Dois pesos e duas medidas no varejo

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O desempenho do varejo nos Estados Unidos e Europa em 2009, reflete o difícil momento econômico pelo qual passa a economia desses mercados. Particularmente nos EUA, epicentro da crise econômica internacional, o varejo vive situação difícil e ainda sem perspectivas de melhora. As vendas em março foram 10,6% inferiores ao ano passado. Expurgando-se veículos, o número fica um pouco "melhor", queda de 3%.

 

Excetuando-se o segmento de beleza e cuidados pessoais, que cresceu 3,5%, todos os demais caíram, com destaque para veículos (-23,1%), bens duráveis (-11,5%), lojas de departamentos (-9,6%) e vestuário (-8,7%). A venda em lojas comparáveis dos principais varejistas, revela a extensão do problema: Abercrombie& Fitch -34%, American Eagle -16%, Gap -8%, Limited -9%, Dillard’s -19%, Macy’s -9,2%, Neiman Marcus -29,9%, Nordstrom -13,5%, Saks -23,6%, Target -6,3%. Poucos varejistas - principalmente operadores de descontos e farmácias - vêm alcançando desempenho positivo: Wal-Mart +0,6%, TJX +2%, Walgreen’s +1,5%, Sam’s Club +2,2%, Hot Topic +7,1%, além das chamadas "dollar stores".

 

Na Europa, o cenário também está negativo para o varejo. Enquanto a rede alemã de supermercados de descontos ,Aldi, vem apresentando desempenho positivo com vendas crescendo na casa dos dois dígitos, o Carrefour teve a primeira queda de vendas trimestral dos últimos seis anos no 1º trimestre de 2009.

 

No Brasil, a economia vem sofrendo reflexos do cenário global, porém com impacto menor. Projeções para o PIB deste ano mudam diariamente, porém há possibilidade de crescimento. O varejo vem mantendo desempenho positivo. Os dados oficiais do IBGE, referentes a fevereiro, apontaram crescimento real de 3,8% sobre o ano passado; em janeiro o crescimento havia sido de 6%. Destaques positivos do bimestre foram supermercados (+6,1%), informática e comunicação (+13,3%), enquanto apresentaram desempenho negativo material de construção (-12,6%) e vestuário (-5,7%).

 

O varejo brasileiro viveu anos excepcionais em 2007 e 2008, com crescimento real de 9,7% e 9,8%. Todos os segmentos e regiões cresceram. Já em 2009, a desaceleração deve levar a comportamento setorial e regional heterogêneos. No todo, o varejo deve crescer e pode alcançar patamares entre 3 e 4 %, dependendo do comportamento de emprego, renda, massa salarial e crédito. Alguns segmentos podem ter desempenho negativo, compensado por outros com expansão.

 

As vendas em lojas comparáveis do Grupo Pão de Açúcar no 1º trimestre aumentaram 7,9% sobre 2008. A venda de veículos, aquecida pela redução de impostos, aumentou 18% em volume em março sobre o mesmo mês do ano passado. O grupo Multiplan, um dos principais do setor de shopping centers, teve aumento de venda em área comparável de 8,5% no primeiro trimestre de 2009 sobre 2008.

 

Os planos de investimento para 2009, publicamente anunciados por alguns dos mais importantes varejistas do Brasil, revelam a confiança depositada na capacidade de superação e crescimento da economia e consumo nacionais. Wal-Mart vai investir R$ 1,5 bi e abrir entre 80 e 90 lojas; Grupo Pão de Açúcar e Carrefour investirão R$ 1 bilhão cada para abrir 100 e 70 lojas, respectivamente; Renner vai abrir 8 lojas, Riachuelo 7, Marisa 9, C&A 10, Droga Raia 20 e Pague Menos 27 lojas.

 

O momento atual inspira cautela e conservadorismo. As empresas de varejo estão controlando despesas, enrijecendo políticas de crédito, revisando planos de investimento e priorizando geração de caixa. Entretanto, ao se analisar o momento e as perspectivas do consumo e varejo no Brasil, é preciso balancear o impacto de eventual deterioração no cenário global com a real possibilidade de recuperação da atividade econômica local, com conseqüentes oportunidades para o varejo. Empresas em situação favorável de liquidez vêm dosando expectativas e avançando consistentemente.(Alberto Serrentino)

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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