Juro cai, apesar da alta da inadimplência

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O aumento da inadimplência e da percepção de risco, em março, não impediu os bancos de cortarem juros e spreads, que são as diferenças entre o que as instituições financeiras pagam para captar recursos e o que cobram dos tomadores de crédito. Relatório divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostrou que, em março, a inadimplência, consideradas as operações de crédito referenciais para taxas de juros, subiu 0,2 ponto percentual, pelo quarto mês consecutivo, de 4,8%, em fevereiro, para 5%, a maior desde novembro de 2006 (5,1%). A média da taxa de juros geral cobrada de pessoas jurídicas e físicas foi de 39,2%, menor que os 41,3% de fevereiro. Os spreads também reduziram-se de 29,7 pontos percentuais (pp) para 28,5 pp no período.

 

Com relação à percepção de risco, as provisões das instituições financeiras aumentaram R$ 3,37 bilhões em março, chegando a R$ 82,85 bilhões. No mês, o crescimento foi de 4,2%. Em 12 meses, o salto foi de 54,4%.

 

O detalhamento das informações de março revelou que, nas operações de crédito referenciais para taxas de juros, a inadimplência das pessoas jurídicas passou de 2,3% (fevereiro) para 2,6%. Esse é o maior nível desde abril de 2007, quando chegou a 2,7%. No lado das pessoas físicas, março teve pequena redução da inadimplência, de 8,4% para 8,3%, considerada "estável" pelo BC.

 

Nas empresas ocorreram dois crescimentos da inadimplência. Na conta garantida, espécie de cheque especial, ela subiu de 3,4% para 3,9%, nível mais alto da série. No desconto de duplicatas, passou de 6,9% para 7%, também o maior ponto da série histórica. No caso da conta garantida, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirmou que há uma correlação com os aumentos, em março, de 2,5% na taxa de juros e de 3,6 pp no spread.

 

Lopes também comentou que março mostrou quadro de redução "expressiva" de juros e spreads. "Eles elevaram-se bastante depois da crise, mas, agora, há um ajuste mais fino. Estamos quase no nível pré-crise", avaliou. O relatório revelou que, com relação às empresas, os juros médios eram de 28,3% em setembro e foram de 28,9% em março, menores que os 30,9% de fevereiro. Para as pessoas físicas, foram de 53,1% em setembro e caíram para 50,1% no mês passado, abaixo dos 52,6% do mês anterior.

 

Nos spreads, a situação é diferente dos juros porque não foi retomado o nível pré-crise, apesar do corte que houve em relação a fevereiro. Em setembro, a média para empresas era de 14,7 pp e março registrou 18 pp, menores que os 19 de fevereiro. Para pessoas físicas, setembro de 2008 teve 38,6 pp, mas o mês passado ficou com 39,7, abaixo dos 41,4 do mês anterior.

 

No cheque especial para pessoas físicas, o BC informou que as taxas de juros aumentaram de 166,7% ao ano (fevereiro) para 169,1% em março. No mês, o crescimento foi de 2,4 pp. Em 12 meses, o salto foi de 19,3 pontos. Os spreads seguiram o mesmo movimento, passando de 155,1 pp para 158,6 pp. Em março, a elevação foi de 3,5 pontos. Em 12 meses, 19,2 pontos. Lopes ponderou que, apesar da queda da inadimplência das pessoas físicas, os atrasos para os vencimentos entre 15 e 90 dias aumentaram de 5% para 5,4%, nível mais alto da série. "Não dá para dizer que justifica, mas pode ser um comportamento defensivo", disse.

 

Veículo: Valor Econômico


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