O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, ao chegar a Buenos Aires para uma visita oficial, que as medidas protecionistas levantadas pela Argentina aos produtos exportados pelo Brasil não o preocupam, mas espera convencer os vizinhos de que o protecionismo é negativo. "Essas medidas não me preocupam porque nesse momento o que estamos vendo é vários países, que sempre foram contra (a adoção de medidas protecionistas), adotar (estas medidas) e as pessoas entendem com certa normalidade por conta da crise", afirmou o presidente em entrevista à imprensa no hall de entrada do hotel onde se hospedou.
Lula disse que o Brasil defende a tese de que "quanto mais protecionismo, menos chances temos de resolver o problema da crise", mas admite que "ninguém é obrigado a pensar como o Brasil". Segundo ele, "o que precisamos é um processo de convencimento para fazer as pessoas entenderem que precisam continuar com muita liberdade de comercio, porque é a única chance que temos (de enfrentar a crise)".
Lula se reúne com a presidente argentina hoje pela sexta vez em apenas 30 dias - eles se encontraram no Qatar, em Londres, Viña del Mar (Chile), São Paulo e Trinidad Tobago, em diversas reuniões de cúpula presidenciais. Neste encontro, o presidente veio acompanhado do assessor especial da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e dos ministros das Comunicações, Helio Costa, da Defesa, Nelson Jobim, das Relações Exteriores, Celso Amorim, das Minas e Energia, Edison Lobão, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
O ministro Lobão disse que o Brasil vai garantir à Argentina todo o suprimento de energia elétrica necessária para que o país atravesse o inverno "confortavelmente". Segundo ele, a Argentina poderá importar em 2009 os mesmos 1.500 megawatts importados em 2008, que é o máximo de capacidade permitida pelas linhas de transmissão.
Segundo diplomatas brasileiros que estavam ontem na embaixada em Buenos Aires na missão precursora, a reunião entre os dois presidentes têm pauta aberta, ou seja, não há nenhum tema previamente definido. É provável, disseram, que Lula e Cristina discutam sobre o comércio internacional, a situação regional e a relação da América Latina com os Estados Unidos, já que vêm de duas reuniões onde o tema foi debatido recentemente - a do G-20 em Londres e a cúpula das Américas em Trinidad Tobago.
Os diplomatas frisaram que os presidentes não vão discutir as barreiras comerciais levantadas pela Argentina contra produtos brasileiros e que, segundo dados da consultoria Abeceb.com já atingem 14,2% da pauta de exportações do Brasil para a Argentina. Paralelamente ao encontro presidencial, será realizada a terceira reunião do Mecanismo de Integração e Coordenação Brasil-Argentina (MICBA), um grupo de trabalho com funcionários de vários ministérios dedicados a fazer sair do papel os projetos prioritários definidos pelos presidentes.
Da lista de projetos, os mais avançados são o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), que já está operando, a cooperação aeronáutica e entre os bancos estatais BNDES e Banco de La Nación. O SML serve para eliminar o dólar das transações comerciais entre os dois países. Está operando desde outubro, mas até agora atingiu uma participação mínima no comércio total, apenas 0,12%.
A cooperação aeronáutica é uma tentativa de tornar a Área Material Córdoba, um complexo aeronáutico do governo argentino, em parceiro estratégico da Embraer. Depende da aquisição de aviões Embraer pela Aerolíneas Argentinas, operação que está prestes a ser concretizada com recursos do BNDES. O acordo do banco de fomento brasileiro com o Banco de La Nación é mais amplo e, além de financiar a compra das aeronaves, deve liberar recursos para o financiamento à importação de outros produtos de interesse bilateral.
Veículo: Valor Econômico