Um estudo feito pelo Banco Central mostra que as expectativas de inflação também têm um alto grau de persistência - ou seja, quando sobem, demoram bastante para cair. Essa pesquisa ajuda a entender porque as expectativas de inflação para 2009 se mantiveram elevadas a despeito da forte retração da economia. Já se sabia que a própria inflação é bastante persistente. Ou seja, se a inflação aumenta num ano, ela também será alta no ano seguinte, em virtude de mecanismos de indexação e da forte memória inflacionária no país.
O que o estudo do BC mostra de novo é que, se no mês passado os analistas econômicos estavam pessimistas sobre o futuro da inflação, são grandes as chances de estarem pessimistas também neste mês. O trabalho investiga os determinantes das expectativas de inflação para o período de 12 meses seguintes. Matematicamente, os cálculos revelam que se num dado mês a expectativa de inflação tiver subido 1%, no mês seguinte será maior em percentual em torno de 0,7%. O estudo faz parte do relatório de inflação de março.
As expectativas de inflação demoraram a reagir à retração econômica provocada pela crise financeira atual. No dia da quebra do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, marco do contágio do Brasil pela crise, os analistas projetavam uma inflação de 4,94% para 2009, acima do centro da meta de inflação fixada para o ano (4,5%), e uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,6%. Nas semanas seguintes, as expectativas seguiram piorando, até atingirem um pico de 5,3% no início de novembro, embora, no mesmo período, os analistas tenham reduzido a 3% suas projeções para o PIB. Foi só em meados de março, quando a projeção para o crescimento da economia já estava em 0,5%, que as expectativas de inflação caíram abaixo do centro da meta. Hoje, o mercado espera retração de 0,5% do PIB em 2009 e uma inflação de 4,23%.
Uma das explicações do BC para a rigidez nas expectativas são os custos de reputação que os analistas econômicos incorrem se mudam muito de ideia sobre a evolução da inflação.
No mesmo estudo, está demonstrado que os analistas demoram para mudar suas projeções de inflação para períodos mais longos, mas são mais rápidos para rever opiniões para a inflação de curto prazo. Ou seja, a inflação esperada para o próximo mês é menos rígida do que a expectativa para o ano. Uma explicação é que, normalmente, as projeções de inflação de curto prazo são feitas com base na coleta de dados mais imediatos, como o desempenho da safra, os reajustes de mensalidades escolares e aumentos da gasolina.
A inflação corrente também tem influência na formação das expectativas de longo prazo (12 meses adiante), mas seu peso é relativamente pequeno. Se, por exemplo, a inflação sobe 1%, as expectativas de inflação aumentam apenas 0,15%. Assim, de acordo com o estudo do BC, apenas uma fração dos soluços da taxa de inflação corrente é incorporada nas expectativas.
A meta de inflação tem um peso mais importante na formação das expectativas do que a inflação corrente. Se, por exemplo, a meta for reduzida em 1%, a expectativa cai em 0,2%. Esse é um sinal, na visão do BC, da credibilidade da política monetária. Quanto mais crível, mais os analistas econômicos usam a meta de inflação como o seu cenário mais provável para a inflação.
O estudo do BC mostra ainda que a taxa de juros tem um papel importante para controlar as expectativas de inflação. Uma alta de juros de 1% provoca uma redução de 0,07% na expectativa de inflação. Na literatura econômica, as expectativas são um dos canais pelos quais se propaga a política monetária. Quando o BC tem credibilidade, a alta de juros faz com que os agentes econômicos revejam suas expectativas de inflação, o que contribui para que a inflação caia com um aperto monetário menor.
O câmbio também afeta as expectativas de inflação. Uma alta de 10% na cotação do dólar provoca um incremento de 0,07% nas inflação projetada pelos analistas econômicos.
Veículo: Valor Econômico