencial de expansão dos cartões foi comprovado em 2008, quando pela primeira vez os cartões de débito cresceram mais que os de crédito. Em quantidade de cartões no mercado, o crescimento foi de 14% no segmento de débito e de 12% nos cartões de crédito.
O BC prevê aumento da presença dos cartões de débito levando em consideração a "baixa frequência" de uso do produto: em 2007, cada cartão de débito registrou média de 9,3 transações por ano. Na Suécia, foram mais de 124 usos por ano, chegando a 159 na Finlândia. Já os cartões de crédito registraram, no ano passado, 18,4 transações por unidade, o que se aproxima mais do que ocorre em outros países (15,4 usos por ano, na França, e 14,6 usos, na Itália). As comparações com outros países consideram dados de 2007, devido à defasagem das informações internacionais.
O estudo do Banco Central trata também do perfil do relacionamento entre clientes e instituições financeiras. Nada menos de 32% das transações bancárias realizadas no ano passado foram feitas por meio das redes de autoatendimento (ATMs). Foram realizadas por esse meio 7,921 bilhões de transações no ano passado, frente a 5,672 milhões, em 2003. A internet ficou com o segundo lugar no ranking, responsável por 29% das transações bancárias feitas em 2008. O BC considera que o Brasil tem uma quantidade razoável de ATMs: eram 832 terminais de atendimento para cada grupo de um milhão de habitantes, frente 646 terminais em 2001. O número se equipara ao da Alemanha, onde em 2007 havia 831 terminais para cada milhão de habitantes.
Plásticos devem movimentar R$ 1 trilhão
O setor de cartões como um todo - incluindo os tradicionais débito e crédito e também os de serviços, como transporte, odontológico, médico, de desconto e alimen-tação - devem movimentar este ano algo próximo de R$ 1 trilhão. A estimativa foi feita por Gilberto Dib, presidente da Dib & Associados. Para chegar a este valor, Dib utilizou um cálculo do valor implícito dos cartões de serviços.
"Esse valor, como não é pago na hora ou diretamente pelo usuário, passa despercebido, mas ele é relevante porque dá a dimensão da importância dos plásticos no dia-a-dia das pessoas", explica o executivo. "Para chegar ao total estimado, calculamos o valor implícito no cartão, ou seja, o preço do serviço a que o cartão dá direito, no caso de um plano de saúde a consulta, por exemplo", explica. Segundo estimativa divulgada por Dib durante o Cards 2009 - evento em São Paulo que discute as principais tendências para o setor - cada brasileiro têm, em média, cinco cartões na carteira, entre débito, crédito e de serviços.
Nas modalidades crédito, débito e private label, ou cartões de loja, existem no mercado brasileiro aproximadamente 500 milhões de unidades em circulação. Já os cartões de serviços são bem mais numerosos e, segundo Dib, devem fechar o ano próximos da marca de 1 bilhão de plásticos. "Eles são mais numerosos, mas o valor médio implícito nos serviços a que os cartões dão acesso é menor, movimentando anualmente perto de R$ 500 bilhões", diz. "Somado aos outros quase R$ 500 bilhões dos cartões de crédito e débito temos R$ 1 trilhão movimentado por plásticos ou o equivalente a 30% do PIB nacional", comenta Dib. "É algo muito relevante, mas o potencial a ser explorado ainda é enorme", diz, lembrando da subutilização do cartão com chip, ou smart cards, pelos bancos.
"Os bancos só decidiram massificar o uso de chip nos cartões de crédito e débito no ano passado, com atraso, e ainda estão longe de migrar totalmente a base", diz Gilberto Dib. Hoje, do total de cartões emitidos, os "chipados" somam 250 milhões, sendo 30 milhões, em média, de cartões bancários. "A migração está sendo puxada, principalmente, pelos cartões de bilhetagem eletrônica, como os usados em transportes públicos", lembra Dib. Mas o pior, para o consultor, é a utilização limitada do chip pelas instituições financeiras. Hoje, eles são usados apenas para garantir a segurança do cartão.
Chip
"Isso é pouco. O chip pode permitir, por exemplo, que o cliente veja todas as suas últimas transações ao conectar o cartão na máquina. Além disso, produtos e serviços diferenciados podem ser embutidos no cartão graças ao chip", explica. "Os cartões de transporte, por exemplo, têm funcionalidades como valor diferenciado pela idade do passageiro e tempo de uso do veículo. É um setor que já usa o chip de forma mais inteligente." Para ele, só com o tempo os bancos perceberão a necessidade de diferenciação do cartão por meio do chip.
Sobre os efeitos da crise no setor de cartões, Dib acha que serão limitados. "Os plásticos de débito devem manter taxas elevadas de crescimento, na casa dos 20%, apenas a emissão dos cartões de crédito é que deve cair por conta da maior cautela dos bancos."
Veículo: Gazeta Mercantil